O ano de 2017 foi marcado por uma explosão na mídia de casos de assédio sexual em Hollywood. A partir de redes sociais, campanhas globais que utilizaram a hashtag #metoo, que no Brasil foi traduzida como #eutambém, possibilitaram que mulheres de todo mundo expusessem depoimentos de casos de assédio sexual que sofreram. No entanto, longe dos holofotes da grande mídia e das redes sociais, ocorre uma violência invisível, que se manifesta de forma silenciosa contra as mulheres que
residem no campo, principalmente em áreas rurais remotas.

As principais pesquisas sobre o tema violência contra as mulheres não incluem o meio rural. Nesses locais, a violência se manifesta em torno de mulheres anônimas e/ou líderes comunitárias, como foi o recente caso de tentativa de homicídio de Francisca Nascimento, coordenadora geral do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que entrou em conflito com o intuito de garantir acesso a água para vinte comunidades.

Com o objetivo de suprir essa lacuna na literatura, a pesquisadora Beatriz Kipnis dedicou-se a pesquisar a temática ao longo de dois anos. Os resultados foram apresentados na dissertação de mestrado intitulada “Violência contra as mulheres em áreas rurais”, do curso de Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas (acesso via link).

A dissertação aborda o assunto por meio de três dimensões teóricas que impactam a violência contra as mulheres pertencentes a áreas rurais: isolamento, família e comunidade. Ao longo do trabalho, essas dimensões foram aprofundadas para compreensão dos diferentes fatores associados à dificuldade de mulheres rurais saírem de situações de violência. Para isso, a autora utilizou documentos internacionais, dados secundários (tais como PNAD/IBGE e Disque-180) e um estudo de caso entrevistando mulheres que sofreram violência em territórios rurais do estado de Pernambuco.

Entre os diversos achados da pesquisa, destacam-se aqui os resultados da revisão da literatura. Na dimensão do isolamento, foram apontados o geográfico e o social: o primeiro dificultaria o acesso a serviços de atendimento, apoio e proteção, e, no social, os laços são construídos a partir do casamento.

Também foram apontados fatores relacionados à família e a valores patriarcais no campo. A revisão da literatura aponta para um patriarcalismo mais exacerbado em áreas rurais do que em áreas urbanas, que seria resquício da tradição, mas há também quem defenda que o patriarcalismo em áreas rurais está tomando novas formas relacionadas à reação dos homens às transformações no campo que promoveram mudanças para as mulheres no que diz respeito à inserção no mercado de trabalho e formas de se relacionar. Por fim, também foi apontado o interconhecimento dentro das comunidades, que seria mais exacerbado em áreas rurais, o que pode levar as mulheres a não ter confiança para relatar as agressões sofridas a pessoas dentro da mesma rede social.

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