Os trabalhos da tenda Marco Aurélio Garcia tiveram início na manhã de hoje, com grande presença de público e intenso debate sobre o Brasil que o povo negro quer. Renato Simões e Isabel dos Anjos, na saudação inicial representando a Fundação Perseu Abramo, afirmaram que o debate racial tem tanta importância que foi escolhido como tema para iniciar as atividades em Salvador.

Quarta feira é o dia de reverenciar os orixás Iansã e Xangô. Assim começou a saudação do secretário estadual de combate ao racismo do PT da Bahia, Raimundo Nascimento, lembrando os espaços construídos no Fórum Social Mundial são “importantes para debater, refletir e fazer o enfrentamento mais forte em relação ao momento que vivemos no mundo”.

Nascimento, afirmando que as ancestralidades do povo negro ensinam e guiam as ações de agora, lembrou que a centralidade do golpe ocorrido no país foi atacar as conquistas que o povo negro alcançou e por isso fundamental que negros e negras sejam protagonistas discutir do futuro programa de governo que surgirá com as propostas a partir da plataforma Brasil Que o Povo Quer.

Na mesa, além de Martvs das Chagas, secretário nacional de Combate ao Racismo do PT, Fabya Reis, Maria Júlia Nogueira, Flávio Renegado e Kabengele Munanga.

Maria Júlia Nogueira é a secretária nacional de combate ao racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e rememorou que há 130 anos o país teve uma abolição não acabada. Sobre a conjuntura atual, Júlia explicou que “Lula e Dilma são atacados pelos acertos de seus governos. 54% da população brasileira é negra, mas quando se trata de distribuição da riqueza, somos a minoria”. Ela defendeu a formação como caminho para vencer o racismo, lembrando que as escolas seguem reproduzindo o racismo e apesar de hoje haver mais negros nas universidades, ainda assim acontecem várias denúncias de racismo, como o ocorrido recentemente na Fundação Getúlio Vargas.

A secretária de estado da Promoção da Igualdade Racial do governo da Bahia, Fabya Reis, apresentou as ações das últimas gestões petistas no estado, que hoje é onde há maior número de comunidades quilombolas regulamentadas. A Bahia produziu e aprovou o Estatuto da Igualdade Racial, tem política pública de fomento ao empreendedorismo de negros e negras além de políticas específicas para mulheres negras.

Fabya denunciou o “racismo à brasileira, que segundo ela precisa ser combatido todos os dias, reafirmou que o genocídio da juventude negra precisa de respostas urgentes, além de implementar e avançar nas redes estaduais na implementação da lei que obriga o ensino de história da África.

Para o rapper de Belo Horizonte, Flávio Renegado, enquanto discutimos a “juventude está morrendo”. Ele acredita que é preciso estar nas comunidades, convencer mais gente para vivermos novos protagonismos que devolvam a dignidade ao povo negro.

Professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Kabengele Munanga, fez sua fala relatando o momento difícil que o país vive: “qual o Brasil deixamos para o futuro? Uma país que supere o passado escravista, que não morreu. Um Brasil que erradique as práticas racistas. Mas esse país não cairá do céu, resultará de ações focadas e não mentiras demagógicas”.

O professor explicitou novamente que a raça é um obstáculo à mobilidade social e que a resistência às cotas ainda fazem com que jovens negros e indígenas não consigam acessar às universidades e ambientes acadêmicos. Ele finalizou que a “mudança não será feita com retórica, resistir e reagir é possível. Somente um governo com anseio popular ouvirá o clamor do povo negro. Não existe receita pronta, a saída está na organização e resistência”.

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