A eleição italiana ocorrida no dia 4 de março favoreceu a direita com 37% dos votos para a coligação composta pelo Força Itália (FI) de Silvio Berlusconi, a Liga (LI), antiga Liga Norte, de Matteo Salvini, e dois outros partidos menores e 32,7% para o Movimento Cinco Estrelas (M5S), fundado pelo comediante Beppe Grillo e agora presidido por Luigi Di Maio, a maior votação de um partido individualmente. A coligação de centro esquerda liderada por Matteo Renzi, do Partido Democrático, e composta por cinco partidos, obteve 22,9% e ele renunciou à presidência de seu partido por esta razão. O último colocado, mas que superou a cláusula de barreira de 1%, foi a coligação “Poder para o Povo” composta pelo Refundação Comunista, Partido Comunista e outras quatro agremiações menores com 1,13% dos votos, mas não é ainda certeza que a “sobra” eleitoral lhe permita ocupar alguma cadeira no Parlamento.

Os temas que permearam o debate eleitoral foi a imigração e a relação da Itália com a União Europeia. A postura dos três mais votados foi a de tratar a imigração como um problema e com propostas de excluir os imigrantes do país. O que os diferenciou nesse tema foi a forma de fazê-lo. Enquanto a coalizão FI e LI simplesmente propõe a deportação sumária de seiscentos mil imigrantes, o M5S e o PD defendem que os imigrantes devem ser distribuídos a outros países, europeus ou não, e o PD ainda propõe suspender a ajuda italiana e da União Europeia aos países que se recusarem a recebê-los.

Embora vários partidos defendam a permanência da Itália na União Europeia e/ou algumas reformas nesta última, a Liga e o M5S fizeram ostensiva campanha anti-União Europeia e anti-Euro, embora Matteo Salvini tenha dito que, caso assuma o governo, não pretende convocar um plebiscito para definir sobre a permanência do país ou não, na UE, a exemplo do que fez a Inglaterra vencendo o Brexit. Entretanto, a soma dos votos destes dois partidos críticos à integração europeia e de alguns outros menores da extrema-direita superou 50% dos votantes demonstrando a decepção do povo italiano com o processo integracionista quando a Itália foi um dos países fundadores, na década de 1950.

No total, 25 partidos concorreram nesta eleição, quinze deles distribuídos nas três coligações mencionadas e dez concorrendo individualmente. Porém, nenhum obteve o mínimo de 40% exigido por lei para formar o governo, o que levantou grande especulação sobre possíveis coalizões e a quem o presidente da Itália vai convidar para tentar formar o governo. O acordo político interno na coligação da direita é conceder a preferência para se tornar chefe de governo ao líder do partido mais votado, neste caso, Matteo Salvini, da Liga, que teria que conversar com o M5S e/ou o PD para consegui-lo. O M5S, por sua vez, afirmou durante a campanha eleitoral que não comporia com ninguém e tanto o PD quanto a direita também afirmaram que não comporiam com os “extremistas” do M5S. A ver.

Independentemente deste impasse, que poderá levar a novas eleições que pouco mudarão o quadro atual, o resultado eleitoral é reflexo de duas questões que estão em pauta atualmente no velho continente. A primeira delas é a ascensão de forças fascistas alimentadas pelo discurso anti-imigração. Antes da eleição italiana, outros partidos de extrema-direita na Europa ganharam votos expressivos em eleições de seus respectivos países, como foi o caso do Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen na França e o Alternativa para a Alemanha (AfD).

A segunda questão diz respeito ao ceticismo em relação à União Europeia que tomou fôlego com o Brexit e o protecionismo da atualidade. A Itália foi um dos países que sofreu muito com a crise de 2008/2009 na Zona do Euro e, inclusive, configurou um dos chamados PIIGS que, além dos italianos, incluía Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, particularmente endividados. O receituário neoliberal pregado pela União Europeia para que estes países se recuperem não está sendo bem aceito pela população por um simples motivo: não funciona. O desemprego na península italiana está na casa dos dois dígitos, particularmente entre os jovens, e a economia continua patinando com o PIB crescendo em torno de 1%.

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