Filme nacional “Antes do Fim” parte da morte para celebrar a vida
O filme “Antes do fim”, do cineasta brasileiro Cristiano Burlan estreou na Mostra de Cinema de São Paulo de 2017 e entrou em cartaz, em São Paulo, este mês. Trabalhando com temas sensíveis como o envelhecimento e a morte, questiona de maneira filosófica e poética o sentido da vida, as consequências da longevidade, a qualidade de vida, o corpo e os interesses da indústria farmacêutica. O filme aborda o lugar do idoso na sociedade e traz a discussão do suicídio como um direito.
Os atores Jean-Claude Bernardet e Helena Ignez emprestam seus nomes para os personagens ou interpretam suas próprias vidas. Jean e Helena são um casal de artistas, ela atriz, ele bailarino, juntos há 58 anos. As vésperas de seu aniversário de oitenta anos, Jean decide que deseja optar pelo momento de sua morte. Recusa a doença, a decrepitude, a dependência do outro e deseja morrer ainda na plenitude. “Tenho medo das doenças. Quero acabar bem”, diz. Opta pelo suicídio consciente, sem tragédia ou fatalidade, mas como uma escolha. Assim como as escolhas feitas na vida, defende o direito a escolha pela própria morte.
Ela o compreende, mas encara o processo de maneira diferente. Rejeita a ideia para si e deseja aproveitar toda sua energia vital até o último momento, mas decide acompanhá-lo no processo e juntos vivem a etapa final de suas vidas, redescobrindo prazeres, alegrias, desejos, diversão, sonhos que ficaram para trás.
O filme, em preto e branco, traz como cenário a cidade de São Paulo e seus ícones, como o Edifício Copam, o Cemitério da Consolação, a Praça Roosevelt e seus arredores, em tomadas quase sempre noturnas. Os longos silêncios, que revelam o amor e a cumplicidade do casal, são intercalados com diálogos de profunda reflexão sobre a vida, o tempo e o fim.
O filme é sensível e difícil, não só pelo tema, mas pela sutileza como o aborda. Remete ao Teatro Butô japonês, combinando música, dança poesia, jogos de luz e sombra como complemento ao exercício da dramaticidade. Faz referências diretas ao ator desse gênero, Kazuo Ohno, que viveu 103 anos e em seu trabalho também refletia sobre a morte. É um belo filme que exige atenção e envolvimento do espectador.
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