Reunidos na cidade de Assunção (Paraguai) desde o dia 19 de fevereiro, os negociadores da União Europeia e do Mercosul têm anunciado que pretendem fechar no próximo mês de março o tratado de livre comércio que os dois blocos ensaiam há cerca de vinte anos. Apesar das manifestações diplomáticas um tanto otimistas, persistem impasses nada triviais a respeito de alguns pontos críticos do futuro tratado e crescem as divergências entre os representantes dos governos e dos setores produtivos dos respectivos países.

Por um lado, os europeus continuam se negando a reduzir os subsídios que concedem a sua produção agropecuária e a ampliar as cotas de importação para esse tipo de bens oriundos dos países do Mercosul. Por outro lado, os representantes das nações latino-americanas querem garantias especiais para preservar os seus poucos e frágeis segmentos da manufatura.

Preocupados com os rumos das negociações e diante da conduta ambígua dos governos dos países sul-americanos, as centrais industriais dos quatro países que compõem o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) publicaram na semana passada uma declaração conjunta na qual denunciam a falta de transparência das negociações, o caráter assimétrico do tratado pretendido e o risco de reprimarização de nossas economias.

Para evitar o pior, demandam a introdução de uma “cláusula de desenvolvimento industrial” que permitiria à região em desvantagem proteger seus setores industriais nascentes ou aqueles que sejam considerados estratégicos para o desenvolvimento tecnológico do país. Além disso, entre outras coisas, o documento dos industriais também cobra a manutenção de cláusulas de tratamento especial no caso de mercados sujeitos às políticas de compras públicas e a dilatação dos períodos de transição para determinadas cestas de bens.

Assim, considerando que a União Europeia foi o maior parceiro comercial do Mercosul em 2017 (exportações de 44 bilhões de dólares e importações de 42 bilhões de dólares) e que os impasses que ainda permanecem nas mesas de negociações dizem respeito a temas fundamentais para a dinâmica econômica de cada bloco, não será surpresa, nem tampouco ruim, se a assinatura do tratado for empurrada ainda mais para frente. Com governos francamente neoliberais no Paraguai, Argentina e Brasil, seria grande o risco de destruirmos o pouco que resta de produção industrial no Cone Sul da América Latina.

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