Trinta anos depois de a Unidos de Vila Isabel e a Estação Primeira de Mangueira terem sido campeã e vice, respectivamente, com os enredos “Kizomba, Festa da Raça” e “100 Anos de Liberdade, Realidade ou Ilusão?”, em plena democratização do país, a escola de samba de São Cristovão poderá ter entrado para a história da Marquês de Sapucaí em meio ao golpe.

Quarta agremiação a se apresentar no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, a Paraíso do Tuiuti apresentou o enredo “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?”, assinado pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Contou na avenida a história da escravidão brasileira, formalmente proibida com a promulgação da Lei Áurea em 1888, mas ainda existente 130 anos depois. Em 2015, o Ministério do Trabalho denunciou mais de 420 empregadores que se utilizavam de trabalho escravo, e mais de mil trabalhadores foram resgatados dessa condição.

O enredo retratou a violência da escravidão, a comissão de frente coreografada por Patrick Carvalho trouxe escravos acorrentados e amordaçados. Ao longo do desfile, a escola abordou os movimentos quilombolas, além da marginalização de negros e negras após a abolição.

Em seu último setor, a escola trouxe críticas ao impeachment de Dilma Rousseff, com manifestantes manipulados como fantoches vestidos de pato amarelo, símbolo da campanha da Fiesp pelo golpe, fantasias críticas à reforma trabalhista, além de um destaque no último carro vestido de vampiro presidente, sob a alcunha de “Vampiro Neoliberalista”.

Em desfile histórico, Paraíso do Tuiuti critica a escravidão e o golpe

Em desfile histórico, Paraíso do Tuiuti critica a escravidão e o golpe

Créditos: Mídia Ninja

O samba-enredo, considerado um dos melhores da safra, foi composto por Cláudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé, Aníbal e Jurandir, e interpretado na avenida por Celsinho Mody, Grazzi Brasil e Nino do Milênio, contando com a condução da bateria Super Som, do Mestre Ricardinho, e uma entusiasmada arquibancada. A composição traz versos como “Eu fui mandiga, cambinda, haussá/Fui um Rei Egbá preso na corrente/Sofri nos braços de um capataz/Morri nos canaviais onde se plantava gente” e o poderoso refrão “Não sou escravo de nenhum senhor/Meu Paraíso é meu bastião/Meu Tuiuti o quilombo da favela/É sentinela da libertação”.

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