O documentário No intenso agora é um conto político-pessoal do cineasta João Moreira Salles (de Entreatos e Santiago), que trata da intensidade de momentos diferentes da história, todos na segunda metade dos anos 60, misturando a trajetória pessoal e a visão política do autor em uma narrativa envolvente e desafiadora.

João é um bom filho da elite brasileira. “Bom” porque não repele suas origens e ainda tenta contar a sua história a partir desse ponto de vista. As contradições dessa narrativa psiquicossocial aparecem da primeira à última frase no documentário, narrado em primeira pessoa pelo próprio cineasta, que escreveu o roteiro e dirigiu o filme.

A partir de um cruzamento entre o maio de 68 na França, as filmagens da mãe na China pós-revolução cultural, cenas da Tchecoslováquia na mesma época e até de cenas do Rio de Janeiro, a obra entrega uma proposta de reflexão por tantos caminhos que apenas o expectador é capaz de decidir qual é de fato a sua impressão principal.

Ninguém passa impune ao encontrar as contradições da resistência. E é impossível não tentar encontrar os momentos da história com as nossas atualidades, tão duras quanto complexas. A frase “Sous les paves, la plage” (debaixo dos paralelepípedos, a praia) pode soar como o alento da alegria das revoluções autênticas ou como ponto de partida de uma reflexão que nos traz todas as maiores exclusões que repetimos todos os dias das nossas vidas.

A língua portuguesa, em uma de suas tramas, coloca as palavras solidão e solidariedade em radicais parecidos. Isso significa dizer que da alteridade à ausência de esperança do suicídio, todos e todas carregamos em nós um grau de humanidade capaz de nos tirar o medo ou de nos levar à tragédia definitiva.

Quando se vive um sonho, a matéria é circunstancial. Capaz de nos questionar nos valores, nas necessidades e até mesmo nas nossas próprias maneiras individuais de viver. Da revolução coletiva à morte unilateral, podemos viver dores e alegrias da mesma forma. É dessa igualdade que se esquecem os materialistas puros. É nessa igualdade que choramos e sorrimos.

Uma forma de enxergar a história desse filme é a tentativa da compreensão social do autor. Uma forma de buscar a dimensão humana do documentário é entender que, de todas as compreensões possíveis, sempre nos resta o relativo, que nunca é só político, porque política nenhuma é total.
Ficha técnica:
Filme: No Intenso Agora (2017)
Direção: João Moreira Salles
Elenco: atores desconhecidos
Gênero Documentário
Nacionalidade Brasil

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