O que deu no Cesinha?, por Gilberto Maringoni
Caras e caros:
O jornalista Duarte Pereira, ex-dirigente da Ação Popular, a quem admiro pela retidão de princípios, enviou a algumas pessoas o texto de César Benjamin, “Os filhos do Brasil”, acompanhado de um comentário crítico.
Envio a vocês, abaixo, minha resposta ao Duarte.
Abraços,
Gilberto Maringoni
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Caro Duarte:
Você sabe do respeito imenso que tenho por você, por seu discernimento político e por sua história.
Por isso quero falar-lhe como amigo e companheiro.
Não acho correto darmos credibilidade ao Cesar Benjamin neste episódio.
Ele tem também um passado de lutas e uma capacidade de elaboração respeitável.
Mas há tempos, Cesar resolveu buscar um espaço em voo solo, descolando-se de qualquer ação coletiva.
Não sei exatamente o que se passa. Não sei se é uma vaidade imensa, não sei se é alguma questão política, ou se um modo de se fazer política com o fígado.
Uma denúncia como a que ele faz não é uma denúncia pessoal.
Só encontro paralelo recente no caso Miriam Cordeiro. Levanta-se um pecado íntimo para se atacar uma vertente política.
Por que a denúncia não foi feita antes?
Por que a denúncia foi feita na Folha?
Por que ela é feita quando o governo tem uma atitude digna na questão hondurenha?
Por que ela é feita quando Lula recebe um inimigo figadal de Israel?
Por que ela é feita quando há um afrouxamento mínimo na política monetária?
Por que ela é feita quando se travam as privatizações dos aeroportos?
Por que ela é feita quando a direita faz uma ofensiva de conjunto na América Latina?
Por que a Folha abriu uma página inteira a ela?
Por que ele faz isso na boca de uma campanha eleitoral?
Por que ele faz isso quando o candidato da direita – José Serra – começa a cair nas pesquisas?
O caso me evoca outra lembrança triste.
No início dos anos 1970, alguns militantes da esquerda revolucionária, muito jovens, não aguentando as torturas a que foram submetidos na prisão, foram para a TV.
Afirmavam estarem arrependidos da luta.
Anos atrás eu os classificava com o epíteto seco de ‘traidores’.
Hoje, pensando no fato de serem adolescentes, pondero meu tom.
Não fizeram um papel edificante.
Causaram prejuízos irreparáveis.
Mas eram meninos acuados.
O caso mais evidente foi o de Massafumi Yoshinagui, da VPR. Foi até capa de Veja, em 1971. Viveu atormentado com seu gesto, até se suicidar em 1976, aos 26 anos de idade.
Quase 40 anos depois, Cesinha – que não é mais um menino – vai para as páginas e holofotes da grande mídia, fazer o que as classes dominantes querem.
Recebi notícias que blogs da direita estão difundindo o texto.
Conheço o Cesinha há cerca de 25 anos.
Sinto que nós o perdemos irremediavelmente.
Fico envergonhado com o papel que ele está desempenhando.
Seu passado não merece isso.
Mas a História irá julgá-lo.
Por ora fica na ponta da minha língua o adjetivo que usei contra os que foram à televisão naqueles anos.
E não encontro atenuantes para César Benjamin.
Faço votos que ele se dê bem no outro lado.
Abraços,
Maringoni