O melhor da Confecom SP foi a construção democrática
Construir um processo a muitas mãos é sempre mais difícil e arriscado, mas é um desafio que precisa ser corajosamente enfrentado por todos os setores da sociedade brasileira. Até porque a cultura autoritária não é propriedade exclusiva da direita política. É algo que se manifesta de maneira muito forte nos que se identificam com propostas progressistas no espectro ideológico.
Construir um processo a muitas mãos é sempre mais difícil e arriscado, mas é um desafio que precisa ser corajosamente enfrentado por todos os setores da sociedade brasileira. Até porque a cultura autoritária não é propriedade exclusiva da direita política. É algo que se manifesta de maneira muito forte nos que se identificam com propostas progressistas no espectro ideológico.
Neste campo, por exemplo, ainda há muitos que defendem que a maioria pode (e deve) impor suas vontades. E que a minoria pode (e deve) ser desprezada. Trata-se de um pensamento absolutamente conservador e que despreza o melhor da lógica democrática, a valorização da diversidade de idéias e opiniões.
De alguma forma essa pratica política foi derrotada tanto no setor empresarial como na sociedade civil na Conferência da Comunicação em São Paulo. E pode se constituir num exemplo decisivo para a etapa nacional que vai acontecer em Brasília de 14 a 17 de dezembro.
No campo empresarial, um grupo de pessoas que está a frente de projetos progressistas de comunicação, como as revistas Fórum, Caros Amigos e Retratos do Brasil, além da Agência Carta Maior e da Associação dos Jornais do Interior (Adjori), entre outros, decidiu que não iria fazer sua atuação política para a Conferência da Comunicação no espaço reservado para a sociedade civil, mas sim para dentro do setor empresarial.
Até porque as empresas relacionadas a esses veículos por mais conexão que tenham com o debate e as propostas da sociedade civil brasileira (e elas têm) também vivem necessidades especiais que precisam ser debatidas como parte de uma nova dimensão do empreendedorismo no setor.
Este campo participou de toda a construção da etapa paulista em conjunto com a Telebrasil e a Abra e ao final do prazo das inscrições tinha 150 pessoas de um total de 400 que participariam pelo segmento empresarial da etapa paulista.
Ou seja, éramos uma minoria técnica, mas expressiva. E mesmo assim o campo das teles e da Abra cogitou desprezar esta nossa representação e não levar em consideração a proporcionalidade para a eleição de delegados. Depois de muito debate, construiu-se um acordo que derrotou esta tese. Nosso campo elegeu 20 dos 84 delegados do segmento empresarial de São Paulo e isso não será importante apenas porque teremos representação dos veículos de comunicação independentes e midialivristas na Confecom nacional, mas também porque servirrá como paradigma para um novo debate a respeito da necessidade de nos organizarmos.
Dentro da sociedade civil o processo também foi exemplar. Havia 84 vagas para titular e pelo menos 120 candidaturas – pelo que contei enquanto acompanhava as demandas que eram feitas de forma aberta no momento da eleição de delegados. Ao final, conseguiu se construir um consenso que acomodou todos os interessados e fez com que se conseguisse aprovar uma chapa única. Algo que outros estados, com demandas menores, infelizmente não conseguiram realizar em decorrência, principalmente, de um setor majoritário querer se tornar absoluto.
Além disso, é preciso destacar na operação política da etapa paulista da Confecom que ela não foi convocada pelo governo Serra que também não disponibilizou um centavo sequer para a sua organização. E mesmo assim conseguiu reunir aproximadamente 1 mil pessoas entre delegados e observadores durante três dias na Assembléia Legislativa, que foi a instituição que convocou a etapa paulista.
Pela Assembléia Legislativa quem coordenou o processo foi o deputado estadual Edmir Chedid (DEM). Mesmo com todos os atropelos é preciso registrar que sua conduta no processo foi decente e importante para que o evento ocorresse.
A Confecom São Paulo num dado momento parecia caminhar para um retumbante fracasso. E foi um sucesso. Fundamentalmente porque todos os setores envolvidos lutaram por suas idéias, mas souberam construir o diálogo. A democracia só ganha com isso. E tenho certeza de que só ter conseguido realizar essa engenharia política já foi uma vitória e tanto.
Publicado no blog do Rovai em 23/11/2009