No dia 4 de agosto de 1970, um dos anos mais violentos da ditadura militar no Brasil, o segundo-secretário da embaixada brasileira nos Países Baixos, Paulo Dionísio de Vasconcelos, foi encontrado morto no interior de seu carro na cidade de Haia, onde servia. A autópsia revelou como causa mortis um corte da veia carótida e a polícia holandesa concluiu pelo suicídio ao encontrar uma lâmina de gilete em meio à poça de sangue no piso do veículo.

Cinquenta anos depois, o jornalista Eumano Silva deparou com o caso quando prestou consultoria à Comissão Nacional da Verdade (CNV) e produziu o livro A morte do diplomata: um mistério arquivado pela ditadura, sobre o ocorrido e as circunstâncias que cercaram a morte do diplomata. Os fatos que levanta após minuciosa pesquisa não lhe permitem concluir algo diferente da versão oficial do suicídio, mas aponta várias falhas e omissões no inquérito, em particular a possibilidade de Paulo Dionísio ter sido chantageado, o que o governo brasileiro, por intermédio do Itamaraty, não teve interesse em investigar, por isso arquivou os dados.

Apesar de inconclusivo, o livro é rico em relembrar o ambiente opressivo da época e o triste papel do Itamaraty durante a ditadura ao espionar os exilados políticos, negar a ocorrência de torturas e assassinatos políticos no Brasil, entre os últimos, a morte do operário Olavo Hansen em São Paulo e a demissão de diplomatas em função de seus posicionamentos políticos, comportamentos ou orientação sexual. Os poetas Vinicius de Morais e João Cabral de Mello Neto foram vítimas desta sanha persecutória junto com quase duas dezenas de outros diplomatas e funcionários do Ministério de Relações Exteriores em 1968.

Livro:

A morte do diplomata: um mistério arquivado pela ditadura

Editora: Tema Editorial, 2017

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