Economista demitido do banco dos Brics denota perseguição golpista
O economista Paulo Nogueira Batista Jr. foi demitido da vice-presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como o Banco dos Brics, no dia 12 de outubro. Filho do já falecido diplomata Paulo Nogueira Batista, um dos expoentes da corrente soberanista do Itamaraty, assim como era seu pai é um crítico do neoliberalismo. Paulo sempre fez questão de afirmar que não possui filiação partidária, embora tenha colaborado com o Instituto Lula no início da década de 1990. Ele trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI) desde 2007 por indicação do ex-ministro Guido Mantega e foi indicado para o cargo no NBD pela ex-presidenta Dilma Rousseff em 2015.
Ele foi acusado de assédio moral contra outro funcionário brasileiro do banco por ter indicado sua demissão e de ter quebrado seu contrato profissional ao fazer comentários sobre a política interna brasileira quando criticou o impeachment e comentou a injusta condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro (leia aqui).
Paulo Nogueira Batista Jr. já havia sido afastado no começo do mês e a demissão foi confirmada após reunião de representantes de cada país, na qual estava, inclusive, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. A decisão foi unânime e demonstrou que a retirada de Nogueira do cargo era vista de forma positiva pelo governo brasileiro.
A sua demissão se junta à outra polêmica envolvendo a política externa, o afastamento do diplomata Julio Oliveira Silva do consulado de Nova Iorque após comentários criticando o governo golpista em sua coluna na revista Carta Capital. Em um dos seus textos, Silva escreveu sobre a visita de Temer à China e como esta foi pífia em comparação às visitas que eram feitas durante a presidência de Lula, expondo a fragilidade da inserção internacional brasileira atualmente (leia aqui).
Estes casos nos remetem a duas situações já vistas em outros governos neoliberais: a perseguição, no âmbito da política externa, de pessoas contrárias às medidas realizadas pelo governo, e o enfraquecimento de canais com outros países emergentes.
Em 2001, durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, Samuel Pinheiro Guimarães foi afastado do Itamaraty por suas posições contrárias à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), argumentando que esta seria prejudicial para o Brasil e para o avanço do Mercosul. Também durante os governos de FHC o Brasil teve seus laços políticos e estratégicos enfraquecidos com outros países em desenvolvimento e via, como principais parceiros, os Estados Unidos e a Europa, alinhando-se aos interesses destes.
Assim, a demissão de Paulo Nogueira Batista Jr. e o afastamento de Julio Oliveira Silva são algumas das artimanhas de um governo ilegítimo que, para tentar se segurar, não tolera opiniões contrárias, inclusive sobre seu péssimo projeto de política externa que está realocando o Brasil no quintal do mundo.