Início dos anos 1980. Sábado, final de tarde, entrei no cinema para assistir ao Caçador de Androides. Depois, dentro do ônibus, a chuva continuava e as janelas embaçadas turvavam a imagem da rua iluminada mais por luz de neon do que pela dos postes. A sensação era de que o filme continuava na Av. Copacabana. Adorei o espetáculo.

Vi e revi o filme. Li muito de Philip K. Dick, os que se transformaram em filmes, como Androides sonham com ovelhas elétricas?, até a recente produção da Amazon, a partir de O Homem do Castelo Alto, e os que ainda não, como Ubik.

Num ponto de ônibus vi a propaganda de Blade Runner – 2049. Li que a direção era de Denis Villeneuve. A Chegada, também de sua direção, é muito bom – baseado no conto de Ted Chiang, História da sua vida, outro monstro da ficção científica. Ridley Scott está envolvido na produção e isto podia ser uma boa notícia, pois acertou com o primeiro Blade Runner, apesar de ter errado em outros em sua longa carreira.

Não procurei nenhuma outra informação sobre o 2049 e fui ver. No caminho, comentei sobre as várias versões do filme de 1982 – que se passa em 2019 – e falei sobre um tema que ronda a ficção: o limite entre o que é humano e o que é robô, incluindo a reprodução.

Gostei da “continuação”. Melhor de tudo: é a mesma estética, o clima, o cheiro do primeiro.  De novo a lembrança da HQ de Moebius. As citações são variadas e bem colocadas. Semelhanças entre atrizes e personagens de ontem e de hoje. A música entrou muito bem. Sean Young aparece como Rachael morta, Rachael revivida e como outra! Harrison Ford como o detetive Deckard, 30 anos depois, valida tudo.

Agora, em 3D, fica mais impressionantemente real. 2049 está cheio de erros e imperfeições. Uma cicatriz em Ryan Gosling (o novo caçador) aparece no meio do filme e fica por um longo tempo, enquanto outras aparecem e somem. Uma sequência ou outra podia ser mais curta. Mas os defeitos não atrapalham o espetáculo, assim como não comprometeram nos anos 1980.

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