Quando Lula passou por Carnaúba dos Dantas (RN) foi emocionante ver a cidade inteira na porta das casas, saudando com alegria o ex-Presidente. Logo à frente, na próxima cidade, Acari (RN), a população fechou a rua para impedir a passagem do ônibus, de forma que a caravana parasse. Em Acari, uma foto que viralizou captura o momento no qual até a missa parou e os fiéis saíram correndo da igreja para ver Lula.

Cenas como essa, da população parando os ônibus da caravana, se repetiram Nordeste adentro e confirmam que Lula é mais que popular: é visto como um grande líder com o qual as pessoas se identificam, que sentem que as entende. Ele gera comoção por onde passa e as pessoas às vezes se descontrolam, puxando esse senhor de 71 anos pelo braço, pelos pés e até pelo pescoço. Enquanto nas capitais ainda vimos alguma oposição ao petista, no interior do Nordeste a figura e o legado de Lula vão além das informações da grande mídia, que não afeta a mística em torno do ex-Presidente.

Frequentes também são as pessoas que se referem a Lula como pai ou pai dos pobres, título antes dado a Getúlio Vargas. Após o ato em Mossoró (RN), uma senhora de 65 anos nos disse atrás do palco que tinha vindo ver “Papai Lula” e reclamou do corte do seu benefício do Bolsa Família, retirado pelo governo Temer. Faixas foram vistas também se referindo a Lula como pai dos pobres.

O interessante é que esse frenesi em torno da figura de Lula nasce das pessoas de forma não organizada, pela gratidão que sentem por ter feito chegar a elas direitos tão “comuns” para a classe média do Sudeste como ter água na torneira (transposição do São Francisco, Programa Cisternas), ter energia (Luz para Todos), ter renda para colocar comida na mesa (a geração de postos de trabalho foi recorde nos governos do PT, Programa Bolsa Família, acesso a benefícios previdenciários), entre outros. E esse legado foi retomado à exaustão durante a Caravana: o povo é grato a Lula por ter tido acesso a esses direitos, por sentir que a vida melhorou a partir dos governos do PT.

Lula, além de seu carisma e sua energia (que não são poucos, diga-se de passagem), lutou por cumprir o artigo 6º da Constituição Federal de 1988: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a Previdência Social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil expostos no artigo 6º de sua Constituição de 1988 só foram colocados em prática nos governos petistas. Agora, o projeto político que se opõe ao petista vai de encontro à Constituição, como por exemplo com a Emenda Constitucional 95 que institucionaliza a aplicação da austeridade fiscal no Brasil e fere de morte o acesso aos direitos sociais.

Assim, pelas características do Estado brasileiro, o que deveria ser obrigação dele e de qualquer governo, depende da atuação e da vontade política de quem ocupa as instituições. Lula, que colocou em prática um projeto político de ampliação de direitos e de acesso a eles, simboliza a melhora de vida por características inerentes à sua pessoa e pelas transformações vividas durante seu governo.

Apesar de toda a perseguição política, jurídica e midiática sofrida nos últimos anos, a caravana Lula pelo Brasil revigorou a vontade de lutar pelo projeto político que Lula e o Partido dos Trabalhadores constroem há décadas e possivelmente se constituirá, assim como as Caravanas da Cidadania na década de 1990, como um marco na história da política brasileira. Antes, Lula e o PT conheceram o povo pobre e a realidade do Nordeste à época. Mais de vinte anos depois, o Nordeste transformado, o povo, o Partido dos Trabalhadores e Lula se reconhecem e seguem caminhando juntos.

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