China avança sobre setores estratégicos e Temer bate palminhas
No último domingo (3/7) foi fechada a venda da empresa portuária (TCP) que opera o terminal de contêineres no porto de Paranaguá (PR) para a estatal chinesa China Port. Por um preço de R$ 2,9 bilhões, os chineses arremataram 90% do capital da empresa e prometem aproveitar para avançar em outras atividades da cadeia logística, como nas instalações para graneis e líquidos. Temer não apenas comemorou, como apresentou a historinha como um trunfo de sua viagem à China.
No início deste ano, o mesmo Temer já havia festejado a venda da CPFL, empresa distribuidora de energia no rico interior de São Paulo, para a também chinesa e estatal Stat Grid, por aproximadamente R$ 14 bilhões.
Nada contra os chineses, muito menos o fato de serem empresas estatais. Eles apenas estão cuidando dos interesses do país deles. Entretanto, o que é preocupante na xepa do Temer é a absoluta ausência de visão estratégica de seu governo fajuto. Por diversas razões, abrir mão de ativos estratégicos desse tipo é um péssimo negócio.
Em primeiro lugar porque como se tratam de empresas do setor de serviços – que não produzem bens comercializáveis no mercado internacional – se está contratando para o futuro um fluxo negativo de divisas referentes às remessas de lucros daquelas empresas. Ou seja, negócios como esses tendem a comprometer o equilíbrio estrutural de nosso Balanço de Pagamentos, o que pode ser um empecilho ao desenvolvimento nacional – como aliás vimos acontecer diversas vezes ao longo de nossa história.
Em segundo lugar, especialmente no caso do Porto de Paranaguá, há uma importante questão geopolítica a se considerar. Em diversos países, inclusive nos Estados Unidos, por razões de segurança nacional não se permite entregar o controle de portos a empresas estrangeiras. Como deveria parecer óbvio, o país fica muito vulnerável no caso de um eventual conflito ou apenas um estremecimento de relações com o país controlador.
Por fim, não seria exagero especular que, como se trata de um terminal que exporta commodities para a própria China, poderia acontecer da China Port preferir operar no limite do prejuízo, de tal maneira que barateie o custo das importações adquiridas pela China no Brasil, em uma espécie de dumping cruzado que diminuiria o valor agregado em território brasileiro das nossas atividades de exportação de commodities.
Lamentavelmente, diante da calamitosa situação econômica do país e da ausência de perspectivas de retomada, Temer e algumas empresas de consultoria experimentadas na arte de liquidar patrimônio – como a Tiba, que tem entre seus sócios o ex-diretor do Banco Central Sergio Werlang – comemoram sem pestanejar a entrega inconsequente do país.