O seminário Discriminação – integração: Brasil-França, experiências cruzadas, promovido pelas fundações Perseu Abramo-FPA (Brasil) e Jean Jaurès (França) nos dias 19 e 20 de março reuniu especialistas para discutir temas como racismo e xenofobia, e, principalmente, formas de combatê-los. Participaram do seminário jovens e representantes de diversos movimentos sociais vindos de todo o país.

O seminário Discriminação – integração: Brasil-França, experiências cruzadas, promovido pelas fundações Perseu Abramo-FPA (Brasil) e Jean Jaurès (França) nos dias 19 e 20 de março reuniu especialistas para discutir temas como racismo e xenofobia, e, principalmente, formas de combatê-los. Participaram do seminário jovens e representantes de diversos movimentos sociais vindos de todo o país.

Entre os expositores estavam a professora da Faculdade Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESP, Maria Palmira, o pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, Jean Jacques Kourliandsky; a deputada por Paris na Assembléia Nacional Francesa, George Pau-Langevin, o sociólogo e professor da Universidade Federal de São Carlos, Valter Silvério; o ministro-chefe da Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade Racial – Seppir, Edson Santos; a militante dos direitos humanos Loubna Meliàne, a representante da entidade Mocambo (PA), o coordenador do Núcleo Educafro-Baixada Santista, Julio Evangelista Santos, a pedadoga Sílvia Helena Seixas, e o diretor da Apeoesp Roberto Guido.

Durante o evento, os expositores apresentaram as diferentes formas de manifestação da discriminação nos dois países. As experiências no Brasil apontaram para a discriminação aos negros, às mulheres, à juventude, aos indígenas e demais segmentos marginalizados da sociedade. Já da França, vieram os relatos de que a discriminação atinge, principalmente, os imigrantes das antigas colônias francesas. A discriminação é maior em relação aos árabes que chegam da região do Magrebe (Marrocos, Argélia e Tunísia) se comparados aos demais imigrantes africanos. Um breve resumo dos debates será publicado juntamente com esta nota, e também textos de alguns dos expositores.

Na abertura do seminário, Nilmário Miranda, presidente da FPA, ressaltou que no Brasil é necessário trabalhar sistematicamente com o tema do racismo e que essa questão perpassa todas as faces do preconceito e exacerba as diferenças culturais, de trabalho etc. Tudo isso apesar do avanços promovidos pelo governo Lula em relação ao combate da discriminação como a criação da Seppir, da Secretaria Nacional de Políticas para a Mulher, e da Secretaria da Juventude, a realização da conferências nacionais, que movimentam milhares de pessoas na sua preparação e, por fim, a criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome para tratar da inclusão social no país.

Renato Simões, secretário nacional de movimentos populares do PT, enfatizou que o seminário acontece num momento de especial gravidade, de crise do capitalismo, cujas consequências recaem sobre os setores mais vulneráveis da sociedade européia e sul-americana – jovens, mulheres, negros, pobres. Essa crise afetou fortemente a população, gerando uma onda de desregulamentação dos direitos. “Na Europa, há uma guinada à direita, suscitando tensões sociais, e a retomada de nacionalismos extremos”, disse Simões, que acredita que o capitalismo não será mais o mesmo, deverá se reordenar. Ele ressaltou a importancia de se conhecer os avanços de países que adotaram, criaram, expandiram direitos, seja em relação a povos indígenas (como, por exemplo, com a demarcação da reserva Raposa do Sol no Brasil), seja aos afrodescendentes em todo continente.

Susana Delbó, representante da Fundação Jean Jaurès no Mercosul, também falou sobre a importância do momento em que acontecia o seminário, em meio à crise, que já foi chamada de financeira, e, em seguida, de econômica. E, agora, até de crise da civilização. “Ainda não sabemos como preencher este vácuo, disse Susana, para quem a América Latina teve o privilégio de ter emitido os primeiros sinais dessa crise que se anunciava. Em diferentes países – como com o presidente Lula, por exemplo -, existiu um distanciamento do modelo neoliberal".
 

Membro da platéia participa do debate
(Foto: Sylvia Masini)

A opinião dos participantes

Milton Santos, 34 anos, de Brasília, integrante do grupo LGBT Estruturação: “ Identifiquei que o entendimento de discriminação é totalmente diferente aqui e na França. Fiquei bastante inquieto porque ouvi a Loubna dizer que a juventude não é ouvida, não tem participação, e ao mesmo tempo vi flashes da manifestação que aconteceu em Paris, dos jovens que foram espancados, presos, tiveram todos os seus direitos violados. Como fica? No Brasil, é mais plural, tem a participação da população em busca de sua cidadania, da não discriminação, da valorização da pessoa. Acho que na França é totalmente diferente. Temos que trazer mais participantes de ONGs. Não vi alguém que fosse da sociedade organizada da França.”

Sandra Mariano, 57 anos, do Fórum Estadual de Mulheres Negras – Conen São Paulo: “ A importância desse debate é trazer a juventude para a discussão, o intercâmbio, e mostrar a realidade de outros países. É mostrar para a juventude como é a atuação na França, por exemplo. A George Pau-Langevin traz a luta das mulheres diante de um país cuja história é uma referência para o Brasil. Uma parlamentar negra, com uma leitura clara da questão racial. A Fundação Perseu Abramo tem papel fundamental dentro do projeto que temos para o Brasil. Os dados da pesquisa sobre o racismo apresentada aqui são muito importantes.”

Érica Cristina Ferreira, de Taboão da Serra (SP), estudante de geografia da USP e professora de geografia ensino fudamental, integrante da juventude do PT: “A Silvia Helena mostrou que o que aprendemos na teoria é o que colocamos em prática, e que é possível uma mudança na escola básica, onde vai ser construída a transição – a criança vai aprender, e o professor tem condições de mudar. Colocar a teoria em prática requer que o professor olhe o cotidiano e ela (Silvia) apresentou exemplos da programação da TV brasileira, que não dá visibilidade às diferenças. O seminário também trouxe informações importantes, de que os imigrantes árabes subsaarianos são mais discriminados que os africanos. Os problemas aqui e na França, então, são diferentes, mas parecidos. Porque lá tem pessoas de culturas diferentes sendo discriminadas e, aqui, temos pobres e negros sendo discriminados. São lições que podemos tirar dos dois lados”.

Edson Kayapó, 38 anos, do Oiapoque, é militante da educação indígena no estado do Amapá, é professor indígena, e doutorando na PUC-SP em História da educação indígena: “Tenho percebido que quando existe um chamado para discutir racismo, diversidade racial, o foco é para negro, dificilmente inclui o indígena. O Ministro vem e fala sobre projetos que estão tramitando na questão do negro. Acho que deve ter essas discussões em separado, mas tem que existir aproximação entre movimentos e expansão para outras agendas. Só ações individualizadas, separadas, perdem força. Por exemplo, o movimento negro insiste em discutir a lei 10.639, mas a lei 11645 é mais ampla. A primeira, cria a obrigatoriedade do ensino da cultura afrobrasileira nas escolas, e a segunda abrange as culturas afrobrasileira e indígena. Seria mais coerente unir forças. Em matéria de discriminação, a comunidade indígena brasileira vive uma politica de genocídio desde que a colonização começou, e não parou ate hoje, continuamos sendo mortos. O governo avançou muito nessas discussões, por exemplo, com a lei 11.645, mas deixa muito a desejar em relação às comunidades indígenas. Tem muita coisa a ser feita. A nossa participação no encontro foi positiva porque conseguimos fazer contato com a secretária nacional de combate ao racismo do PT para realização de um seminário da população indígena. “

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