‘Equador’ fala sobre escravidão e livre comércio
Com o título Equador, o jornalista e escritor português, Miguel Sousa Tavares, apresenta seu primeiro romance que mistura ficção e história. Com mais de 500 páginas, o livro foi publicado em 2003 pela Editora Oficina do Livro. Foi reeditado no Brasil em 2011 e reimpresso seguidamente pela Editora Companhia das Letras.
Os últimos momentos da monarquia portuguesa que termina em 1910 e a política colonialista de Portugal são retratados a partir do personagem Luis Bernardo Valença, nomeado governador da colônia de São Tomé e Príncipe, pelo rei D. Carlos, com a tarefa de impedir os ingleses de decretarem um boicote às exportações de cacau oriunda desta colônia com base na suposta existência de trabalho escravo nestas duas ilhas situadas à altura da linha do Equador.
Esta acusação nasce do fato de a escravidão em Portugal ter sido abolida em 1875 e os milhares de trabalhadores nas ilhas de São Tomé e Príncipe serem oriundos de Angola, sem conhecimento da língua portuguesa e com contratos de trabalho por cinco anos. No entanto, apesar do trabalho exaustivo e da pequena remuneração, praticamente nenhum trabalhador angolano retorna à sua terra natal após o término dos contratos, o que levanta a suspeita da prática de renovação permanente e forçada dos mesmos, caracterizando a prática de trabalho escravo.
A tentativa do novo governador de mudar esta situação enfrenta forte resistência dos portugueses, donos das plantações, agravada pela presença de um cônsul inglês encarregado de produzir o relatório que fundamentaria a atitude inglesa em relação ao comércio com Portugal que, inclusive, viria a influenciar o destino da monarquia portuguesa. Entre outras questões relacionadas à natureza humana, a estória aponta para a discussão sobre cláusulas sociais no comércio que se apresentam até hoje no âmbito da OMC e nos Tratados de Livre Comércio.