Para ajudar a derrubar Dilma Rousseff, no ano de 2015 e início de 2016, os economistas do mercado e seus repetidores de sinais na grande mídia usaram e abusaram da tese de que o desequilíbrio fiscal seria a principal causa da inflação alta, a qual girava àquela altura entre 10% e 11% ao ano.

Contudo, como bem apontou a economista Laura Carvalho em sua última coluna na Folha de São Paulo (leia aqui), dados recentes do próprio Banco Central indicam que a inflação de 2015 tinha outras causas muito mais expressivas e mensuráveis. Sob a batuta do então ministro Levy, a política de recuperação dos preços administrados (das tarifas de serviços públicos e dos combustíveis) e a desvalorização cambial responderam conjuntamente por 5,7 pontos percentuais daquela taxa de inflação, isto é, por mais de 50% do total apurado naquele ano. Nada disso, porém, foi suficiente para abalar a fé cega do mercado de que o desequilíbrio das contas públicas seria o vilão da inflação.

Ocorre que neste mês de junho de 2017, já passados treze meses de governo Temer, enquanto o desequilíbrio fiscal se aprofunda de forma dramática (as receitas seguem caindo mais rapidamente do que o corte das despesas primárias e as estimativas do mercado já apontam para um déficit primário superior a 150 bilhões de reais no ano) a inflação segue despencando a passos rápidos, aproximando-se do patamar de 3,5%, fruto da ausência daqueles fatores que a impulsionavam em 2015 e da brutal retração da atividade econômica que segue dissolvendo o país.

Cinicamente, o mercado e a mídia que lhes serve fazem agora cara de paisagem e nada têm a dizer sobre a metafísica relação entre gastos públicos acima das receitas e taxa de inflação. Preferem fugir pela tangente e contar outra: a confiança na atual diretoria do Banco Central e o horizonte aberto pelas reformas encomendadas junto ao governo Temer, por meio do canal mágico das “expectativas racionais”, estariam contribuindo para reduzir o patamar inflacionário. Impressionante!

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