O documentário “Capitalismo: uma história de amor” mostra os personagens que dominam o cenário econômico americano, fundamentais para a recuperação da maior crise desde 1929, o impacto desse modelo na classe trabalhadora e o desmonte da estrutura produtiva daquele país.

De autoria e direção de Michael Moore, a obra se dá no contexto da crise americana do final do Governo Bush, mostrando o papel dos agentes financeiros e a situação de miséria pela qual boa parte dos EUA passou a viver em função das quedas salariais, do desmonte do sistema sindical e dos abusos de poder econômico.

Os desmandos do sistema econômico parecem ser o grande legado do neoliberalismo ao mundo. As ideias que remontam a personagens como Reagan e Thatcher e Fernando Henrique Cardoso, basicamente, desmontaram os sistemas de proteção social e geraram fissuras estruturais à democracia.

De tantas lições do filme, talvez a maior de todas seja a de que não há democracia no mundo que esteja imune à deterioração causada pelas pressões dos multimilionários que controlam o sistema financeiro mundial. De forma precisa, numa narrativa ácida e irônica, Moore conta a estratégia de ocupação do Estado pelos executivos dos grandes bancos americanos, desde o governo Reagan.

O governo Bush, chamado de Governo Goldman, em referencia à enorme quantidade de dirigentes do banco Goldman Sachs que ocuparam a condução da economia americana, em especial a Secretaria do Tesouro, mostrou que a pressão dos muito ricos sobre os governos não é uma jabuticaba brasileira e pode atingir qualquer sistema político.

Nesse caminho, corrupção, desmonte do sistema de seguridade social, redução de direitos trabalhistas, interferências nefastas do poder judiciário e abuso das taxas comerciais de juros seguem mostrando que o projeto, gerido e influenciado mundialmente pelo 1% mais rico do mundo, é único e deve ser aplicado sem exceção a todas as sociedades que se prestem a discutir esse modelo.

É impressionante como o filme traz lições ao momento vivido pelo Brasil. Podemos simplesmente trocar os nomes e perceberemos que, ao escrever a nossa história, os finais são muito parecidos. Gustavo Franco e Pedro Malan, nos anos 90, e, agora, Henrique Meireles e Ilan Goldfajn são os personagens que simbolizam a entrega da direção nacional ao interesse dos grandes players do mercado.

É preciso que se diga que não se trata de uma estratégia de governar sem pressão, e sim de um projeto mundial de poder. Ao entender a dificuldade da aprovação das medidas para salvar o setor financeiro, esses nomes entram no jogo com uma pressão que inviabiliza a funcionalidade do sistema democrático e acabam por ressaltar a tese de que o capitalismo, ao fundamentar a lógica da exclusão, é o maior inimigo da democracia.

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