Enquanto tenta aprovar sua agenda de desmontes no Congresso Nacional, o governo golpista capitaneado por Michel Temer pode passar por novas turbulências nas próximas semanas. Pessoas ligadas ao presidente e seu grupo político serão interrogados em processos que podem fortalecer uma provável denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer, e novas delações podem comprometê-lo. Uma eventual denúncia apresentada pela PGR contra o presidente precisa de autorização da Câmara dos Deputados para prosseguir, em quorum idêntico ao do impeachment: dois terços dele. Isso significa que Temer precisará de um mínimo de 172 votos para barrar a mesma.

Entre os possíveis depoimentos que podem ser cruciais para o governo Temer está o do doleiro Lúcio Funaro, apontado pelas investigações como operador de Eduardo Cunha em propinas pagas ao ex-presidente da Câmara. Funaro, que está preso em Brasília há quase um ano, contratou um jurista especialista em delações premiadas. Funaro também é mencionado nos depoimentos de Joesley Batista. O próprio ex-deputado Eduardo Cunha prestará depoimento no inquérito que Temer responde no STF, e pediu acesso aos dados presentes na delação da JBS, que apontou que pagamentos mensais eram realizados com o aval do presidente da República para comprar o silêncio de Cunha.

A denúncia deve ser apresentada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot à presidenta do STF Carmem Lúcia, que deve remeter a mesma ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Com isso, a denúncia será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, onde Temer possui maioria. No entanto, independente do resultado na CCJ, a denúncia deve seguir para o plenário. Essa votação demonstrará se os deputados estão dispostos a arcar com o custo político de proteger um presidente extremamente impopular e investigado. A tendência é que se demonstre que há uma diferença substancial entre os parlamentares comprometidos em manter esse governo, em relação aos parlamentares cujo compromisso é apenas com a agenda de desmonte e retirada de direitos, ou seja, Temer pode ter menos votos que as reformas que defende.

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