O deputado Adão Pretto faleceu em Porto Alegre na quinta-feira, 05/2, em decorrência de complicações após cirurgia para retirada do pâncreas. Militante histórico da luta pela reforma agrária, Pretto foi um dos fundadores da CUT e do MST no interior do Rio Grande do Sul, e cumpria seu quinto mandato consecutivo como deputado federal, dedicando-se a projetos relacionados à agricultura familiar, direito à terra, entre outros. Sua memória é homenageada pelo poeta Pedro Tierra na obra a seguir:

O deputado Adão Pretto faleceu em Porto Alegre na quinta-feira, 05/2, em decorrência de complicações após cirurgia para retirada do pâncreas. Militante histórico da luta pela reforma agrária, Pretto foi um dos fundadores da CUT e do MST no interior do Rio Grande do Sul, e cumpria seu quinto mandato consecutivo como deputado federal, dedicando-se a projetos relacionados à agricultura familiar, direito à terra, entre outros. Sua memória é homenageada pelo poeta Pedro Tierra na obra a seguir:

Há uma gaita que geme e desafia

Filho do barro

e da esperança: Adão.

Pai

da palavra, da trova, do canto,

apoiado na gaita e na invenção.

Regressas ao barro,

na estação das chuvas,

como quem fecunda…

Levas no corpo que baixa sobre o pampa

– e se enterra com a lágrima

de teus irmãos e amores e filhos e sonhos –

a surda condição da semente.

Em que madrugada

o corpo de Adão Pretto

se apartou do barro

e se fez vagido, grito, palavra, canto?

Em que marcha as foices

levantaram a vontade da manhã,

acenderam a luz azul dos seus olhos

e desataram o rio da palavra

que brotou de sua garganta?

Havia uma cruz e uma encruzilhada.

Havia frio. E medo.

E a morte dos anjos.

Havia panos brancos sobre os braços da cruz

como bandeiras de paz.

Para que não se extravie a memória dos anjos.

Havia medo.

E a palavra como centelha

acendendo no acampamento

uma canção de coragem.

Ouvidos que ouvem e olhos que brilham

contra a tarde de cinzas.

Há uma gaita que geme e desafia.

Sempre haverá

enquanto houver ouvidos

que acolham e desafiem a ordem,

o medo, a submissão.

Não houve tempo para colher a semeadura.

Mas houve tempo suficiente para erguer os olhos

e deixá-los contemplar a bandeira vermelha

– sinal de terra livre –

no portal dos assentamentos.

Há uma gaita que geme e desafia

a ordem, o medo, a submissão.

A gaita de Adão Pretto

desafia o silêncio.

Brasília, 05 de fevereiro de 2009.

*Pedro Tierra (Hamilton Pereira) é militante do Partido dos Trabalhadores e das lutas pela Reforma Agrária. Foi presidente da Fundação Perseu Abramo entre 2004 e 2007.

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