Dinheiro de fora pra que?
Não é de hoje que entre nós, brasileiros, prevalece a ideia de que o país precisa de capital externo para poder avançar. Não por outra razão, tanto se fala e se acredita que devemos “arrumar a casa” para conquistar a confiança dos investidores estrangeiros.
Mas, se bem observarmos, percebemos que em quase nada dependemos da grana dos gringos. Nem no passado, nem no presente. O imenso cardápio de atividades econômicas que podem ser desenvolvidas nesse Brasilzão depende fundamentalmente das expectativas em relação à demanda nos próximos anos e das condições de financiamento interno – ambas deprimidas pela política monetária equivocada que mantém os juros brasileiros em patamares proibitivos.
Por isso, é de se lamentar que os analistas econômicos das consultorias financeiras e seus repetidores de sinais na imprensa comemorem de forma acrítica a notícia de que está aumentando a entrada de capital externo destinado a investimentos em projetos de infraestrutura no país. De acordo com o Banco Central, enquanto no primeiro quadrimestre de 2016 os ingressos estrangeiros em infraestrutura foram de 1,8 bilhão de dólares, no mesmo período de 2017 esse fluxo saltou para 11,4 bilhões de dólares, registrando, portanto, um crescimento de 500%.
E qual o problema disso?
Claro que, diante de um quadro de ausência de política de fomento à produção nacional como o atual e de absoluta inépcia do governo Temer, a entrada de dinheiro estrangeiros traz algum alívio, dinamizando pontualmente alguns setores da economia que não atraem investidores nacionais. Entretanto, como essas atividades econômicas ligadas à infraestrutura não se traduzirão em novos produtos para exportação, seus impactos sobre o futuro da economia brasileira são, no mínimo, questionáveis, uma vez que resultarão em maiores déficits em nossa Conta de Serviços (devem ampliar os montantes de lucros remetidos ao exterior, de pagamentos a título de royalties, de distribuição de dividendos, de despesas com contratação de serviços técnicos estrangeiros, etc).
Assim, mesmo que se considere que na ausência de interesse do capital doméstico seja desejável contar com o aporte de grupos estrangeiros, seria muito mais interessante que esses viessem se instalar em setores produtivos que atendam também ao mercado externo. Se assim fosse, suas futuras exportações deveriam gerar fluxos positivos de dólares e assim ajudariam a compensar os déficits que suas próprias operações fazem crescer na nossa conta de “Serviços”.