Um clima carregado de emoção e marcado por um forte sentimento de esperança e fortalecimento da luta pelos direitos humanos e a defesa do meio ambiente deram a tônica do ato em homenagem a Chico Mendes, realizado pela Fundação Perseu Abramo e pela Secretaria Nacional de Meio Ambiente do PT ontem de manhã na Tenda de Cuba da UFPA – um dos territórios do Fórum Social Mundial de Belém.

Assassinado em dezembro de 88, Chico Mendes transformou-se no grande símbolo pela preservação da floresta Amazônica e da luta por dignidade de seu povo.

“Estamos realizando este ato pelo simbolismo de Chico Mendes, da importância do que ele fez em vida e do que sua morte significou, trazendo a atenção do mundo para o que acontecia aqui. Ao final, ele deixou essa perda e também essa vitória porque suas idéias foram tomadas por todos”, afirmou Nilmário Miranda, presidente da Fundação Perseu Abramo.

A homenagem contou com a participação de dezenas de sindicalistas, religiosos e representantes de partidos políticos, movimentos sociais e estudantes que lotaram a Tenda de Cuba para acompanhar as apresentações culturais e o depoimento de amigos, da família e lideranças de todo o mundo inspiradas pela luta do seringueiro acreano e um dos fundadores do PT naquele Estado.

“Nada mais justo do que essa homenagem a esse defensor da floresta e do seu povo que foi Chico Mendes”, afirmou Júlio Barbosa, vice-presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros, amigo Chico e hoje secretário Nacional de Meio Ambiente do PT. “Desde muito cedo ele sempre esteve preocupado com o sistema de exploração dos seringueiros. E ele também tinha a noção que só era possível mudar essa situação com a organização de todos”, lembrou.

Angélica Mendes, neta de Chico, afirmou estar muito honrada com a homenagem e defendeu a necessidade que todos se apropriem da luta de seu avô para transformar o mundo. “É uma luta que todos temos que tomar como nossa, é uma luta do povo, principalmente do povo da Amazônia”.

O ato teve ainda o lançamento do livro “Vozes da Floresta” e da publicação dos Anais da Sessão Solene do Congresso Nacional em homenagem a Chico Mendes, que foram entregues a diferentes entidades nacionais e internacionais. Ao final, vários segmentos sociais plantaram cinco mudas de seringueira no formato de um pentágono no campus da UFPA.

“Será o pentágono da paz, em oposição ao Pentágono da guerra, do governo norte-americano. Este será o da paz para o mundo, principalmente para o Oriente Médio”, afirmou João Batista, presidente estadual do PT. “Temos a obrigação de mostrar o que foi a luta de Chico Mendes e o que é hoje, para que ela tenha continuidade e que cada vez mais pessoas estejam envolvidas”, completou.

Cláudio Puty, Chefe da Casa Civil, representou a governadora Ana Júlia Carepa, que estava em Brasília reunida com o presidente Lula. Puty ressaltou os avanços ambientais desenvolvidos pelo governo do Estado, como o Zoneamento Econômico e Ecológico e a campanha de 1 bilhão de árvores.

“Queremos lançar para o mundo aqui nesta tenda de Cuba que se plante 5 milhões de árvores para se mostrar cada vez mais que o FSM está comprometido com um futuro melhor”.

“A resposta para o futuro se constrói com os povos”

Uma das principais figuras presentes ao ato em homenagem a Chico Mendes, a senadora Marina Silva, do PT do Acre, destacou a trajetória de um dos primeiros defensores da Amazônia e dos povos da floresta. “Sua luta se expandiu para o mundo e é nosso desafio fazer com que ela volte para a floresta para criarmos condições de vida digna às milhares de pessoas que aqui vivem e ao mesmo tempo preservarmos a floresta”, disse.

Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, lembrou que a partir dos ideais de luta de Chico Mendes pôde-se avançar muito no Brasil na política ambiental. “Criamos no Brasil o Plano Nacional de Combate ao Desmatamento, que reduziu em mais de 50% o desmatamento no país e que não permitiu seu avanço. Precisamos avançar e mudar este modelo de desenvolvimento predatório. Por isso, surgiu a aliança dos povos da floresta e foi por essa luta que ele foi assassinado”, lembrou.

Marina lembrou ainda da necessidade de união de todos para a construção deste novo mundo. “As respostas para o futuro do planeta há que se fazer com povos e não para os povos, porque com eles teremos mais chances de acertar. Isso eu aprendi com Chico Mendes”.

Lembrando das experiências que viveram ao longo da luta no Acre, Marina fez uma analogia com o personagem de Miguel Cervantes. “Minha história com Chico Mendes lembra a de D. Quixote que duelava com moinhos pensando que fossem gigantes. Nós, ao contrário, duelamos com gigantes pensando que são moinhos. A diferença é que temos de fazer um novo mundo em cima da sustentabilidade”.

Publicado originalmente no Portal do PT, em 28/01/2009