Nos últimos dias fomos surpreendidos com a notícia de que as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que medem o nível de atividade econômica do país, estariam sendo manipuladas (leia aqui). Por conta de mudanças metodológicas nas Pesquisas Mensais de Comércio (PMC) e de Serviços (PMS), a comparação entre os dados de 2017 (apurados com a nova metodologia) com os de 2016 (ainda com a velha) permitiriam concluir que o país se encontra diante de uma incipiente aceleração do nível de atividade econômica. Não por outro motivo, o IBC-Br, elaborado e utilizado pelo Banco Central para orientar suas decisões de política monetária, teria registrado um crescimento de 1,31% em fevereiro ante janeiro.

De acordo com Marcelo Manzano, economista do Grupo de Conjuntura da Fundação Perseu Abramo, o IBGE diz que ainda pretende dar maiores explicações sobre o fato, mas para ele, “a se confirmar a barbeiragem ou a manipulação deliberada estaríamos diante de uma gravíssima interferência do governo golpista sobre a produção das estatísticas oficiais que orientam tanto o mercado quanto os próprios órgãos governamentais”.

Manzano lamenta a notícia: “primeiro porque o IBGE é uma das instituições brasileiras de maior credibilidade, reconhecida internacionalmente pela sua expertise na realização de pesquisas sobre a sociedade brasileira e que dispõe de um corpo técnico do mais alto nível. Segundo, porque, ao que tudo indica, o Banco Central teria “alavancado” a lorota, incorporando os números dourados do IBGE no cálculo de seu indicador antecedente (o IBC-Br). Terceiro, porque o governo golpista de Michel Temer, em sua página oficial, eleva a lorota ao cubo dizendo o seguinte: “Após iniciar o ano em alta, a atividade econômica deu mais um sinal de retomada diante das reformas do governo federal” (leia aqui)

Manipulações deste nível extrapolam os limites mínimos da civilidade institucional de um país que ainda se pretenda uma nação. Quanto mais, se lembrarmos que estão hoje reunidos no Banco Central do Brasil o maior clube de adoradores da “teoria das expectativas racionais”, a qual, apesar de desprestigiada mundo afora, prega que os agentes econômicos se antecipam às arbitrariedades dos governos esterilizando os efeitos das políticas macroeconômicas – consequentemente, concluem que os governos e suas políticas são inúteis e onerosos.

Como entender então que justamente esse time de obstinados pelos princípios do mundo dos negócios cometam agora um dos mais graves abusos de autoridade sobre o ambiente econômico de que temos notícias desde o fim da ditadura?

Marcelo ainda questiona: “com qual racionalidade os seus parças da vida privada (pretérita e futura) devem balizar suas expectativas para decidir sobre preços, investimentos e outras querelas? Ou ainda: o que será que pretendiam dizer quando falavam em restaurar a confiança?”.

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