Livro “Muitos caminhos, uma estrela é lançado em São Paulo”
Avelino Ganzer enfatizou que o projeto História Oral o fez reviver parte de sua própria história, trazendo à lembrança os companheiros que ajudaram a fundar e construir o partido e que ficaram ao longo do caminho. Se se comparar a história vivida pelo país e pelos partidos políticos nos últimos anos, vê-se que houve um salto muito grande. Essa geração ouvida, segundo Avelino, ajudou a construir o país, reconstruiu o sindicalismo, construiu o partido, lutou contra a ditadura. “Não é nada fácil tentar manter a unidade do país como um continente unificado. Quando se revê tudo isso, chegamos à conclusão de que valeu a pena ter tomado essa decisão na vida, de abraçar esse projeto”. Ele também enfatiza o amadurecimento político vivido após a vitória de Lula, quando foi necessário conciliar a manutenção do projeto estratégico com a política de alianças firmada no segundo turno da disputa.
Um dos momentos mais marcantes de seu resgate? A vitória de Lula em 2002, o mundo inteiro vendo que Lula era presidente do Brasil.
O líder camponês Manoel da Conceição enfatizou que até 1962 era apenas um jovem revoltado, quando teve contato com o Movimento de Educação de base (MEB) e passou a despertar para o seu papel na história. Segundo Manoel, durante as entrevistas realizadas pelos coordenadores do Projeto História Oral, houve três momentos mais marcantes: o da fundação do Partido dos Trabalhadores, a queda da ditadura e a fundação da CUT.
Manoel da Conceição já vinha militando há tempos quando participou destes três momentos históricos. Hoje já não é dirigente do partido, mas continua militando “24 horas por dia”, segundo ele. Outro momento que o “engrandece”, é a vitória de Lula: “Deus está vendo que hoje nós termos um presidente da República que foi migrante, que veio de Pernambuco pra cá [São Paulo], pra não morrer de fome. Isso é uma coisa muito grande pra eu ver. Porque onde nasci e me criei, só podia ser presidente da República quem era dono do leite, do café e do gado.”
Outro entrevistado, Raul Pont, disse que é muito importante manter viva a trajetória do Partido e de seus militantes para que todos se mantenham fiéis ao conjunto de idéias, princípios que os reuniu no final dos anos 70. ”Quem somos, de onde viemos, quais eram nossos compromissos, nossas origens sociais, o sonho que nos acalentava e nos levava a resistir ao regime militar, tudo isso é importante registrar” disse ele, ressaltando também a grande diversidade regional e cultural e heterogeneidade das origens das pessoas – área sindical, movimentos urbanos, universidades etc.
Pont acha muito apropriado o nome do livro, pois haviam muitos caminhos a seguir, mas a identidade que aproximou a todos no final dos anos 70, culminou na experiência de fundação do PT. Resgatar a memória, para ele é “um recomeço sempre, porque cada depoimento nosso, ou as experiências de cada um de nós, do Avelino, do Manoel, do Antonio Candido, a minha e a do Olívio, lá no Rio Grande do Sul – de lutas distintas, é de uma riqueza para manter nosso projeto muito forte. Quando vimos 16 delegações de todo o país no Colégio Sion, para nós, que estávamos ilhados no sul do país, senti que nos reencontramos com figuras que muitos conhecíamos pela literatura, pelas notícias, nas lutas sociais; e quando encontramos fisicamente, isso teve uma força, um propósito, foi extremamente emocionante.”.
Ter a militância como missão de vida que nunca acaba é a conclusão a que chegou Irma Passoni ao ver os depoimentos dos primeiros entrevistados, publicados no livro. Essa militância, segundo ela, passou pelos processos da ditadura, anistia, Constituinte e se mantém batalhando nas mais diversas áreas.
Um dos momentos mais marcantes no resgate de suas memórias, foi o da gravidez de sua filha. Em maio de 1979, ela se encontrava na porta da fábrica, grávida de 9 meses, e isso marcou profundamente a vida de sua filha e a fez questionar-se: “será que é justo que as mulheres brasileiras tenham seus filhos, e tenham que largá-los em creche; que não possam ter uma licença-maternidade decente para ficar mais tempo com eles para que eles cresçam no aconchego da mãe?”. Depois disso, inscrever direitos iguais para todas as mulheres brasileiras
na Constituição Federal [foi deputada constituinte] foi outro momento importante na sua militância.
Djalma Bom destacou a importância do resgate deste patrimônio histórico do partido, que é a militância, pois não há valor que possa quantificá-la.
“A confecção e a distribuição desse livro, e o reconhecimento dos militantes do PT mostra que a FPA veio para ficar, que de fato reconhece aquelas pessoas, aqueles filiados, aqueles militantes – muitos deles deram a própria vida para construção deste partido que hoje tem reconhecimento internacional”, ressaltou Bom.
Já Hamilton Pereira enfatiza que ao olhar o livro e identificá-lo como um mosaico, ele encontra um lugar na história do PT, que enriquece sua própria história à luz dos depoimentos dos demais. E isso tem uma razão: quando se fala do PT, todos os olhares se voltam para São Bernardo do Campo, que era a força impulsora, no entanto, o livro mostra que havia militantes pensando o PT em todo país.
Essa militância o levou, em determinado momento, a disputas, como a que ocorreu em 1995 para a presidência do partido, contra o companheiro Zé Dirceu, num momento em que partido vivia uma crise. E crises houvera, segundo Hamilton, maiores ou menores, o que mostra que o partido está vivo.
Hamilton Pereira acredita que se caminha hoje para a produção de sínteses novas. “É muito importante que as novas gerações saibam de onde viemos, que temos classe, que temos lado, que temos uma história, e esse livro tem um valor inestimável como fator de educação das gerações novas de militantes do PT”, finaliza Pereira.
A construção de uma consciência de um povo disperso e desorganizado é o principal legado do PT, segundo Paulo Rocha. Um dos momentos mais difíceis na militância, aponta Rocha, foi a crise de 2005, da qual o partido não teria sabido sair unido, respondendo de forma coesa aos ataques vindos de todos os lados. “Não soubemos dialogar com a sociedade sobre o que eram nossos erros e o que era a situação real”, disse ele, que enfatizou que o debate naquele momento era o do financiamento público de campanha, que não foi feito por não ter havido uma articulação com as demais forças da sociedade. Rocha finaliza ressaltando que o partido, ao invés de se unir a outros movimentos, preferiu enfrentar a crise dividido “porque alguns setores do PT quiseram resolver, naquele momento, divergências históricas”.
Para Raul de Carvalho, filho de Apolonio de Carvalho, se ele estivesse vivo, o “velho” (como trata carinhosamente o militante já falecido) estaria feliz, por rever os companheiros e por ver que apesar das dúvidas que poderiam estar passando pelas suas cabeças, continuam unidos. “Com a crise, ele [Apolonio], internamente, poderia estar sofrendo muito, mas sabia que o PT voltaria ao caminho correto. O projeto de História Oral recupera as raízes do partido, o que é muito importante”, enfatizou Raul.
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