Memórias dos militantes do PT: Lula envia mensagem
O presidente Luis Inácio Lula da Silva enviou mensagem aos presentes no lançamento do livro “Muitos caminhos, uma estrela: memórias dos militantes do PT” – vol. 1, realizado ontem na FPA. Leia abaixo:
MENSAGEM DO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLlCA POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO DO LIVRO “MUITOS CAMINHOS, UMA ESTRELA: MEMÓRIAS DE MILITANTES DO PT – VOL. 1
Queridos companheiros e companheiras,
A trajetória que nos une ocupa um capitulo singular na história das lutas sociais brasileiras.
Duas vitórias sucessivas no escrutínio para o cargo mais elevado da Nação sintetizam a relevância desse percurso.
São quase trinta anos desde o memorável 10 de fevereiro de 1980, quando Mário Pedrosa ergueu-se no auditório do Colégio Sion, em São Paulo, para colocar a primeira assinatura no manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores.
Depois dele, o mesmo gesto seria repetido por Sergio Buarque de Holanda, por Moacir Gadotti representando Paulo Freire; por Lélia Abramo, por Manoel da Conceição e, finalmente, pelo saudoso amigo, militante do socialismo e da liberdade, Apolonio de Carvalho: herói da Guerra Civil Espanhola, combatente da Resistência Francesa, legenda da luta contra a injustiça e a opressão em nossa terra.
Mais que a faculdade de lembrar, porém, é preciso dizer que a memória é um dever. O dever de refletir sobre os caminhos que construímos desde então.
Mas, sobretudo, ela é importante para que a nossa história não seja espoliada por narrativas que buscam depreciar nosso legado com o objetivo de estreitar o horizonte do nosso futuro.
A ferramenta da memória, assim entendida, não se confunde com o exercício diletante da nostalgia. É uma ferramenta política e, por isso, tampouco se presta a idealizações do passado. O que ela nos ensina é que não há coerência sem conflito, nem discernimento sem experiência concreta na luta social.
A trajetória que construímos não é – nem poderia ser – uma base de perfeição estática. Ela é um processo que se renova no anseio por justiça e na reflexão sobre os desafios da sociedade humana no século XXI. Nesse sentido, sua retrospectiva mira o futuro: seu fio de continuidade é a luta por mais democracia para o nosso povo e o nosso país.
A democracia, como sabemos, continua a ser a questão mais importante do nosso tempo.
Num mundo de enorme volatilidade, atravessado por imensos volumes de riqueza descolados da cidadania, reafirmar a sua prerrogativa é, sobretudo, redimir a política como o espaço de poder dos que nunca tiveram poder.
Na nossa caminhada, esta sempre foi e será a bússola que orienta nosso governo. Seu norte é a construção de um Brasil para todos os brasileiros. Portanto, um país em que os recursos do crescimento e da natureza -, como é o caso da recente descoberta de novos campos de petróleo – materializem o ideal republicano de garantir um ponto de partida igual para todos. Para isso o Estado não pode mais ser encarado como um estorvo do mercado, como se quis no passado. Para nós, o Estado consagra a representação da vontade popular na repartição da riqueza produzida.
A política assim entendida constrói seus próprios contrapesos e salvaguardas. Ela imuniza a democracia contra a impunidade e a corrupção. Questiona a semi-informação que entorpece a cidadania. Rechaça o niilismo que cultiva o descrédito no bem público. E recusa o elitismo que solapa os valores da convivência compartilhada e do bem comum.
Esse é o compromisso que temos perseguido desde a primeira hora do primeiro dia do nosso primeiro mandato. Hoje temos um saldo de avanços inquestionáveis a apresentar. Pusemos na agenda do Estado uma lista de reparações para reverter a engrenagem secular de uma exclusão vergonhosa. Equacionamos vulnerabilidades históricas que constrangiam nosso desenvolvimento. Zeramos a dívida externa.
Na conclusão deste ciclo, deixaremos um patrimônio coerente com os compromissos e as esperanças que emergiram naquele 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion.
Ao contrário da herança de desalento que recebemos, um salto irreversível se consolida na vida dos cidadãos e cidadãs mais humildes deste país. Uma revolução de discernimento e auto-estima está em marcha. Ela está sepultando o ceticismo com a emergência de um povo renovado. Um povo dotado de competência para decidir o seu destino e pronto para comandar o destino do desenvolvimento nacional.
Creio, meus companheiros e minhas companheiras, que esse legado orgulha o nosso trajeto e nos permite dizer: valeu a pena a caminhada, vale a pena prosseguir. Hoje a nossa memória é uma parte irreversível do presente e do futuro de todos os brasileiros.
Presidente da República Federativa do Brasil