Um olhar sobre o mundo
Fernando Lugo é o novo presidente do Paraguai
Novas denúncias sobre a “para-política” na Colômbia
Cai o Primeiro Ministro do Haiti
Fundada a Central Sindical das Américas
Candidatura democrata nos EUA ainda indefinida
Berlusconi volta ao cargo de Primeiro Ministro da Itália
Composto o novo ministério espanhol
Frustram-se novas iniciativas de paz no Oriente Médio
Eleições presidenciais no Zimbabwe ainda sem resultado oficial
A esquerda conquistou a maioria na Assembléia Constituinte do Nepal
O Partido Democrático do Trabalho da Coréia do Sul se divide
Fernando Lugo é o novo presidente do Paraguai
A eleição presidencial realizada no dia 21 de abril consagrou a vitória da coalizão Aliança Patriótica pela Mudança (APC) liderada por Fernando Lugo com 40,8% dos votos, deslocando o Partido Colorado do poder pela primeira vez em 61 anos.
A segunda colocada na eleição com 30,7% dos votos foi a candidata do Partido Colorado, Blanca Avelar e o terceiro foi o ex-militar Lino Oviedo com 22% dos votos. Os 6,5% de votos que restaram couberam a outros quatro candidatos, Pedro Fadul do Partido Pátria Querida, Sergio Estigarribia do Partido Humanista Paraguaio, Julio Cezar Benitez do Partido dos Trabalhadores e Horácio Perone do Movimiento Teta Pyahu.
A segunda colocada na eleição com 30,7% dos votos foi a candidata do Partido Colorado, Blanca Avelar e o terceiro foi o ex-militar Lino Oviedo com 22% dos votos. Os 6,5% de votos que restaram couberam a outros quatro candidatos, Pedro Fadul do Partido Pátria Querida, Sergio Estigarribia do Partido Humanista Paraguaio, Julio Cezar Benitez do Partido dos Trabalhadores e Horácio Perone do Movimiento Teta Pyahu.
A eleição presidencial no Paraguai é decidida em turno único e Lugo manteve a dianteira na disputa desde que a campanha se iniciou, sustentado por uma coalizão de nove partidos políticos que, ideologicamente, vão do centro até a esquerda, seu candidato à vice-presidência é do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), além do firme apoio de vinte organizações sociais e sindicais.
Antes de candidatar-se, Lugo era o Bispo da região de São Pedro, cargo ao qual renunciou. Porém, para que isto se efetive do ponto de vista da igreja católica, o Vaticano necessita concordar, o que não ocorreu e ele foi apenas suspenso de suas funções. Inicialmente a direita ameaçou que tentaria impedir sua candidatura sob a alegação que ele exercia cargo religioso, o que o impediria de candidatar-se pela lei paraguaia.
Ao final não levaram a ameaça adiante porque uma vez que ele renunciou e, portanto, cumpriu a lei nacional haveria uma discussão se as regras do Vaticano prevaleceriam sobre a Constituição do Paraguai e uma conclusão nesta direção dificilmente seria absorvida.
Em seguida o “governo colorado” tentou dividir os votos da oposição libertando o ex-general Lino Oviedo da prisão e anistiando-o para que pudesse se candidatar às eleições presidenciais. Oviedo esteve à frente de uma tentativa de golpe militar em 1996, onde várias pessoas foram assassinadas, entre elas o vice-presidente do país na época, Luis Maria Argaña. Também não funcionou, pois Lugo seguiu em primeiro lugar nas pesquisas e tampouco a campanha eleitoral suja e difamatória que se seguiu, reduziu a preferência da população.
Por fim, esperava-se que os colorados simplesmente tentariam fraudar a eleição como, aliás, já teriam feito na sua própria prévia interna que escolheu a candidata Blanca Avelar em detrimento do ex-vice-presidente, Luis Castiglioni, de acordo com as acusações deste, que não tinha o apoio do presidente Nicanor Duarte. No entanto, a diferença expressiva entre Lugo e Avelar e a estrutura de fiscalização que a APC montou, inclusive com grande participação internacional, impediu que houvesse irregularidades de monta.
Prevaleceu a mobilização e a vontade popular e a posse do novo presidente Fernando Lugo que se soma à lista de governantes progressistas no continente será no dia 15 de agosto.
No entanto, sua tarefa não será das mais fáceis. Primeiramente a necessidade de erradicar o “coloradismo” da máquina do Estado em todos os níveis, em segundo lugar controlar as forças armadas, em terceiro lugar combater a corrupção endêmica do país e por fim promover o desenvolvimento e resgatar a dívida social do Paraguai. Tudo isto sem possuir maioria no Parlamento, pois a APC preencherá apenas um terço das cadeiras e, aproximadamente, metade delas caberão ao PLRA que politicamente é moderado.
Portanto, a manutenção do apoio dos movimentos sociais e a promoção de reformas políticas na Constituição para equilibrar a correlação de forças serão fatores cruciais para garantir o cumprimento de seu programa de governo, assim como a colaboração dos governos dos países vizinhos, Argentina e Brasil em particular.
O separatismo boliviano
Os governadores de quatro dos nove departamentos da Bolívia insistem em levar adiante os referendos que visam aprovar novos estatutos autonômicos para os mesmos. No dia 4 de maio está prevista a realização do referendo em Santa Cruz e em datas posteriores nos departamentos de Pando, Tarija e Beni.
Estas regiões representam dois terços do território boliviano, um terço de sua população e 60% do PIB do país. Mesmo que os referendos sejam realizados à margem da Constituição e sem efeitos legais, o seu significado político e os conflitos que irão aprofundar na disputa entre a esquerda e a direita, bem como entre os governos departamentais e o governo central serão muito negativos para o futuro do país.
No âmbito interno, o movimento social está se mobilizando para tentar esvaziar o referendo e externamente há muita pressão sobre os governadores destes departamentos da parte de organismos como OEA, ONU e União Européia e dos países vizinhos como Argentina e Brasil para que suspendam os referendos e alertando claramente que seus efeitos não terão reconhecimento internacional.
Não é a primeira vez que se discute o tema da autonomia regional. Inclusive, uma vez, chegou a circular uma proposta de anexação do departamento de Santa Cruz ao Brasil. Porém, agora é a primeira vez que são propostas medidas concretas, como o referendo.
A atual iniciativa é movida pelos interesses da direita que perdeu a eleição presidencial para Evo Morales e que, apesar das obstruções, também não conseguiu impedir a aprovação de uma nova Constituição para a Bolívia. Há no meio disto também uma boa dose de preconceito de classe e racismo, verificável pela maneira desrespeitosa como se referem ao presidente Evo Morales e pelo conteúdo do artigo 161 da proposta de estatuto autonômico que afirma que a raça do povo de Santa Cruz é a mestiça como forma de não reconhecer as várias etnias que vivem ali e na Bolívia como um todo.
No entanto, a discussão sobre autonomia tem receptividade popular nestas regiões. Embora, obviamente, devesse ser tratado de outra maneira, o tema é pertinente porque até recentemente os governadores eram nomeados e o orçamento departamental ainda é administrado pelo governo central. Formou-se ao longo da história uma percepção na maioria da população das províncias de abandono, descaso e distância por parte do governo federal em relação aos seus interesses e necessidades.
Esta percepção está sendo manipulada pela elite, principalmente, os donos de terra destas regiões no que sem dúvida é o maior enfrentamento até o momento ao governo de Evo Morales. (Leia mais em: www.alai.info).
Novas denúncias sobre a “para-política” na Colômbia
O envolvimento de partidários do presidente Álvaro Uribe da Colômbia com grupos para-militares já era conhecido e provocaram a prisão de 29 parlamentares, dos quais cinco já foram condenados e há ainda investigações sobre outros 36. Como o congresso colombiano possui 267 cadeiras, pode se verificar o alcance da infiltração criminosa no poder legislativo do país. (Leia mais em: Um olhar sobre o Mundo, Periscópios 12 e 13).
No entanto, a proximidade do próprio presidente com os para-militares começou a ficar mais evidente quando o presidente de seu partido, o Partido Del “U”, senador Carlos Garcia renunciou a este cargo, pois seus vínculos com estes grupos foram descobertos. O mesmo ocorreu com a senadora Nancy Gutiérrez, presidenta do Congresso e uma das principais aliadas de Uribe e logo em seguida, um ex-senador, Mario Uribe, primo do presidente, foi preso quando tentava se exilar na Costa Rica.
A reação do governo foi tentar vincular a oposição às FARC, inclusive divulgando uma foto de um suposto encontro da senadora Piedad Córdoba com o comandante guerrilheiro, Raúl Reyes, recentemente morto pelo exército colombiano em território do Equador. Esta manobra não pegou, até porque estas acusações não são novas e o envolvimento de políticos com o paramilitarismo é muito amplo.
Os partidários de Uribe já estavam coletando assinaturas para propor uma nova modificação na Constituição do país para permitir que se candidatasse a um terceiro mandato.
Porém, apesar de sua alta popularidade devido ao enfrentamento militar com as FARC, será mais difícil para um congresso com este grau de comprometimento conseguir reformar a Constituição novamente. (Leia mais em: OESP 27/04/2008).
Cai o Primeiro Ministro do Haiti
O mês de abril se iniciou com uma série de protestos da população haitiana contra a alta de preços dos alimentos e que o governo justificava como sendo um fenômeno mundial. Não deixa de ser verdade, mas esta explicação resolve pouco para uma população que vive na extrema pobreza como é o caso.
Houve várias manifestações públicas e casos de saques de estabelecimentos comerciais, bem como confrontações entre manifestantes e as forças de paz da ONU (Minustah) que causaram pelo menos seis mortos, incluindo um soldado nigeriano.
Após os incidentes, o presidente René Preval anunciou uma série de medidas de emergência como a redução de 15,7% no preço do arroz, utilizando recursos da ajuda internacional como subsídio.
No entanto, o Primeiro Ministro Jacques Edouard Alexis acabou sendo responsabilizado pela situação e foi destituído do cargo após a aprovação de uma moção de desconfiança no senado haitiano.
O ocorrido se deve a alta desenfreada dos preços dos alimentos em nível mundial, o que no caso do Haiti se agrava, pois são quase todos importados uma vez que a produção local é ínfima.
Por outro lado, a ajuda internacional para combater a pobreza haitiana e colocar o país nos trilhos do desenvolvimento está muito aquém do prometido quando houve a intervenção da ONU.
Se isto não mudar, não há perspectivas no curto prazo para solução dos problemas básicos do país e a instabilidade persistirá.
Fundada a Central Sindical das Américas
No dia 26 de março houve dois congressos simultâneos na cidade do Panamá que dissolveram a Organização Interamericana de Trabalhadores (ORIT) e a Confederação Latino-americana do Trabalho (CLAT), respectivamente, organizações regionais, no continente americano, das anteriores Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres (CIOSL) e da Confederação Mundial do Trabalho (CMT).
Nos três dias seguintes ocorreu o congresso que os reuniu numa única organização, a Confederação Sindical das Américas (CSA) onde também participaram algumas organizações sindicais independentes como a CUT da Colômbia e a CTA da Argentina.
Este processo havia sido iniciado no final de 2006 quando a CIOSL e a CMT também se dissolveram e se unificaram sob o nome de Confederação Sindical Internacional (CSI) num congresso realizado em Viena.
A ORIT e a CLAT foram fundadas na década de 1950 e desenvolveram suas atividades fortemente influenciadas pela guerra fria. A ORIT estava sob domínio do sindicalismo americano até o fim dos anos 1980 quando a própria guerra fria terminou e várias centrais de esquerda no continente americano se filiaram a ela como as CUT’s do Brasil, Chile e do Paraguai gerando uma nova dinâmica no seu interior.
Embora a CMT, fundada nos anos 1920, tivesse origem no sindicalismo cristão e fortes vínculos com a democracia cristã européia após a segunda guerra mundial, a CLAT atuava com muita autonomia e com características mais conservadoras ainda.
No conjunto da representação das duas organizações, a CLAT possuía apenas 10%, mas a unificação é importante pela simbolização de unidade que seria conveniente se estender também aos âmbitos nacionais. O total de trabalhadores sindicalizados que a nova central representa é em torno de 30 milhões.
O secretariado que foi eleito é integrado por representantes da América do Norte, América Central, Região Andina e Cone Sul. O Secretário Geral é Vitor Baez Mosqueira, bancário do Paraguai e que já ocupava este cargo na ORIT.
Candidatura democrata nos EUA ainda indefinida
Conforme apontavam as pesquisas locais, a pré-candidata Hillary Clinton venceu as prévias democratas no estado da Pensilvânia por uma diferença de aproximadamente 10% sobre Barack Obama. Este resultado lhe deu sustentação política para prosseguir na campanha pelo menos até as primárias de Indiana e Carolina do Norte em 6 de maio, embora a prévia da Pensilvânia tenha lhe dado apenas 12 delegados a mais que seu oponente.
O quadro das prévias até o momento demonstra que Obama venceu em 28 estados contra 14 de Hillary Clinton, obteve em torno de 150.000 votos dos participantes a mais do que ela ao longo do processo conquistando uma diferença de 150 delegados a seu favor. Ele tem se saído melhor também no quesito arrecadação de finanças para a campanha ao amealhar US$ 42,0 milhões até o final de março contra US$ 9,0 milhões da sua adversária.
O argumento de Hillary Clinton para prosseguir é ter vencido as prévias na maioria dos estados maiores, enquanto Obama conquistou sua maioria de delegados nos estados de menor expressão eleitoral e, além disso, ela teria a preferência dos eleitores brancos e dos latinos.
Na disputa dos votos nas prévias, os dois candidatos procuram explorar os deslizes do adversário e se destacar na retórica, particularmente a belicista. Hillary Clinton é quem mais tem exagerado neste aspecto chegando a afirmar que esteve sob fogo cruzado de franco-atiradores na Bósnia, o que se revelou não ser verdade, e mais recentemente ameaçando destruir o Irã se este persistir em suas tentativas de construir armas atômicas na tentativa de se mostrar “confiável” aos eleitores mais conservadores.
Nenhum deles terá condições de alcançar o número mínimo de delegados (2025) para resolver a questão no voto de base e se a disputa for levada até a convenção no final de agosto, serão os delegados natos a decidirem o resultado. Estes são quase 800 e em torno de 400 deles já declararam sua preferência com ligeira vantagem para Hillary Clinton.
Entretanto, Barack Obama terá a maioria dos votos dos delegados de base e conseguiu mobilizar os ativistas do partido, em particular, os jovens como há muito não se via. Caso Hillary Clinton vença a convenção devido aos votos dos delegados natos, é provável que uma parcela significativa destes ativistas se sinta traída e abandone a campanha democrata.
Além disto, o prosseguimento da disputa entre os dois pré-candidatos por mais quatro meses com as estocadas de lado a lado desgasta as duas candidaturas e o prazo entre a convenção e a eleição, um pouco mais de dois meses, é insuficiente para curar feridas e recuperar o estrago. Se os democratas quiserem evitar um provável suicídio político, o momento é nas próximas primárias. O mecanismo para isto seria por intermédio da declaração de votos dos demais delegados natos a favor daquele que estiver na dianteira após a realização das primárias de 6 de maio, pois as que ainda restam são irrelevantes para definição do resultado final.
Já no campo republicano, o “céu é de brigadeiro”. John McCain é candidato único e as primárias republicanas lhe permitem explorar espaços na imprensa local para fazer sua campanha.
A política externa e a guerra do Iraque que ele sempre apoiou já não é o tema de maior preocupação da população americana diante da crise imobiliária e a alta dos preços da gasolina.
Mccain tem feito campanha manifestando sua preocupação quanto à pobreza no país e à situação da economia voltada para conquistar os votos dos eleitores independentes e quanto à guerra afirma que manterá a ocupação do Iraque pelo tempo que for necessário, mas que fechará a prisão de Guantánamo e que proibirá a tortura de prisioneiros.
Berlusconi volta ao cargo de Primeiro Ministro da Itália
Nas eleições parlamentares italianas realizadas entre 13 e 14 de abril, os vencedores foram Silvio Berlusconi e sua coalizão de partidos de direita e extrema direita. Esta chamada “Povo da Liberdade” é composta pelo seu próprio partido “Força Itália”, pelos separatistas da “Liga do Norte” e do “Movimento pela Autonomia do Sul”, pelos pós-fascistas da “Aliança Nacional” e pelo partido de Alessandra Mussolini, neta do ex-ditador, a “Alternativa Social”.
Esta coalizão elegeu 168 senadores de um total de 315 (47,3%) e 340 deputados de um total de 630 (46,8%).
O Partido Democrático (PD) liderado pelo ex-prefeito de Roma, Walter Veltroni, conquistou 130 cadeiras no senado (38,0%) e 239 na Câmara de Deputados (37,6%). Os demais votos foram para outros partidos ou coalizões menores.
O governo anterior dirigido pelo Primeiro Ministro Romano Prodi foi eleito em 2006 numa disputa extremamente apertada com Berlusconi vencendo por uma diferença inferior a 0,5% graças à reforma eleitoral que o próprio Berlusconi havia promovido para tentar se reeleger.
Foi um governo que administrou a crise econômica italiana por meio de ajustes impopulares e que estava sempre à mercê dos pequenos partidos da coalizão para manter a maioria no parlamento. Durante seus quase dois anos de governo enfrentou 15 votações de moções de confiança e perdeu a última devido à defecção de três parlamentares de um dos pequenos partidos de centro direita que até então o apoiava.
Na eleição de 2008, a maioria dos partidos aliados de Berlusconi manteve a mesma votação de 2006. A exceção foi a “Liga do Norte” e seu aliado “Movimento pela Autonomia do Sul” que dobraram a votação e o número de parlamentares, assegurando a vitória da direita.
O discurso xenófobo pesou no resultado eleitoral e Berlusconi já anunciou que adotará medidas para expulsar imigrantes em situação irregular no país.
Pela primeira vez após o fim da segunda guerra mundial, os comunistas não estarão representados no parlamento. A coalizão “Esquerda Arco Íris” composta pela “Rifondazione Comunista”, Verdes, Socialistas Democráticos, PC d I e “Sinistra Critica” não superou a cláusula de barreira de percentual mínimo de votos (4%) ao obter apenas 3,5%.
Uma avaliação preliminar aponta que tinham um potencial para alcançar até 9% dos votos dos quais até 7% por intermédio da “Rifondazione” o partido mais estruturado. No entanto, 3% do eleitorado tradicional da esquerda se abstiveram de votar, 2% votaram no PD e 1,5% na “Liga do Norte” e assim tiveram dois milhões de votos a menos do que em 2006.
Ao contrário daquele ano quando a esquerda fez parte da coalizão “L’ Unione” de Prodi agora ela saiu em coalizão própria. Embora a “Rifondazione” estivesse disposta a compor com o PD, Veltroni não tinha interesse em depender desta aliança na hipótese de vitória e os demais partidos da coalizão de esquerda simplesmente não queriam se unir aos democratas.
Á semelhança das recentes eleições municipais na França e eleições parlamentares na Espanha, houve uma polarização entre os partidos social democratas e os maiores partidos da direita. No caso italiano, a esquerda fazia parte do governo Prodi e foi fiel à aliança, mas acabou pagando o preço por não haver condições para se coligar com o PD nesta eleição.
Composto o novo ministério espanhol
O ministério de um dos poucos governos social-democratas na Europa atual acaba de ser composto. A imprensa deu grande atenção ao fato do Primeiro Ministro espanhol José Luis Zapatero ter incluído um número expressivo de mulheres na composição de seu novo ministério.
No entanto, quando ele foi eleito pela primeira vez em 2004 já havia preenchido oito dos 17 cargos disponíveis com ministras. A diferença agora foi a substituição de alguns ministros por novas indicações, em particular, a nomeação da deputada Carmen Chacon, política em ascensão no Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE) como Ministra da Defesa.
Além dela, foram nomeadas também as novas titulares Beatriz Corredor como Ministra da Habitação, Cristina Garmandia como Ministra de Ciências e Tecnologia e Bibiana Aido Almagro para o Ministério da Igualdade.
A deputada Maria Tereza Fernandez de La Vega, membro importante da equipe do primeiro mandato de Zapatero, será agora sua adjunta no cargo de Primeiro Ministro.
Esta postura do governo espanhol deu margem a críticas da direita do país e até da estrangeira, em particular do recém eleito Berlusconi na Itália minimizando a capacidade do novo ministério por contemplar um maior equilíbrio de gênero.
Isto demonstra que a disputa com a direita não é apenas em torno de políticas econômicas e sociais, mas também em torno de valores democráticos.
Frustram-se novas iniciativas de paz no Oriente Médio
No período recente houve pelo menos duas tentativas para dar início a discussões que promovam a paz no Oriente Médio. Uma foi uma proposta de uma trégua de dez anos proposto pelo Hamas ao governo de Israel por intermédio do governo egípcio. Esta foi uma mudança de postura importante deste grupo, pois, implicitamente, também representava o reconhecimento do Estado de Israel, o que tradicionalmente negava.
No entanto, o governo israelense já anunciou que não confia nas boas intenções do Hamas e que esta apenas visa acumular forças para retomar os ataques. Na verdade lhe interessa manter o conflito para assegurar a unidade interna da sociedade israelense em torno da ameaça palestina.
A outra iniciativa provinha de conversações entre Israel e Síria visando um acordo formal de paz, em troca da devolução das Colinas de Golã que Israel ocupa desde a guerra dos seis dias de 1967.
Quem tentou bombardear as conversações foi um tradicional aliado de Israel, os EUA, que divulgaram informações até então mantidas sob sigilo que o alvo de um bombardeio israelense em setembro de 2007 era um reator nuclear em construção com apoio tecnológico da Coréia do Norte que possui tecnologia nuclear. Até aquele momento, nem sírios e nem israelenses reconheceram que este era o alvo.
O governo americano tem interesse em manter a tensão no Oriente Médio e que Israel continue sendo o seu instrumento de agressão quando for necessário, particularmente, contra a Síria e o Irã que o governo Bush considera parte do eixo de inimigos dos EUA.
Não está claro ainda se esta divulgação, inclusive acompanhada de fotos e vídeo, afetou as conversações que, por sua vez, também eram conduzidas em segredo, mas não há dúvida que a intenção era constranger o governo sírio.
Eleições presidenciais no Zimbabwe ainda sem resultado oficial
As eleições gerais realizadas no Zimbabwe em 29 de março até agora não tem resultado oficial sobre quem teria sido eleito presidente.
Já foi anunciado que a oposição formada pelo Movimento pela Mudança Democrática (MDC) e por um grupo dissidente do governo liderado pelo ex-ministro da economia Simba Makoni obteve a maioria dos deputados na Câmara e que empatou em número de senadores com o partido da situação representado pela União Nacional Africana do Zimbabwe – Frente Patriótica (ZANU – PF) do presidente Robert Mugabe.
Sabe-se também que Morgan Tsvangirai do MDC venceu as eleições presidenciais no primeiro turno, mas este resultado até agora não foi oficializado sob alegação da “complexidade da apuração de uma eleição geral”.
O MDC alega que seu candidato obteve 50,3% dos votos de acordo com sua apuração paralela e, apesar de o Tribunal Eleitoral alegar que não concluiu a contagem dos votos, o ZANU-PF afirma que ninguém obteve a maioria dos votos e que será necessário realizar um segundo turno de votação.
O Tribunal Eleitoral está atuando no sentido de oficializar a realização de um segundo turno ao não divulgar sequer resultados parciais e promover uma recontagem de votos de certas seções eleitorais alegando a possibilidade de irregularidades cometidas pela oposição. Para completar a manobra começou a anunciar a vitória de Mugabe nas primeiras urnas recontadas.
Se houver um segundo turno das eleições há grande probabilidade de ocorrer o mesmo que ocorreu em 2004 quando Mugabe foi anunciado como o presidente eleito apesar da provável vitória de Morgan Tsvangirai.
A campanha de intimidação já começou. Até o momento registram-se dez mortes de integrantes da oposição além de quase 400 prisões de membros do MDC. Os apoiadores do ZANU-PF estão indo às casas das pessoas para ameaçá-las para não votar no MDC no segundo turno.
Para se perceber a dimensão do problema, os portuários de Durban filiados a principal central sindical da África do Sul, a COSATU, recentemente recusaram-se a descarregar um navio carregado de armas provenientes da China e outros países vizinhos também não permitiram o descarregamento e o navio teria voltado ao seu país de origem.
Mugabe tem muito apego ao poder e já permanece na presidência do país há 28 anos e nem ele, nem os seus colaboradores querem entregar a presidência, provavelmente, por temerem investigações que possam condená-los a duras penas de prisão por corrupção ou pela violência política em 2004 e agora.
A solução do conflito e a normalização da situação do Zimbabwe estão nas mãos da Unidade Africana e, em particular, do governo da África do Sul que até o momento tem vacilado em pressionar Mugabe para não seguir a linha adotada pelo governo britânico e americano que impuseram um bloqueio econômico ao país e abertamente fazem campanha contra Mugabe.
Crise humanitária na Somália
Entre os dias 19 e 20 de abril morreram 81 pessoas em Mogadiscio, capital da Somália, vítimas do enfrentamento entre as tropas de ocupação da Etiópia e milícias das “Cortes Islâmicas” que haviam sido deslocadas da cidade em 2007 pelas tropas etíopes.
A Somália é um país que praticamente se desintegrou e que passou a ser governado por “senhores da guerra” de diferentes clãs do país desde a queda do presidente autocrático Siad Barre em 1991.
Devido à violência e à miséria generalizada muitos somalis estão optando por se refugiar no Yêmen do outro lado do Mar Vermelho. Porém, a travessia é perigosa e explorada por grupos mafiosos que chegam a cobrar US$ 600.00 pela travessia em barcos lotados e sem condições de higiene e segurança. Muitos passageiros morrem durante a viagem ou na chegada quando são obrigados pelos tripulantes a nadarem os últimos 500 metros até as praias iemenitas.
Já se registram a presença de dezenas de milhares de refugiados somalis neste país vivendo em campos instalados pela ONU e pelo governo do Yêmen em condições muito precárias e que poderão em breve se tornar um drama semelhante ao dos refugiados de Darfur.
A esquerda conquistou a maioria na Assembléia Constituinte do Nepal
Foi dado mais um passo para extinguir a monarquia representada a 240 anos pela dinastia Shah e pelo atual monarca Gyanendra e instaurar a república no Nepal. O seu governo autocrático, assim como o de seu irmão que o precedeu, provocou o início de uma resistência armada articulada pelo Partido Comunista do Nepal – Maoísta (CPN – M) em 1996.
O líder do CPN – M, Puspa Kamal Dahal, mais conhecido como “Comandante Prachanda” no bojo de fortes manifestações populares em prol da democracia, assinou um acordo de paz em 2006 que levaram a convocação de uma assembléia nacional constituinte.
Nesta eleição o CPN – M foi individualmente o mais votado, o que garante Prachanda como presidente da Assembléia. Seu partido obteve 220 deputados de um total de 601, seguido pelo Partido Comunista do Nepal – Unidade Marxista – Leninista (UML) com 110 cadeiras e o Partido do Congresso Nepalês (NCP) com 103. A proposta do CPN – M é formar uma coalizão destes três partidos, semelhante à que hoje governa a Índia, o que asseguraria uma maioria absoluta de 433 votos e a capacidade de construir uma Constituição progressista.
A expectativa é que a monarquia seja abolida e a república proclamada logo no início dos trabalhos constituintes.
O Partido Democrático do Trabalho da Coréia do Sul se divide
No dia 9 de abril ocorreram eleições parlamentares na Coréia do Sul e que foram vencidas pelo direitista Grande Partido Nacional (GNP) do presidente Lee Myung – bak ao eleger 153 dos 299 deputados do congresso coreano.
Os liberais do Partido Democrático Unificado (UDP) elegeram 81 deputados e os demais representam alguns partidos menores. Entre estes, alguns deputados do Partido Democrático Trabalhista (DLP).
Esta eleição, além de representar o crescimento da direita e por conseqüência a implantação de políticas neoliberais de ajuste estrutural também marca uma divisão ocorrida no DLP, até então o único partido de esquerda na Coréia do Sul. Desta cisão nasceu o “Novo Partido Trabalhista Democrático” que, no entanto, não elegeu nenhum deputado e os nove que o DLP possuía na legislatura anterior se reduziram a seis.
Os motivos para o “racha” foram a disputa pelo espaço político interno e a posição do partido sobre a o regime da Coréia do Norte. De acordo com os que deixaram o partido, a direção partidária se burocratizou e hegemoniza o espaço político interno impedindo novos quadros de ascender na hierarquia e a relação do DLP com o governo do Partido do Trabalho da Coréia do Norte é de engajamento político sem nenhuma visão crítica sobre o regime daquele país.
Seja qual for a razão, promover uma divisão num partido de esquerda ainda frágil num país como a Coréia do Sul é temerário e afasta a perspectiva de conquista do governo para ainda mais longe.
A crise dos alimentos
Subitamente todos os meios de comunicação e as autoridades de instituições internacionais como o Banco Mundial, FMI e ONU começaram a mencionar a crise de abastecimento de alimentos e a rápida escalada dos preços. Manifestações populares de protesto também ocorreram em várias partes do mundo.
Tampouco faltaram versões sobre os motivos da alta dos preços que de janeiro a março de 2008 tiveram um acréscimo de 40% em média, inclusive responsabilizando a produção de etanol.
Embora o aumento da produção de etanol de milho nos EUA possa representar uma parte da causa ao desviar um alimento para a produção de energia, os motivos reais são outros.
O aumento da demanda chinesa e indiana é um deles ao acrescentar cerca de 450 milhões de pessoas ao mercado mundial de consumo regular de alimentos. Porém, isto não se deu no prazo de três meses, mas sim ao longo dos últimos anos e afetaram, principalmente, os estoques de grãos, uma vez que a produção não aumentou proporcionalmente à demanda.
A subida incessante dos preços de petróleo também é fortemente responsável, pois a fabricação de fertilizantes depende de alguns de seus derivados assim como a colheita mecanizada, o transporte e o processamento dos alimentos.
Uma terceira razão é o protecionismo dos países desenvolvidos, pois desestimulam a produção em escala nos países em desenvolvimento. Um exemplo clássico é o subsídio norte americano à produção de milho que quebrou a produção mexicana quando o Nafta entrou em vigor.
Por último, há a responsabilidade dos especuladores tanto os produtores quanto os comerciantes que intermediam a venda de alimentos. Quem controla estoques, tende a segurá-los durante o processo de subida de preços para verificar até onde eles podem chegar e assim realizar maiores lucros.
Alguns governos, inclusive o brasileiro, estão dificultando a exportação de alguns produtos alimentares para assegurar a disponibilidade deles aos consumidores nacionais. Poderá funcionar no caso de grandes países produtores, mas contribuirá para aumentar ainda mais os preços no mercado mundial, uma vez que a oferta se reduzirá. Aqueles países que são dependentes da importação de alimentos como o Haiti mencionado anteriormente, sofrerão dificuldades adicionais.