A radicalização da democratização da comunicação no país foi proposta pela maioria dos expositores durante a mesa de debates Mídia, Poder e Guerra Ideológica da 1ª Conferência Nacional de Comunicação do PT, realizada na manhã desta sexta-feira (25).

A mesa, coordenada pelo secretário nacional de Comunicação, Gleber Naime, contou com os expositores: Laurindo Lalo Leal Filho, Rachel Moreno, Celso Augusto Schröder, Renato Rovai e Paulo Salvador.

O professor Laurindo Lalo Leal Filho fez um resgate do processo histórico dos meios de comunicação no espaço público, a partir do século XIX e abordou a grande influência da televisão no cenário político brasileiro.“No Brasil, não temos associações intermediárias fortes e os meios de comunicação de massa têm uma relação direta com o público. Eles construíram uma indústria televisiva forte e altamente sedutora que conquista o olhar e a mente das pessoas. O papel político da TV no país é único em todo o resto do mundo.O príncipe moderno é o eletrônico, que decodifica o pensamento da classe dominante, tornando-o o pensamento da sociedade e provocando assim o deslocamento radical da política”, enfatizou.

Ele propôs também que o PT e as forças políticas políticas progressistas passem a combinar a comunicação partidária com a comunicação social e a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação do PT tem que avançar na transformação do atual quadro, sendo fundamental uma compatibilização das pautas partidárias com a pauta hegemônica da grande mídia.”

Laurindo Leal Filho também reforçou a idéia de se optar por uma comunicação alternativa, porém sem fugir dos temas da grande mídia. “Devemos apostar nas redes alternativas de comunicação, mas não podemos deixar de olhar estes meios de comunicação de massa e não podemos fugir dos temas pautados pela grande mídia, a partir da nossa ótica”, afirmouu o professor.

O jornalista Renato Rovai, diretor da revista Fórum, abordou o surgimento de um novo momento que ele denomina de “midiático poder”, que “significa de forma prática que toda a guerra ideológica e o protagonismo da política passa pela comunicação”. Este novo momento midiático, segundo ele, surgiu com a globalização, que provocou o predomínio da mídia na política.

Rovai aposta na internet como alternativa para a democratização da comunicação no país. “Devemos começar a debater alguns mitos criados na esquerda de que a mídia sempre teve este poder, o que não é verdade, ele se intensificou de alguma forma com o nascimento da internet que nasceu há 19 anos atrás. Não se pode ignorar um produto, que não é de elite, já que, pelas previsões até 2010 no Brasil, 45 milhões de pessoas que terão acesso à internet serão da classe C”, disse.

Para Rovai, o momento é de radicalizar na questão da democratização da comunicação. “O debate estratégico é a radicalização da luta pela democratização dos meios de comunicação e tem de ser a luta de todo partido político que se diz democrático”

Ele citou o Movimento Mídia Livre, que surgiu para contrapor a mídia chamada de hegemônica e propôs que o governo federal implemente redes virtuais de acesso a internet em 100% do país, além de discutir as concessões públicas de televisão e os recursos públicos partilhados para meia dúzia de grupos pelos poderes federal, estadual e locais…

Paulo Salvador, jornalista e dirigente sindical, diretor da revista Brasil, propôs uma parceirização na construção de um novo processo de mídia no país. Para ele, a luta pela democratização dos meios de comunicação passa pelo investimento de partidos progressistas, movimentos sindicais e sociais em veículos alternativosde comunicação.

“A efetiva democratização dos meios de comunicação vai ser feita com a gente fazendo, construindo. Vamos ter que usar um sistema, um conjunto de veículos que envolva internet, jornal, revista, rádio e televisão, para chegarmos a isso. Tem que ter investimento, como a parceirização. Queremos fazer essa nova mídia porque deixamos de ser consumidores de notícia para ser produtores de notícia e queremos dar as notícias por nós mesmos. Temos muito para dizer, queremos mostrar a nossa gente. Para construir um novo Brasil, é preciso construir uma mídia nova”, enfatizou.

Rachel Moreno fez uma abordagem sobre a influência da mídia sob o ponto de vista das mulheres, que representam 52% da população brasileira. Segundo ela, o movimento organizado de mulheres começou a incluir a partir de 2007 a questão da imagem da mulher na mídia em suas ações. “A mulher só é focada pelo lado sentimental – a mulher trabalhadora, com suas demandas sociais, nunca é focalizada – a mulher nos movimentos sociais é a mesma coisa, é ridicularizada durante as ações nacionais destes movimentos”, disse.

Ela criticou também a pasteurização dos produtos e dos gostos culturais. “A mídia não inventa, mas sim captura determinados comportamentos e tendências e decide a quais dará visibilidade, legitimidade e importância. A partir daí, ela produz apelos eficientes e valoriza estilos de vida”, afirmou.

Celso Augusto Schröder,coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) criticou a falta de uma estratégia de enfrentamento contra a concentração de poder da grande mídia. “Ainda temos um política de enfrentamento denuncista contra o poder da mídia, não conseguimos montar uma estratégia de poder para conseguir efeitos positivos nesta guerra. Boa parte da disputa que agendou a democratização da comunicação resultou do esforço de militantes petistas nas organizações sociais”, disse.

Ele alertou para a compreensão de que há uma influência crescente da mídia nas decisões políticas e econômicas do país e a existência de um movimento para substituir o espaço público pelo espaço midiático.

Ele reforçou a necessidade de um controle social sobre os meios de comunicação.“Há ainda no país um déficit democrático que não foi resolvido na Constitutição de 1988 na questão da comunicação. São necessário para isso dois mecanismos: organizar a sociedade para produzir comunicação e suas versões,incidir sobre as versões que o mundo tem, e por outro lado produzir políticas públicas para fazer com que esses meios tenham algum tipo de controle público que o FNDC propõe. Essa necessidade de controle público é urgente.

Para ele, a realização pelo governo federal da Conferência Nacional de Comunicação será o grande momento em que a sociedade brasileira debaterá a questão da democratização da comunicação.

Publicado no portal do PT – 25/04/2008