O boletim Periscópio Internacional analisa nesse mês: A crise do sistema financeiro dos EUA; A constituinte na Bolívia; A situação no Tibet, Quênia e na faixa de Gaza; A violação da fronteira do Equador pelas tropas militares da Colômbia; A saúde do presidente do Timor Lorosae após o atentado à bala; E as eleições no EUA, Paraguai, Rússia, Espanha, França e Chipre.

anchor
Processo Constituinte na Bolívia
Campanha eleitoral no Paraguai
Tropas colombianas violam fronteira com o Equador
Situação das primárias nos EUA
Eleito o novo presidente do Chipre
Eleições parlamentares na Espanha
Eleições municipais na França
Eleições na Rússia
Israel invade a faixa de Gaza
Acordo no Quênia
Melhora estado de saúde de Ramos Horta
Situação tensa no Tibet
Crise do sistema financeiro prossegue

anchor
Processo Constituinte na Bolívia

O ano de 2007 se aproximava de seu final sem que o Congresso Constituinte na Bolívia indicasse que conseguiria cumprir os ditames estabelecidos para apresentar a proposta de uma nova Constituição para o país no prazo previsto de seis de dezembro. O fato de o MAS, partido do presidente Evo Morales, não ter conseguido construir uma coalizão que desse a maioria de dois terços dos votos no Congresso possibilitou que a oposição, mesmo em minoria, obstruísse os trabalhos e durante um ano de trabalho, praticamente, nada foi aprovado.

Além disso, o governo vinha enfrentando um movimento separatista em quatro províncias, Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, a chamada “Media Luna” representada pelas regiões de baixa altitude limítrofes com o Brasil e o Peru onde a principal atividade econômica é a agricultura de grandes extensões; um movimento para transformar a cidade de Sucre que hoje é sede do Parlamento, também na capital administrativa do país, bem como uma mobilização de estudantes universitários, principalmente em Santa Cruz, reivindicando a transferência de uma parcela dos impostos sobre a exploração de gás e petróleo para o ensino superior. (Neste último caso, a lei já previa esta transferência, mas o governo propôs criar uma renda mínima para os idosos bolivianos paga com recursos do mesmo imposto e estabeleceu-se a percepção que poderia haver cortes nos repasses para as universidades).

As razões para este confronto são muitas e, em vários casos, históricas, como, por exemplo, o centralismo tradicional previsto na legislação boliviana, onde os governadores das províncias eram simplesmente nomeados pelo presidente da República que também decidia sobre seus orçamentos, bem como a falta de atenção de diversos governos federais com a região da “Media Luna”. É voz corrente em Santa Cruz que a província atingiu o atual estágio de mais desenvolvida do país pelo mérito de sua própria população e sem qualquer ajuda de La Paz, sede administrativa do país.

De qualquer maneira, independentemente destas idiossincrasias que deveriam ser levadas em conta, há uma disputa em andamento sobre a hegemonia política e econômica do país e a elite tradicional que detém a ampla maioria das terras e que controla os meios de comunicação. Ela tenta mobilizar a população contra o governo de Evo Morales chamando-o de ditador, antidemocrático, fascista, totalitário, indigenista e assim por diante.

Esta disputa, no entanto, não se apresenta apenas no parlamento ou nas declarações de governadores e parlamentares. Ela se apresenta na rua e no caso das províncias envolve também uma parcela importante da população mais pobre uma vez que a elite usa os meios de comunicação e para promover uma campanha permanente contra o governo federal.

Diante desta pressão, o MAS e o governo reagiram no final do ano, porém não sem antes buscar saídas políticas negociadas com a oposição. Esta, no entanto, decidiu “esticar a corda” e anunciou a convocação de referendos nas províncias para aprovar a sua secessão do resto da Bolívia. No final de novembro com o bloqueio da sede do parlamento por populares “sucreanos” para impedir qualquer decisão, a maioria dos deputados se reuniu nas dependências de um quartel do exército em Sucre e aprovou uma proposta de nova Constituição que foi detalhada em nova reunião no dia nove de dezembro.

No dia 28 de fevereiro, o Congresso Nacional tornou a se reunir, desta vez cercado por populares que apóiam o governo, e aprovou a metodologia para submeter a proposta da nova Constituição a referendo conforme estava previsto desde o início. Este foi marcado para o dia 4 de maio, a mesma data em que a oposição definiu para realizar os referendos nas províncias para deliberar sobre seu status de autonomia.

Além do “sim” ou “não” sobre a nova Carta Constitucional, foi destacado o Artigo 398 onde os eleitores deverão decidir se o tamanho máximo permitido a uma propriedade rural será de cinco ou de dez mil hectares.
Este encaminhamento foi ratificado no dia seguinte pela Presidência da República.

O Congresso também decidiu que ele é o Poder que tem a prerrogativa de convocar referendos, o que, formalmente, torna inócuas as convocatórias feitas pelos governadores das quatro províncias, pois mesmo eles tendo sido eleitos diretamente com base nas novas regras definidas na legislação pelo ex-presidente Carlos Meza, nunca foi estabelecido o limite de suas atribuições políticas. Mesmo assim, a oposição estuda antecipar os referendos que convocou.

O governo conseguiu retomar a ofensiva política, mas independentemente dos resultados a expectativa é que a tensão prossiga ao longo do ano. (Leia mais em: www.alainet.org ).

anchor
Campanha eleitoral no Paraguai

De acordo com recente pesquisa realizada pelo instituto local COIN e replicado pelos jornais paraguaios sobre a possível composição do senado do país a partir das eleições em 20 de abril, a “Alianza patriótica para el Cambio” (APC), a coalizão que apóia a candidatura de Fernando Lugo à presidência da república obteria 16 vagas (36%) de um total de 45 existentes no Senado. Estas vagas estariam distribuídas internamente na coalizão com 11 para o Movimento Tekojoja e 5 para o Partido Liberal (PLRA). Os demais integrantes da APC não elegeriam ninguém.

Quanto aos demais partidos que apresentaram candidatos presidenciais, a pesquisa aponta que o “Partido Colorado” ficaria em segundo lugar elegendo 13 senadores, o UNACE em terceiro com 12 e o “Patria Querida” em quarto com 4 senadores.

Ainda de acordo com diferentes pesquisas sobre a eleição presidencial, a vantagem de Lugo sobre Oviedo do UNACE e Blanca Ovelar do Partido Colorado de situação, por sua vez empatados no segundo lugar, varia de 6 a 12%, indicando uma disputa cada vez mais acirrada à medida que a eleição se aproxima.

Porém, a preocupação com a lisura do pleito é grande, uma vez que o Partido Colorado enfrenta um risco real de deixar o poder pela primeira vez em mais de 60 anos e fará de tudo para que isto não aconteça.

Diante deste quadro tem havido uma mobilização positiva do movimento social e dos partidos de esquerda nos países vizinhos de modo a acompanhar o processo eleitoral e contribuir para garantir a necessária transparência.

anchor
Tropas colombianas violam fronteira com o Equador

Na madrugada do dia 1º de março as Forças Armadas atacaram um acampamento das FARC em território equatoriano matando 24 guerrilheiros, entre eles, um de seus comandantes mais importantes, Raul Reyes.

Esta violação da fronteira e soberania de um país vizinho causou grande comoção internacional, levando Equador, Venezuela e Nicarágua a romper relações diplomáticas com a Colômbia e no caso dos dois primeiros a reforçar suas fronteiras militarmente.

Houve uma reunião de emergência do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) no dia 5 de março que condenou o fato por intermédio de uma resolução que reafirmou a “inviolabilidade das fronteiras e soberania das nações sob qualquer pretexto” e aprovou uma investigação mais detalhada sobre o ocorrido para subsidiar uma resolução definitiva do Plenário da OEA que ocorreria posteriormente.

Poucos dias depois do ataque, durante a reunião do “Grupo do Rio” na República Dominicana, o presidente Álvaro Uribe pediu desculpas ao presidente Rafael Correa do Equador pelo ocorrido, o que baixou a tensão e levou ao restabelecimento das relações diplomáticas entre os quatro países, embora, ao contrário do desejado, ele não se comprometesse a não repetir a ação.

No entanto, apesar da distensão, a reunião da Unasur prevista para o final do mês de março em Cartagena de Índias na Colômbia deverá ser adiada para o meio do ano na perspectiva de um ambiente mais favorável à discussão sobre a integração sulamericana.

A plenária da OEA ocorrida em 17 e 18 de março condenou a violação da fronteira equatoriana pela Colômbia ao repudiá-la e se negar a aceitar a justificativa colombiana de legítima defesa por meio de ataque preventivo contra grupo terrorista, tese apoiada pelos EUA, que, no entanto, ficaram isolados na reunião.

Posteriormente, descobriu-se que entre os mortos se encontrava um cidadão equatoriano, o que torna o acontecido ainda mais grave e o governo equatoriano estuda que medida pode tomar em nível internacional para questionar o governo colombiano.

Uribe aposta na política belicista para manter sua popularidade em alta e este episódio o fortaleceu internamente. Caso consiga manter a ofensiva, certamente buscará nova alteração na Constituição que lhe permita disputar um terceiro mandato.

A probabilidade é que ele amplie a ofensiva militar este ano, até porque não tem a segurança de manter o apoio americano nos mesmos níveis de hoje com o fim do mandato de Bush em 2009, ano em que também vence o contrato para manutenção da base americana em Mantra no Equador, que o presidente Correa afirmou que não renovará.

A Secretária de Estado dos EUA, Condolleeza Rice, esteve no Brasil e no Chile na semana anterior à reunião da OEA com o intuito de ajudar politicamente o governo Uribe, praticamente seu único aliado na região, ao reafirmar a “Doutrina Bush” e justificar o ataque colombiano no Equador.

anchor
Situação das primárias nos EUA

Para o candidato republicano John McCain, as primárias que restam do seu partido não significam mais uma disputa interna pela sua candidatura à presidência dos EUA. Agora é uma boa oportunidade para fazer campanha real junto à população, uma vez que seus oponentes principais Mitt Romney e Mick Huckabee já desistiram e o apóiam, além de ele já ter a maioria de delegados necessários para sufragá-lo na convenção republicana de 1 a 4 de setembro.

Algumas pesquisas recentes o dão como vencedor na hipótese de disputar com a candidata democrata Hillary Clinton e em empate técnico se o candidato democrata for Barack Obama. (Leia mais em: www.gallup.com ).

As primárias democratas que ocorreram no início de março nos estados de Ohio, Texas, Vermont, Rhode Island, Wyoming e Mississipi ao invés de consolidar uma das candidaturas, deram fôlego à continuidade da disputa provavelmente até a convenção que ocorrerá de 25 a 28 de agosto.

O resultado foi praticamente um empate entre Hillary Clinton e Barack Obama, embora este tenha até o momento uma diferença de mais de cem delegados sobre ela. Porém, a atual situação ainda dá chance a Hillary Clinton, principalmente, se ela se sair bem na primária de abril na Pensilvânia onde 188 delegados estarão em disputa ou se prevalecer a atual diferença. Em maio haverá as primárias de Indiana e Carolina do Norte onde serão eleitos 219 delegados, além de outros momentos até a prévia de 7 de junho em Porto Rico.

Além destes momentos, ainda há a indefinição dos delegados natos que são quase 800, a possibilidade de nova primária no Michigan e os delegados que apoiaram John Edwards antes de ele desistir. A direção democrata da Flórida aparentemente já desistiu de refazer a prévia.

Como Obama está na dianteira em número de delegados também passou à dianteira na quantidade de ataques que vem recebendo da imprensa e de sua oponente que chegou a convidá-lo para ser seu candidato a vice-presidente após vencer a primária de Ohio.

Os ataques mútuos dos candidatos democratas podem desgastá-los e favorecer John McCain, uma vez que o que estará em debate não é apenas a política externa como a impopular ocupação do Iraque, mas particularmente a economia diante da recessão americana que está no seu início.

anchor
Eleito o novo presidente do Chipre

O candidato comunista Demetris Christofias venceu o segundo turno das eleições presidenciais em Chipre no dia 24 de fevereiro, derrotando seu rival conservador, Ioannis Kasulides ao obter 53,5% dos votos.

Christofias – que defende a retomada da negociação com os turcos sobre a divisão de Chipre – converteu-se no primeiro presidente de orientação comunista a assumir a chefia de Estado de um país da União Européia com apoio do partido social-democrata Edek i del Diko do presidente Tassos Papadoulos que disputou a reeleição, mas que chegou em terceiro lugar .

Chipre se tornou independente da Inglaterra em 1960. Sua população é composta por uma maioria de gregos que vivem na parte sul da ilha e por uma minoria turca no norte. Em 1974, um grupo de oficiais gregos da Guarda Nacional Cipriota favorável à anexação do Chipre pela Grécia e apoiados pela Junta Militar Grega deu um golpe e depôs o presidente e arcebispo Vaneziz Makarios, por sua vez um político progressista e defensor do movimento dos países não alinhados.

O governo turco, constantemente em conflito com a Grécia e temerosa do aumento de seu poder ocupou militarmente esta parte do país e bombardeou a capital Nicósia a pretexto de proteger sua comunidade ao norte da ilha.

A ameaça de guerra entre Turquia e Grécia, somada à oposição grega interna e a pressão internacional, provocou a renúncia da Junta de Coronéis que governava a Grécia desde 1967 e o retorno da democracia. Houve uma trégua entre as duas comunidades cipriotas, mas a Turquia manteve suas tropas na região norte. Posteriormente, esta declarou sua independência e fundou a República Turca do Norte do Chipre que somente é reconhecida pela Turquia.

Em 2004 houve um referendo sobre um plano da ONU para a reunificação do país que foi aceito por 65% dos turco-cipriotas, mas rejeitado por ampla maioria dos greco-cipriotas que representam 80% do total da população da ilha que é de, aproximadamente, um milhão de habitantes.

Neste mesmo ano houve a adesão de Chipre a União Européia o que, no entanto, significa que apenas a parte mais rica aderiu, pois a República Turca do Norte não é reconhecida pelos países europeus e a Turquia ainda está longe de se tornar um membro da UE.

A integração do Chipre na UE se aprofundou a partir de 1º de janeiro de 2008 com a adoção do Euro como sua moeda e a eleição de Cristofias poderá ser importante para retomar o debate sobre a unificação.

anchor
Eleições parlamentares na Espanha

O “Partido Socialista Obrero Español” (PSOE) sagrou-se vencedor nas eleições parlamentares de nove de março com 43,64% dos votos o que lhe assegurou 169 cadeiras no Parlamento de um total de 350. O segundo colocado foi o “Partido Popular” (PP) de direita com 40,11% e 153 cadeiras.

Os partidos regionais mais centristas como o “Partido Nacional Vasco” (PNV) e o “Convergência e União da Catalunha” (CiU) praticamente mantiveram seu peso tradicional no parlamento. Porém, pela primeira vez o PSOE foi o mais votado nestas duas regiões.

Dois partidos à esquerda do PSOE, a “Izquierda Unida” (IU) e a “Esquerda Republicana da Catalunha” (ERC) foram mal e juntos perderam 11 das 16 cadeiras que possuíam no Parlamento.

Com este resultado, José Luis Rodríguez Zapatero, o atual Primeiro Ministro, será reconduzido ao cargo.

O PSOE não alcançou a maioria de votos para garantir as votações legislativas sozinho daqui por diante. No entanto, ao contrário da atual composição de governo com o ERC e o PNV que lhe dava maioria no Parlamento o tempo todo, é provável que agora somente faça alianças pontuais.

Embora não vencesse as eleições, o PP conseguiu três assentos a mais do que tinha no parlamento. Porém, encontra dificuldades em afirmar-se como um partido liberal e de direita moderno, pois possui um setor extremamente conservador e de extrema direita com fortes heranças do franquismo. Há rumores de que o ex-primeiro ministro, José María Aznar, lidere os setores mais à direita do PP na criação de um novo partido.

A conservadora Igreja Católica espanhola fez campanha aberta para o PP devido a uma série de leis introduzidas pelo PSOE ao longo de seu mandato como a união civil de homossexuais, legalização do aborto e compensações para as vítimas do franquismo.

No entanto, os votos que representam as posições partidárias que vão da centro-esquerda até a esquerda foram em torno de 55%, demonstrando que a população não apóia o retrocesso político que a Igreja e o PP defenderam.

anchor
Eleições municipais na França

Estas ocorreram em dois turnos nos dias 9 e 16 de março e o resultado foi favorável ao Partido Socialista Francês que recebeu 48,92% dos votos, além de eleger os prefeitos de três das quatro maiores cidades, Paris, Lyon e Toulouse. No caso das duas primeiras cidades, os prefeitos Bertrand Delanoë e Gérard Colomb foram reeleitos e a surpresa foi a vitória do PS em Toulouse que é um reduto tradicional da direita que, no entanto, manteve o poder em Marseille.

Os partidos à esquerda do PS alcançaram apenas 0,2% dos votos, o que no caso do PCF significou a eleição dos prefeitos de 62 cidades com 9 a 30 mil habitantes e de 28 com 30 a 100 mil habitantes. Os comunistas mantiveram o poder em várias cidades que possuem relações especiais com cidades brasileiras como Nanterre e Saint Denis, embora na cidade de Montreuil perdessem para uma candidata do Partido Verde. Na cidade de Dunquerque, que tem uma relação especial com Vitória do Espírito Santo, foi reeleito o prefeito Michel Delebarre do Partido Socialista.

O partido de centro direita UDF liderado por François Bayrou, que a imprensa tentou transformar num “tertius” nas eleições presidenciais de 2007, obteve apenas 2,08% dos votos e a extrema-direita representada principalmente pelo Partido Nacional de Le Pen chegou a 0,33%.

A UMP do presidente Nicolas Sarkozy não conseguiu repetir o feito do ano passado quando venceu Ségolène Royal por 53% a 47% no segundo turno das eleições presidenciais, mas mesmo assim o seu partido recebeu 47,47% dos votos. Foi uma derrota, porém insuficiente em si mesma para provocar mudanças mais profundas nas políticas de cunho neoliberal que vem implementando. O mais provável é que se aproveite do resultado para promover algumas pequenas mudanças na equipe para tentar aprofundar suas “reformas”.

Nas eleições municipais francesas repetiu-se a concentração de votos nos maiores partidos de oposição e situação, assim como ocorreu nas recentes eleições parlamentares na Espanha. Isto demonstra a dificuldade que os partidos menores, principalmente os mais à esquerda tiveram para apresentar propostas alternativas para mobilizar os eleitores, mas é prematuro afirmar que o eleitorado dos dois países tenha adotado um sistema bipartidário como vem afirmando a grande imprensa e que simplesmente se encaminha para o centro como afirmam vários analistas políticos.

anchor
Eleições na Rússia

Quatro candidatos disputaram as eleições presidenciais russas no domingo, dia dois de março, para substituir Vladimir Putin que está terminando seu segundo mandato e que não pode concorrer novamente apesar de sua alta popularidade, pois a Constituição da Rússia não o permite.

O candidato do Rússia Unida, o mesmo partido de Putin e apoiado por ele foi Dmitri Medvedev que obteve 70,2% dos votos. O segundo colocado com 17,8% foi Gennadi Zyuganov do Partido Comunista da Rússia seguido pelo candidato nacionalista de direita Vladimir Jirinovski que alcançou 9,4%. O candidato que defendia as propostas econômicas mais liberais, bem como o ingresso da Rússia na União Européia, Andrei Bogdanov, recebeu apenas 1,3% dos votos.

Medvedev havia sido Vice – Primeiro Ministro e também Chefe de Gabinete de Putin e este anunciou que quando deixar a presidência se candidatará ao cargo de Primeiro Ministro uma vez que foi eleito deputado nas eleições parlamentares ocorridas em dezembro de 2007.

O Parlamento Europeu enviou um grupo de 22 observadores para acompanhar as eleições que, apesar das queixas dos atuais partidos russos de oposição quanto à lisura do pleito, foi comedido no seu parecer ao afirmar que “as eleições presidenciais repetiram a maioria dos defeitos ocorridos durante as últimas eleições parlamentares de dezembro passado, porém, o resultado teria sido o mesmo se não tivessem ocorrido”.

Vários governantes, entre eles Bush dos EUA e Sarkozy da França, enviaram mensagens de felicitações ao novo presidente.

O resultado em grande parte se deve à unidade nacional constituída em torno do governo Putin devido ao seu discurso nacionalista e a política de recuperação do poderio militar, além de visível melhoria da economia, particularmente, se comparada com os governos que o antecederam. Os salários e pensões também aumentaram ao longo dos últimos anos trazendo apoio dos sindicatos.

O resultado destes dois processos eleitorais reafirma a hegemonia política do grupo de Putin e não há no momento uma alternativa político-partidária que o desafie concretamente.

anchor
Israel invade a faixa de Gaza

Apesar das reuniões que vinham ocorrendo entre a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e o governo de Israel no embalo da Conferência de Annapolis promovida pelo governo dos EUA no ano passado, quando se acordou retomar as negociações com vistas a um acordo de paz, as forças armadas israelenses invadiram a Faixa de Gaza no final do mês de fevereiro sob a alegação de conter os disparos de foguetes efetuados por militantes do Hamas e outros grupos sobre cidades israelenses situadas na região sul.

Após grande pressão internacional se retiraram, não sem deixar para trás 120 mortos e dezenas de feridos, além da ameaça do Vice-Ministro trabalhista Matan Vilnai que em caso de continuidade dos disparos de foguetes, os palestinos deveriam se preparar para enfrentar um “holocausto”. Ao utilizar o termo hebraico “Shoah”, a identificação com o holocausto nazista contra os judeus foi imediata.

A ANP chegou a se retirar das negociações em protesto, mas também pressionada internacionalmente, voltou atrás.

Estas negociações foram uma tentativa de Bush de melhorar sua imagem diante da política desastrosa que promoveu no Oriente Médio desde o início de seu primeiro mandato em 2001, mas dificilmente chegarão a qualquer resultado, pois se discute a paz enquanto a população é bombardeada e se discute a definição de território enquanto a colonização israelense prossegue.

Somente uma atuação internacional séria voltada efetivamente para o estabelecimento de dois estados e sem a interferência de interesses individuais poderá oferecer uma solução duradoura.

anchor
Acordo no Quênia

O resultado das eleições presidenciais no Quênia foi questionado por uma parcela importante da população por meio de uma jornada de protestos que causaram mais de mil mortes e centenas de feridos.

Este questionamento e as manifestações violentas ocorreram devido à vitória eleitoral em dezembro do presidente Mwai Kibaki, candidato à reeleição e que enfrentou Raila Odinga do Movimento Democrata Laranja, embora se tratasse de uma disputa entre candidatos da elite do país.

Possivelmente até por esta razão, o ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan, obteve sucesso na empreitada de intermediar um acordo entre os dois que permita compartilhar o poder. A fórmula foi criar o cargo de primeiro ministro atribuído a Odinga e o cargo de vice primeiro ministro a ser preenchido por alguém indicado por Kibaki.

Isto serviu para apaziguar os ânimos, mas pouco contribuirá para resolver o problema social do país e que se centra em grande parte na posse da terra, particularmente, do Vale do Rift onde se encontram as mais férteis e cuja posse é controlada pela etnia Kikuyo do presidente Kibaki.

anchor
Melhora estado de saúde de Ramos Horta

Praticamente 40 dias após ser ferido gravemente por um atentado à bala, o presidente do Timor Lorosae, José Ramos Horta, vem se recuperando num hospital na cidade de Darwin na Austrália.

Segundo ele o autor dos disparos teria sido Marcelo Caetano membro da milícia do ex-oficial do exército Alfredo Reinado que morreu durante o atentado.

Os remanescentes desta milícia ainda se encontram foragidos justificando a manutenção do estado de sítio e a grande presença militar australiana no país.

É difícil imaginar que este conflito seja meramente o resultado da disputa entre grupos rivais ou antigos companheiros em armas durante a luta pela independência. O fato é que a rebelião deste grupo de ex-militares e o atentado, têm canalizado todas as energias do governo desta que é uma das nações mais novas do planeta, além de dificultar que ele adote medidas mais contundentes em relação à posse e exploração do petróleo que deveria ser timorense, mas ainda se encontra sob controle de empresas estrangeiras.

anchor
Situação tensa no Tibet

No início do mês de março irrompeu uma série de manifestações no Tibet contra o governo chinês. Iniciadas por monges budistas, tiveram a adesão de uma parcela da população.

No entanto, há informações controversas sobre o que realmente ocorreu, bem como a dimensão dos fatos, mas é seguro que houve violência, tanto de manifestantes contra instituições e pessoas ligadas ao governo central, quanto das forças de segurança contra os manifestantes.

O resultado foi a ocorrência de um número de mortos, cuja dimensão ainda é desconhecida, mas que pode variar de 30 a 100, bem como dezenas de feridos e a depredação de estabelecimentos comerciais e governamentais.

Não é a primeira vez que isto acontece desde que o governo central interveio em 1959 e destituiu o governo teocrático dos “Lamas budistas” na província tibetana. Este partiu para o exílio na cidade de Dharamsala na Índia junto com mais de cem mil pessoas na época, liderado por Tenzin Gyatso, o “Dalai Lama” que seria a 14ª reencarnação do Buda de acordo com esta religião e também o líder supremo do Tibet.

A questão étnica está presente neste conflito, mas não é a única. Outra razão é a questão religiosa principalmente pela intervenção do governo central ter reduzido o poder que os monges, principalmente os “Lamas” detinham sobre a população tibetana, majoritariamente agrícola e pastoril. Consta que até a intervenção militar em 1959, o sistema econômico da província era meramente uma continuidade do feudalismo tradicional e que era dirigido ou, no mínimo tolerado, pelos monges.

A disputa entre a transformação deste sistema para o modelo econômico, social e político adotado pelo governo chinês, em suas várias fases, tem se mantido como uma fonte permanente de tensão interna e, freqüentemente, também um fator de interferência externa, como ocorria particularmente durante a “guerra fria”. A “Causa Tibetana” granjeou muito apoio externo ao “Dalai Lama” por parte dos que questionam o modelo político chinês, dos militantes de direitos humanos e, obviamente, de muitos budistas.

No episódio atual, para além da solidariedade sincera e desinteressada, há também certa dose de manipulação mediática e de intervenção de governos que competem com os chineses

É um fato concreto também que os benefícios do atual crescimento econômico da China não chegou ao conjunto da população. Apesar dos avanços nos indicadores nacionais como o crescimento do PIB per capita e do IDH chinês, o próprio governo reconhece a existência de aproximadamente 200 milhões de pessoas, aproximadamente 20% da população, que vivem abaixo da linha da pobreza, particularmente, na área rural.

Muitas delas vivem em regiões distantes e inóspitas como é o caso do Tibet, o que evidentemente facilita o engajamento das pessoas comuns em campanhas que reivindicam melhores condições de vida e maior participação política.

O momento escolhido pelos organizadores dos protestos está relacionado com a realização dos Jogos Olímpicos de Beijing a se iniciarem em 08 de agosto. O governo chinês promoveu um dos maiores investimentos financeiros até hoje para acomodar um evento desta natureza na expectativa de obter grandes retornos econômicos e políticos. Seus opositores querem exatamente o contrário, aproveitar a atenção do mundo sobre a China, antes e durante as Olimpíadas, para chamar a atenção sobre a sua causa.

anchor
Crise do sistema financeiro prossegue

A ebulição dos mercados globais iniciada pela crise especulativa do chamado “Sub Prime” nos EUA (ver Um olhar sobre o Mundo #21), prossegue, pois os investimentos especulativos que movem cerca de US$ 1,5 trilhões ao dia prosseguem e saltam de uma carteira para para outra. Saíram do mercado imobiliário quando este começou a dar prejuízos devido ao crescimento da inadimplência dos mutuários americanos, foram para as Bolsas de Valores, depois para as commodities e agora para o ouro e os títulos do governo americano.

Porém, cada vez que mudam de local de especulação, deixam o anterior com a pecha de “mau negócio” e arrastam outros especuladores junto. Foi o que aconteceu com a falência do “Banco Bear Stearn” que, no entanto, foi socorrido pelo governo americano que articulou sua incorporação pelo Banco Morgan; com as perdas acumuladas nas bolsas de valores em vários países e com a queda nos preços das commodities agrícolas e minerais.

Apesar do governo Bush se auto-classificar de liberal economicamente, o seu receituário para enfrentar a crise que já denota o início de uma recessão no país, foi mais uma vez “Keynesiano” como foi no enfrentamento da crise decorrente dos atentados de 11 de setembro de 2001. Além da devolução de impostos para uma parcela da população, do salvamento do banco mencionado para evitar que outras instituições financeiras fossem contaminadas, novamente o Banco Central (FED) americano reduziu os juros.

Esta medida tem dois objetivos: ampliar o consumo interno no país para tentar evitar o crescimento do desemprego e dar maior confiabilidade aos títulos do Tesouro dos EUA. A certeza que honrarão o pagamento das taxas tende a ampliar o investimento especulativo (Hot Money), pois mesmo que as taxas de juros sejam mais baixas, elas são seguras.

A imprensa mundial divulgou que a crise já causou a redução dos valores de bolsas e outros destinos de investimentos especulativos em cerca de US$ 2,0 trilhões nos EUA e na América Latina, o que é um sinal que ainda não se chegou ao fundo do poço.

O problema maior é que este tipo de crise tende a se repetir com a liberalização financeira, pois quando os problemas se instalam os Estados, isto é, os contribuintes, intervêm e pagam a conta para evitar a falência do modelo e salvo algum especulador mal sucedido, os mais espertos inclusive chegam a obter ganhos ainda maiores no momento da confusão.