O principal desafio para a organização do PT neste próximo período está na criação das condições necessárias para que haja um estreitamento dos laços com os movimentos sociais urbanos e do campo.
É preciso que o Partido retome sua tarefa de ser o fio condutor das diversas lutas travadas na sociedade e de aglutinar os movimentos sociais no sentido de unificar suas demandas pautando o elemento central das lutas dos trabalhadores: o enfrentamento ao capitalismo como forma de organização da produção material e da ideologia burguesa.

Historicamente, os sindicatos e movimentos sociais de vários setores compuseram as bases do PT. Cada um deles contribuiu, significativamente, para o acúmulo do debate sobre realidades e enfrentamentos distintos: a luta no campo, no chão de fábrica, nas ruas.

Entretanto, o Partido deve continuar sendo a vanguarda que os orienta através de seu programa e sua estratégia. Somente ele pode superar as especificidades de cada setor e propor uma pauta unificada que diz respeito ao enfrentamento as questões estruturais e de fundo, responsáveis pelo agravamento das condições de vida e de trabalho com as quais a nossa classe se defronta cotidianamente.

É preciso, no entanto, que o Partido ocupe este papel de maneira que sua liderança encontre respaldo no conjunto dos movimentos. É preciso que o PT dialogue com suas bases, participe de suas discussões, acompanhe suas realidades. É preciso que estas bases tenham acesso as instâncias partidárias e que, conjuntamente, sejam debatidos os temas necessários para a disputa da sociedade, rumo a construção do socialismo.

Temos a tarefa, portanto, de fortalecer os setoriais (mulheres, negros e negras, GLBTT, Sindical, Agrário, cultural, ambiental) e resgatar seus fóruns como espaço privilegiado de debates; de fortalecer os movimentos urbanos e do campo, ressaltando a importância da aliança operária e camponesa.

Finalmente, o PT tem a tarefa de abrir suas portas ao mesmo tempo em que tem que ir as ruas para dialogar com o conjunto da classe trabalhadora apontando a nossa identidade, nossos desafios e nossas perspectivas na transformação; convencer aqueles e aquelas que ainda não enxergam a classe trabalhadora como sua, que ainda tem esfumaçado e pouco definida a relação antagônica com a burguesia.

A tarefa não e fácil. O capitalismo e o neoliberalismo foram ofensivos no processo de precarização das condições de trabalho e desorganização da esquerda brasileira. Não podemos ter dúvidas, portanto, do nosso lado nessa luta. Não podemos permitir que a burguesia nos enfraqueça e mascare as contradições profundas que determinam a exploração do homem.

Precisamos, finalmente, deixa muito claro nas nossas resoluções e na nossa organização interna para que viemos e para onde vamos sob pena de não mais conseguirmos polarizar as diferenças entre os projetos políticos para a sociedade brasileira. E, nesse jogo, se não pudermos ganhar na política, dificilmente venceremos através dos mecanismos clássicos da direita que tem no poder econômico o principal instrumento de disputa da sociedade.

Somente com ampla mobilização social amparada em um aparato forte com inscrição decisiva no cenário político nacional – como o PT tem sido ao longo dos seus 27 anos –, muita política e muito trabalho, poderemos dar o salto qualitativo necessário rumo à revolução socialista e uma sociedade em classes onde não haja mais exploração do homem pelo homem.

Marcelino Galo, presidente do PT-BA