5. Relações familiares e laços afetivos, Instituições de longa permanência e Percepções da morte
5.1 Relações familiares e laços afetivos
5.2 Instituições de longa permanência
5.3 Percepções da morte
A maior parte da população idosa vive em núcleos familiares, partilhando da companhia de esposa (no caso dos homens idosos), filhos (idosos e idosas) e muitas vezes netos, sendo, em grande parte, responsável pelos cuidados com eles.
Participam ativa e economicamente na vida da família, sendo boa parte das vezes o chefe ou um dos principais provedores e ajudando a família, ainda que dela também dependam, sobretudo para atividades fora de casa.
Consideram as tarefas que realizam de muita responsabilidade e sentem-se satisfeitos com o grau de responsabilidade que elas lhes exigem. No entanto, suas opiniões são menos solicitadas que a dos não idosos, muito embora a freqüência com que opinam nas decisões familiares seja considerada satisfatória pela maioria.
Em geral, sentem-se à vontade com a família, sobretudo por considerá-la unida e harmônica. Metade recebe visita da família e de amigos semanalmente, enquanto a saída para visita a parentes e amigos é um pouco menos constante. A falta de regularidade de visitas de parentes ou mesmo a ausência delas é idêntica entre idosos e não idosos, e pode ser considerada baixa.
De modo geral, encontram os amigos em casa ou seus arredores (vizinhança), na igreja ou outros templos religiosos e ao saírem para outras finalidade,s como a ida a compras ou à médicos.
- Cerca de metade dos idosos brasileiros vive com filhos(as) (54%) e esposo(a) (51%), sendo que 71% dos homens vivem com companheira, e entre as mulheres só 36%.
- Aproximadamente um terço dos idosos vivem com netos(as) (30%) e 16% são responsáveis por sua criação.
- Mesmo não morando com netos, é forte a participação dos idosos no cuidado destes, seja passando com eles o dia inteiro (5%), parte do dia (13%), ou os finais de semana (6%). Mais as mulheres que os homens ajudam no cuidado com os netos (47%, contra 27%), especialmente as que estão na faixa etária de 60 a 69 anos (55%). Nesta idade, uma em cada 4 mulheres cria seus netos.
- As relações intergeracionais se estendem por todas as faixas etárias: 23% residem com crianças de até 10 anos, 25% com adolescentes e jovens de 10 a 20 anos, 27% com pessoas de 20 a 30 anos a 25% com pessoas de 30 a 40 anos.
- Vivem sozinhos 15% dos idosos, proporção cinco vezes maior quer entre os não idosos (3%).
- A grande maioria dos idosos (88%) contribui para a renda familiar, muitas vezes como o principal provedor da família. A contribuição na renda familiar é quase unânime entre os homens idosos (95%) e entre as mulheres, cresce à medida que aumenta a faixa etária (de 78% entre as que têm entre 60 e 69 anos a 92% entre as com 80 anos ou mais).
- A autonomia dos idosos, considerados como chefes das famílias onde habitam, se revela entre 71% dos idosos e 21% consideram como chefe o marido ou esposa. Apenas 7% atribuem a chefia da família a algum filho e 3% ao genro ou nora, tendência maior entre as mulheres.
- Quase quatro em cada 10 idosos (38%) tem no(a) esposo(a) a pessoa mais próxima e que lhe mais dá atenção, 27% tem um filho(a) como cuidador e 14% reconhecem algum não morador do domicílio como a pessoa que mais lhe dá atenção. Já os(as) netos(as) têm participação pouco efetiva no cuidados com os idosos (4%).
- Ter o cônjuge como pessoa mais próxima é mais freqüente entre os homens (58%) que entre as mulheres, estas apenas 24% tem no esposo a pessoa que lhe dá mais atenção. Por outro lado, os(as) filhos(as) dão mais atenção às mulheres idosas (36%, contra 15% entre os homens) e tendem a ter maior participação quanto mais velhos ficam os pais.
- Ter como cuidador uma pessoa que não resida na casa ocorre principalmente entre as mulheres e tende a aumentar, conforme aumenta a idade (de 12% a 22%).
- A maior parte dos idosos (77%) se sente a vontade em relação à sua família, o que se deve principalmente ao tipo de relação que mantém (77%), pautada na união e harmonia (58), liberdade (16%), afeto (14%) e respeito (11%).
- Uma parcela de 22%, no entanto, não se sente totalmente à vontade com suas famílias, apontando razões opostas para esta sensação, ou seja, sentem que a família é desarmônica (10%), com muitos desentendimentos (5%) ou ausência de contato (2%); outros avaliam que não têm liberdade (6%), ou são tratados com desrespeito (1%) ou sem afeto (1%).
- Indagados sobre coisas que fazem sozinhos ou precisam de ajuda, observa-se que as tarefas para as quais os idosos mais precisam de ajuda são consertos e reparos domésticos (45%), limpeza e lavagem de roupa (43%, ambas), e cozinhar (33%), tarefas que fazem parte da rotina e da distribuição do trabalho doméstico doméstica – para as quais outros moradores, portanto, também recebem ajuda.
- Para tarefas que envolvem sair de casa, tais como fazer ou carregar compras, resolver problemas fora de casa ou ir ao médico, 39%, 24% e 28% dos idosos, respectivamente, costumam receber a ajuda de alguém para fazê-las.
- Para tarefas de caráter mais pessoal a necessidade de ajuda por parte dos idosos é mínima: apenas 9% precisam de ajuda para tomar remédios, 6% para locomover-se e 3% para vestir-se; 2% necessitam de ajuda para se alimentar, fazer higiene pessoal, ir ao sanitário ou levantar-se da cama ou cadeiras.
- Um terço dos entrevistados (32%) precisa de ajuda financeira para manter-se, mas este é também a ajuda que os idosos mais oferecem, uma vez que 29% ajudam na manutenção financeira de outras pessoas.
- Ajudar na limpeza doméstica e acompanhar pessoas ao médico, são tarefas em que os idosos mais auxiliam a outros (12%, ambas), além de 11% que ajudam no preparo de comidas, 8% ajudam a lavar roupas e 7% a fazer consertos e reparos domésticos, assim como a fazer ou carregar compras e ainda 6% costumam ajudar outras pessoas indo resolver problemas fora de casa.
- Nas tarefas de caráter mais pessoal os idosos ajudam mais do que são ajudados, como dar remédios a outros residentes do domicílio (10%), ajudar na locomoção (6%), ajudar a vestir, alimentar e levantar alguém de camas ou cadeiras (5% cada), fazer higiene pessoal e levar ao sanitário (4%).
- Entre os idosos dois terços consideram de muita responsabilidade as atividades que desenvolvem (66%), 8% nem muita nem pouca, 21% acham que suas atividades são de pouca responsabilidade e 5% não acham que têm responsabilidade. De modo geral, a maioria (83%) está satisfeita com o grau de responsabilidade que têm com as atividades que pratica.
- A participação nas decisões familiares é freqüente a três quartos da população adulta não idosa, com 44% sendo consultados sempre e 31% de vez em quando. Entre os idosos, a consulta da família às suas opiniões é ligeiramente menos freqüente, com 39% consultados sempre e 30% de vez em quando. 18% não participam das decisões da família, incidência duas vezes maior que entre não idosos (9%).
- De modo geral, tanto idosos quanto não idosos consideram boa a freqüência com que são consultados nas decisões familiares (75%, ambos). 16% entre os não idosos e 12% entre os idosos estão insatisfeitos com essa freqüência.
- Metade da população adulta brasileira recebe visita da família ao menos uma vez por semana (49%, ambos). Entre os idosos 18% são visitados todos os dias, enquanto 15% dos não idosos recebem visitas diárias. A falta de regularidade de visitas ou mesmo a ausência delas são idênticas entre idosos e não idosos (17%).
- A saída para visita a parentes é mais constante entre não idosos que entre os idosos – pouco mais de um terço (36%) visitam parentes ao menos uma vez por semana, enquanto 24% dos idosos possuem esta mesma freqüência. Por outro lado, um terço dos idosos (33%) não tem freqüência regular ou não visitam parentes, enquanto 22% dos não idosos agem desta forma.
- Metade dos idosos recebe visitas semanais de amigos, enquanto entre os não idosos chega a aproximadamente dois terços (62%) – 17% dos idosos recebem visita de amigos diariamente e um terço (33%) ao menos 1 vez por semana, enquanto entre os não idosos 1 em cada 4 são visitados por amigos diariamente e 37% ao menos uma vez por semana.
- A freqüência de saída para visita a amigos também varia entre idosos e não idosos. Cerca de um terço dos idosos (30%) tem o hábito de ir à casa de amigos ao menos uma vez por semana, enquanto metade dos não idosos fazem visita a amigos com essa freqüência. Da mesma forma, 45% dos idosos não costumam visitar amigos ou não tem freqüência regular para fazê-lo, enquanto só 23% dos não idosos não cultivam essa prática.
- Cerca de metade dos idosos (55%) costuma encontrar os amigos em casa, visitando ou sendo visitados, ou em seus arredores, na rua, na calçada, perto de casa (41%). Mais de um terço (37%) tem nas igrejas ou templos religiosos o local de sua socialização (sobretudo as idosas), outros 19% os encontram casualmente quando vão às compras. Ir ao médico ou postos de saúde, praças, bares, clubes ou bailes, grupos de convivência e bingos são outros pontos de encontro, ou ainda, mesmo que não os procure, os idosos encontram amigos em meios de transporte e filas.
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5.2. Instituições de longa permanência
A possibilidade de poder vir a morar em uma instituição, se necessário, é algo já pensado e possível para quase dois terços dos idosos, se não houver outra opção.
A praticidade e funcionalidade das instituições, como não ter que se preocupar com os afazeres e horários são os aspectos mais positivos vistos nas instituições, porém essa mesma perda do controle sobre sua rotina é um dos aspectos que mais desagrada.
Por outro lado, a presença constante de companhia, não se sentir um incômodo para a família e ter profissionais adequados para cuidá-los são outros atrativos das instituições, mas “o problema é que as boas são muito caras”.
O que mais pesa negativamente na imagem que os idosos fazem das instituições de longa permanência é a presença de pessoas com problemas mentais, serem tratados como crianças e a sensação de que, ao entrarem, nunca mais sairão – perspectiva que se agrava associada à possibilidade de rompimento dos vínculos afetivos, a perda do contato com a família e com os amigos, visitas pouco freqüentes e a impossibilidade de passarem o dia fora quando quiserem.
A imagem de descuido causada por más condições de higiene e mal trato não são muito associadas às instituições, mas os idosos acreditam que as instituições ficariam com seu dinheiro.
- Apenas 11% da população brasileira têm parente ou amigo que vive em casas de longa permanência. Entre os idosos, este índice sobe para 15%.
- Embora o vínculo com pessoas que asiladas seja baixo, 46% dos idosos já visitou alguma instituição deste tipo.
- Mais da metade da população brasileira adulta (57%) sabe que existem tanto instituições públicas como particulares para receber idosos, 20% acham que só existem instituições públicas e 11%, só particulares.
- Quando aventada a possibilidade de, se preciso, morar em uma instituição para idosos, 39% dos idosos aderem com certeza e 22% talvez, enquanto entre os não idosos 46% afirmam que, se necessário, com certeza morariam e 24% talvez. Assim, entre os idosos 61% poderiam vir a morar em uma instituição de longa permanência, caso fosse necessário.
- No entanto, a aceitação à possibilidade de morar em uma instituição de longa permanência é vista antes como decorrência da ausência de outra alternativa, pela eventual ausência de familiares e o risco de ficar na rua.
- Para não incomodar os outros são razões que, para 16% dos idosos, justificam a possibilidade de morar numa instituição. Razões associadas à dependência, ou por não ter quem cuide ou para não depender de ninguém, são as causas de 12%.
- Um índice menor remete a possibilidade de que morar em uma instituição pode oferecer maior bem estar, por ter tratamento adequado (8%, idosos e 10%, entre não idosos) e companhia (9%, ambos os públicos).
- Por outro lado, as relações familiares são as razões mais mencionadas para não morar em uma instituição de longa permanência, devido ao fato de terem uma família e esta não permitir, a falta que sentiriam da família e para não ficarem esquecidos (23% entre os idosos e 15%, entre não idosos).
- A imagem negativa das instituições, associada à idéia de tratamento inadequado, a um ambiente associado a tristeza ou à falta de higiene e a falta de companhia, ou ainda a convivência com estranhos, são outros fatores que afastam a disposição dos idosos de morarem em uma delas.
- Para melhor conhecer o imaginário dos idosos sobre as instituições de longa permanência, algumas frases do senso comum, de caráter positivo e negativo, foram avaliadas medindo o grau de concordância dos entrevistados com as mesmas.
- Frases de caráter positivo receberam maior concordância, ressaltando a praticidade e funcionalidade das instituições tais como “os idosos não têm que se preocupar com comida e afazeres domésticos” (79%) e “tem quem controle o horário dos remédios” (76%).
- A mudança no hábito de vida, marcada pelo fato de “ter horário pra tudo e não poder ter sua própria rotina” é verdade para 71%, 68% concordam que “lá nunca estão sozinhos, tem companhia o tempo todo” e que “nas instituições o idoso deixa de ser um incômodo para a família”.. Dois terços dos idosos (66%) também concordam que nas instituições “têm profissionais adequados para tratar dos idosos”. Mas “o problema das instituições é que as boas são muito caras”.
- Idéias de caráter negativo como as de que nas instituições para idosos “há muitas pessoas com problemas mentais” recebem a concordância de 63% e pouco mais da metade concorda que “nas instituições tratam o idosos como crianças” e que “depois que o idoso entra numa instituição nunca mais sai” (56%, ambas), além do fato de que “o problema das instituições é que elas ficam com o dinheiro do idoso” (54%).
- Frases que ressaltam aspectos relacionados à perda de vínculos afetivos como “o idoso perde o contato com a família e os amigos”, “o regime de visitas nas instituições para idosos é pouco freqüente” e “o idoso não pode passear ou passar o dia fora” recebem a concordância de pouco mais que metade dos idosos.
- As frases que mereceram menor concordância foram “as instituições para idosos não têm boas condições de higiene (41%), “nas instituições para idosos a família pode vir a hora que quiser” (37%) e “nas instituições os idosos são mal tratados” (30%).
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5.3 Percepções da morte
O medo da morte, entre os que admitem possuí-lo, está mais relacionado ao apego à família, ao sentimento de que ainda há muita coisa para ser vivida, ou mesmo ao medo do desconhecido.
O medo de dar trabalho aos outros chega a ser maior que o de sofrer e sentir dor, embora muito próximos, e principalmente para os idosos, o medo do abandono se explicita por meio da concordância com a frase “não tenho medo da morte, mas não gostaria de estar sozinho quando a morte chegar”.
Para cerca de metade dos idosos, o que assusta é a morte de conhecidos, que os faz sentir cada vez mais sozinhos. Já a visão do mistério e da desesperança, embora menos comuns, afetam ao menos um terço dos idosos.
- A maior parte dos entrevistados não tem medo da morte, atitude que se destaca entre os idosos (81%, contra 74% entre os não idosos). Apenas 18% dos idosos têm medo da morte.
- As principais razões apontadas para não se temer a morte se devem à falta de domínio sobre ela, apontada por 55% dos idosos e 54% dos não idosos, ou seja, ela é inevitável, faz parte da vida. Outras justificativas para não temer a morte que se baseiam na vontade e determinação de Deus e passagem para a próxima vida, citada por 21% dos idosos e 19% entre não idosos.
- Os que admitem o medo da morte (18% entre idosos e 24% não idosos), a temem principalmente por deixarem suas famílias (menos entre os idosos, 5%, contra 11% entre os não idosos), ou porque sentem que ainda têm muita coisa para viver (opinião de 3% dos idosos, contra 7%, entre não idosos), enquanto o medo do desconhecido trazido pela morte é igualmente citado entre idosos e não idosos (6%).
- Entre 11 frases de senso comum sobre a morte, a que obteve maior concordância (85%) foi “A morte não me assusta, pois faz parte da vida”, mais aceita entre os idosos (90%, contra 84% entre os não idosos).
- Outra idéia fortemente presente é “o que mais preocupa com a morte são as pessoas que irei deixar”, embora um pouco menos incidente entre os idosos (78%), que entre os não idosos (83%).
- A frase “não tenho medo da morte, mas de viver dando trabalho para os outros” reflete a opinião de 89% dos idosos e 80% da população não idosa, enquanto a frase “não estou preparado para a morte, pois ainda quero realizar muitas coisas”, é mais comum aos não idosos (80%, contra 66% entre os idosos).
- “Não é da morte que têm medo, mas sim de sofrer ou sentir dor” é uma afirmação com a qual 87% dos idosos e 75% dos não idosos estão de acordo.
- Uma visão espiritualista, como a de que “a morte é só uma passagem para outra vida” é compartilhada por 80% dos idosos e 71% dos não idosos, enquanto “a morte não me assusta, mas tenho pena de deixar a vida” obtém concordância de 63% e 64%, respectivamente. Já a associação da morte ao abandono, ou a necessidade do testemunho, expressa pela frase “não tenho medo da morte, mas não gostaria de estar sozinho quando a morte chegar” é opinião mais incisiva entre os idosos (75%, contra 59% dos não idosos).
- Cerca de metade dos idosos (53%) concordam que “a morte dos outros assusta, porque estou ficando cada vez mais sozinho”; opinião não mensurada entre os não idosos.
- Apenas a minoria (38%) concorda que “a morte assusta, porque não sabe o que vem depois”, opinião também mais presente entre os idosos (42%). Para um terço dos idosos (33%), no entanto, “a morte é tudo o que espero”, opinião compartilhada por apenas 10% dos não idosos.
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