2. Percepções da velhice e auto-imagem da pessoa idosa
De modo geral a imagem da velhice é mais negativa que positiva – mas está longe de ser apenas negativa, sobretudo na perspectiva da população idosa, que percebe tanto aspectos negativos quanto positivos em sua condição. Há consciência de que há um forte preconceito social contra a pessoa idosa, ao mesmo tempo em que os idosos avaliam que ser idoso hoje é melhor do que já foi ser idoso ou idosa na época em que eram mais jovens.
De modo geral a imagem da velhice é mais negativa que positiva – mas está longe de ser apenas negativa, sobretudo na perspectiva da população idosa, que percebe tanto aspectos negativos quanto positivos em sua condição. Há consciência de que há um forte preconceito social contra a pessoa idosa, ao mesmo tempo em que os idosos avaliam que ser idoso hoje é melhor do que já foi ser idoso ou idosa na época em que eram mais jovens.
A percepção da chegada da velhice está associada principalmente a aspectos negativos, tanto entre os idosos (88%), como entre os não idosos (90%). As doenças ou debilidades físicas são, para a maioria, o principal sinal de que a velhice chegou (opinião espontânea de 62% dos não idosos e de 58% dos idosos). O desânimo, a perda da vontade de viver, também é fortemente percebido como sinal de que se ficou idoso (citado por 35% dos idosos e por 28% dos não idosos) e ainda a dependência física, apontada como sinal de velhice por pouco mais de um quarto de ambos segmentos.
Perguntada como se sente com a idade que têm, a maioria da população idosa responde positivamente (69%): espontaneamente se diz sobretudo satisfeita ou feliz (48%), com disposição para seus afazeres (29%), com ânimo e vontade de viver (27%). Referências negativas são citadas por 2/5 (39%), com destaque para debilidades físicas e doenças (35%).
Se a velhice é preponderantemente negativa, mas a maior parte dos idosos sente-se bem, conseqüentemente a maioria não se sente idosa (53%). Só a partir dos 70 anos a maior parte dos idosos brasileiros sente-se como tal. Na média, sentem-se de fato idosos apenas 2/5 (39%) e 7% sentem-se idosos parcialmente, ou em certas circunstâncias. A sensação de velhice, plena ou parcial, é partilhada gradualmente com o aumento da idade: por apenas 1/3 dos que estão entre 60 e 64 anos (31%), por pouco mais da metade dos 70 aos 74 anos (53%) e atinge sete em cada dez idosos que estão com 80 anos ou mais (71%) – segmento em que ainda 28% afirmam que não se sentem idosos.
A população idosa aponta, em média, os 70 anos e 7 meses como o momento da chegada à velhice, contra 68 anos e 11 meses apontados pelos adultos (25 a 59 anos) e 66 anos e 3 meses apontados pelos jovens (16 a 14 anos).
Entre a população adulta não idosa prevalece a percepção de que há mais coisas ruins do que boas em ser idoso (44%, chegando a 49% entre os jovens de 16 e 17 anos); um terço pensa o contrário (33%) e afirma que têm mais coisas boas do que ruins em ser idoso, e 19% dizem que tanto têm coisas boas como coisas ruins. Já entre os idosos, a percepção de que há mais coisas ruins em ser idoso cai para 1/3 (35% – sendo majoritária só após os 70 anos), equilibrando-se com a taxa dos que avaliam que há mais coisas boas (33%), e cresce a avaliação de que ambas, coisas boas e ruins, estão presentes em sua situação etária (23%).
As melhores coisas de ser idoso/a estão relacionadas à experiência de vida, à sabedoria (citadas espontaneamente por 21% dos idosos e por 34% dos não idosos), o tempo livre que os idosos dispõem para se dedicar ao que querem ou podem fazer (lembrado respectivamente por 16% e 22%), contarem com proteção, carinho ou compreensão familiar (13% e 15%), terem independência econômica e financeira (12% e 14%) e o gozarem de novos direitos sociais (lembrados por 12% nos dois segmentos), como prioridades em fila, gratuidade em ônibus e descontos em eventos culturais.
Já as piores coisas que viriam com a idade reproduzem alguns traços negativos da imagem da velhice, como as debilidades físicas e doenças (citadas espontaneamente por 57% dos idosos e 49% dos não idosos) e a dependência física, precisar da ajuda dos outros, a perda de autonomia (apontada respectivamente por 14% e 24%), mas destacam-se ainda a discriminação social contra a pessoa idosa (18% e 24%) e a falta de cuidado das famílias (6% e 16%).
Se os jovens (16 a 24 anos) dividem-se entre os que consideram a situação dos idosos hoje no Brasil melhor (42%) ou pior (39%) “que há 20 ou 30 anos”, a maioria dos idosos avalia que é melhor ser idoso agora do que já foi antes (56%) – para 30% a situação da pessoa idosa piorou.
O principal argumento dos idosos que avaliam que a condição da pessoa idosa melhorou remete a alguns novos direitos (lembrados por 35%), destacando-se a conquista da aposentadoria (21%), gratuidade nos transportes (11%), a promulgação do Estatuto do Idoso (6%) e o atendimento preferencial em filas (6%). Fizeram referência a melhorias na saúde 17% (mais e novos remédios, mais médicos e equipamentos, novas especialidades etc.) e 9% citaram mais opções de lazer para os idosos.
Entre os aspectos que teriam piorado na vida dos idosos nos últimos tempos, a principal referência é a falta de respeito (13%), sobretudo dos jovens (10%) e a questão da saúde (10%), seja pela piora da qualidade do atendimento, seja pelas condições menos naturalistas da vida moderna.
Para a maioria dos não idosos (85%) e dos idosos (80%) existe preconceito contra a velhice no Brasil, seja muito (opinião de 52% dos não idosos e de 43% dos idosos), seja um pouco (30% e 32%, respectivamente). Mas poucos brasileiros admitem serem preconceituosos em relação à velhice: apenas 4% dos não idosos.
A maior parte da população (75% entre não idosos e 76% entre idosos) sabe citar traços negativos da imagem que os mais jovens têm dos idosos, enquanto apenas 1/5 (21% dos não idosos e 19% dos idosos) menciona algum traço positivo como componente dessa imagem.
Os mais jovens veriam os idosos como incapazes ou inúteis (opinião espontânea de 31% dos idosos e de 37% dos não idosos), como ultrapassados (9% e 15%, respectivamente) e desinformados (10% e 5%); com desprezo (29% e 16%), desrespeito (24% e 16%), como passíveis de discriminação ou maltratos (13% e 7%).
Diante de frases do senso comum sobre a velhice, obtém consenso quase absoluto a idéia que os idosos têm muita coisa para ensinar (94% de concordância entre os idosos e 96% entre não idosos) e a afirmação que envelhecer é um privilégio (concordam 86% e 82%, respectivamente).
A idéia que velhice é o mesmo que doença tem a discordância da grande maioria, mas mais dos não idosos (84%) que dos idosos (68%, contra 27% que concordam), assim como as afirmações que os idosos só vivem do passado (discordam 64% e 58%, respectivamente) e que os idosos dependem dos outros para tudo (discordam 55% dos não idosos e 49% dos idosos, concordam 29% e 33%). A idéia que as pessoas idosas não conseguem acompanhar as mudanças do mundo moderno tem a concordância de 54% dos não idosos e de 58% dos idosos.
A concordância com a idéia que os idosos sentem necessidade de namorar passa de 2/3 entre os não idosos (69%), mas cai na população idosa (57%), sobretudo pelo baixo apoio entre as idosas (46%, contra 71% entre os idosos homens). Decrescente também à medida que vão envelhecendo, a concordância é minoritária entre as idosas acima de 70 anos (35%) e entre os homens acima de 80 anos (35%). Concordam que o desejo sexual desaparece com a idade 44% dos não idosos (37% discordam) e 50% dos idosos (31% discordam).
Finalmente, de uma lista com 15 sentimentos sugeridos, os idosos apontaram dentre os mais freqüentes em suas vidas a saudade do passado (46%, contra 26% de menções entre os não idosos) e alegria/felicidade (42%). Diante da mesma lista, os não idosos destacaram alegria/felicidade (43%) e ansiedade (30%, contra 10% dos idosos). Entre os idosos destacaram-se ainda calma/tranqüilidade (25%), cansaço (23%, contra 16% entre não idosos), companheirismo e disposição (22% cada), tristeza e solidão (ambos 20%, com praticamente o dobro das menções entre os não idosos, respectivamente 11% e 9%). Os não idosos, por sua vez, apresentam o dobro da taxa dos idosos para o sentimento de motivação/interesse (27% a 14%) e para impaciência/irritação (24% a 13%).
E diante de uma lista com 12 valores e atitudes propostos, os idosos indicaram como os mais importantes a responsabilidade (46%), sabedoria e alegria (44% cada), amizades (35%) e religiosidade (34%). Entre os não idosos a hierarquia foi responsabilidade (62%), sabedoria e amizades (37% cada), solidariedade (35%, contra 24% entre os idosos) e respeito às diferenças (29%, contra 18% entre os idosos).
Clique aqui para fazer o download do capítulo 2 – Percepção da 3ª idade e auto-imagem do idoso
Clique aqui para fazer o download das Tabelas do capítulo 2 – Percepção da 3ª idade e auto-imagem do idoso