Afonso Carlos Vieira Magalhães
A Revolução de 1930 marca a tentativa de expansão do capitalismo industrial no País. Durante a primeira Era Vargas (1930-45), o Estado, como grande vetor desenvolvimentista, assumiu a responsabilidade pela criação de indústrias estratégicas (como a CSN e a Vale do Rio Doce), aproveitando-se da conjuntura amplamente favorável, tendo em conta que a Europa e, logo, os EUA, enredavam-se com a indústria da Guerra, importando matéria-prima para o ramo bélico e reduzindo a produção de máquinas e bens de consumo para exportação.
Por outro lado, a classe trabalhadora encarava uma nova fase de organização sindical, já sem o protagonismo anarquista e com a debilidade da esquerda, face à derrota política e militar do Partido Comunista Brasileiro no malogrado levante de 1935. Situação que só seria revertida com o fim do Estado Novo, em 1945 e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte.
A partir de então, e à medida que a organização dos trabalhadores avançava, cingia-se o movimento sindical em duas grandes correntes: o trabalhismo e a esquerda (hegemonizada pelo PCB). Era o espelho, no sindicalismo, de uma realidade da política partidária e eleitoral: o PTB, de origem getulista, e o PCB (ainda que na ilegalidade) disputavam a hegemonia da direção política da classe trabalhadora.
Os dezenove anos que se sucederam ao fim do Estado Novo varguista foram de grande efervescência social e política. A luta de classes sobressaía das mais diversas maneiras. Em 1946, o PCB surpreendeu com expressiva votação para a Presidência da República, para a Constituinte e elegendo parlamentares nas três esferas do Poder Legislativo. Greves de grande impacto político e econômico eram realizadas. A massiva campanha “O Petróleo é Nosso!” ganha as ruas. Inicia-se uma feroz campanha do imperialismo e das oligarquias locais contra Vargas, que culmina com sua morte, em agosto de 1954. Golpes de Estado foram tramados pela direita contra seu sucessor eleito: JK.
Ainda nos anos 50, avança a organização dos trabalhadores, com a criação de organismos nacionais, como a Contec (bancários), Contag (camponeses) e outras confederações representando categoriais igualmente importantes. Pouco depois, em 1961, Jânio Quadros é eleito e renuncia oito meses depois, quando a direita militar tenta novo golpe para impedir a posse de João Goulart (vice de Jânio). 31 de março de 1964: enfim, concretiza-se um golpe militar da direita, depondo Jango. Golpe que, depois, ganha traços fascistóides com a edição do AI-5, em dezembro de 1968.
A principal lição e conclusão histórica do golpe de 1964 é a necessidade de independência e autonomia política da classe trabalhadora. Não alimentar ilusões quanto a “estar ou não no Poder” e quanto a desfrutar da oportunidade de ter vários representantes partidários no aparelho do Estado, incluindo a Presidência da República. Outra conclusão importante é quanto ao papel do indivíduo: Jango – por suas limitações e origem de classe, que o levava a não confiar na intervenção popular – não se mostrou convencido de que ele, como figura central do processo, tinha que se colocar como eixo da resistência aos golpistas.
Na seqüência, a dispersão da esquerda, com táticas e estratégicas diferenciadas no combate à ditadura, nos isolou das massas, criando um imenso vácuo político-organizativo que foi parcialmente preenchido pela resistência sindical dentro das fábricas e pela ação das comunidades eclesiais de base, no campo e nos bairros operários dos grandes centros urbanos.