A justiça que queremos

Mês passado, logo depois de tomar posse como Ministro da Justiça, o ex-Presidente do PT, Tarso Genro, concedeu entrevista ao Diário Catarinense. Quando questionado sobre ocupações de terra promovidas pelo MST, o companheiro Tarso responde: “Aquilo ali é um atentado, um delito contra a propriedade que tem de ser punido pela legislação comum”, o entrevistador emenda: “E a invasão do Congresso patrocinada pelo MLST?” e o companheiro Tarso, sem titubear: “Isso é baderna!

Será que os companheiros sem-terra podem crer que essas declarações sejam de um respeitado dirigente do PT?!

Para conquistarmos o Brasil que queremos, o Ministro da Justiça do PT, deveria responder que enquanto houver latifúndio nesse país, não haverá justiça no campo e que as ações do MST são exemplos de luta por justiça, que devem ser seguidos por todo o povo brasileiro, ocupando terras, fábricas, prédios, etc! O companheiro deveria dizer que se fizermos o que o Governo Chávez tem feito na Venezuela, expropriando o latifúndio e dando terra a quem nela trabalha, ou seja, realizando de fato a Reforma Agrária, poderemos começar a ver justiça nesse país!

O curioso é que o Ministro Tarso Genro assina uma tese ao Congresso do PT, impulsionada principalmente pela corrente Democracia Socialista, que se chama “O PT e a Revolução Democrática”. Mas que raio de “Revolução” é essa onde um de seus idealizadores diz que as ações do MST são “delitos que devem ser punidos”?!

Num trecho de tal tese é dito que “como a revolução democrática envolve a realização de reformas de caráter nacional, democrático e popular, as tarefas de sua direção envolvem a formação de uma grande coalizão histórica político-social. Esta coalizão é necessariamente mais ampla que a unidade entre as forças políticas que se reivindicam do socialismo democrático”, ou seja, o Sr. Tarso defende uma ampla coalizão para realizar o que eles chamam de “Revolução Democrática”! Mas, para compor um Governo de Coalizão com o PMDB, PP, PL, PTB e outros partidos que abrigam e representam vários setores da grande burguesia, inclusive dos latifundiários, não se pode ser favorável às ocupações de terra do MST!

Viu como não é tão difícil de entender? Mas isso é o abandono de tudo que os trabalhadores do campo e da cidade construíram nos últimos 27 anos!

Nessa tese assinada pelo revolucionário Tarso, ainda podemos ler que “a revolução democrática implica ainda o impulsionamento dos micro-empreendimentos, da economia solidária, da agricultura familiar, do cooperativismo”! Por que será que aqueles que defendem a criminalização dos movimentos sociais e a coalizão entre burguesia e organizações construídas pelos trabalhadores, defendem tanto essa tal “economia solidária”?

Certamente os partidos que estão em coalizão com o Governo eleito pelos trabalhadores, não se incomodam com o fato do Ministro da Justiça defender a “economia solidária”. Eles até apóiam a idéia, afinal de contas, ocupações de terra promovidas pelo MST colocam em questão a propriedade privada, portanto questionam a ordem capitalista! Já os “micro-empreendimentos, cooperativismo e economia solidária”, são alternativas capitalistas de contenção e cooptação dos movimentos sociais! A “economia solidária” nada mais é do que a ilusão contra-revolucionária de construir o socialismo sem abolir a propriedade privada e o capitalismo, que tem origem na reação católica contra o socialismo, na Doutrina Social da Igreja (Encíclica Rerun Novarum). Nada mais interessante para o imperialismo!

*Caio Dezorzi é professor, membro eleito do DZ PT Mooca / São Paulo/SP – O Trabalho (MAIORIA), Corrente do PT
*Artigo enviado em 3 de abril de 2007
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