Os grandes mestres do marxismo ensinaram que a origem do ideário socialista, moderno e científico, se deu pela convergência de três partes que lhe são constitutivas: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo utópico francês. São vertentes que foram se desenvolvendo proporcionalmente ao crescimento de um capitalismo ao mesmo tempo vigoroso e envolto em crises recorrentes, em pleno séc. XIX – e pelas lutas crescentes do jovem proletariado europeu e que tiveram o ponto culminante a Comuna de Paris, em 1871.

A Revolução Russa, em 1917, recolheu e concentrou toda a construção socialista da etapa anterior, elevando-a a um patamar superior, na medida em que uniu pensamento e ação, forma e conteúdo, por meio do instrumento imprescindível à luta consciente contra o capitalismo: o partido.

Nos seus sete primeiros anos, a Revolução de 1917 mostrou o pleno vigor da democracia socialista, quando funcionava dinamicamente a relação ida-volta entre o Partido, classe operária e os conselhos populares (soviets) que organizavam e representavam as massas.

O período stalinista dos anos seguintes se deu por uma combinação de circunstâncias objetivas e subjetivas: o isolamento mundial da revolução russa; a morte de milhares de bolcheviques em combate durante a invasão do país; a ocupação dos espaços do Partido por setores administrativos e a precoce morte de Lenin. Essa foi a base da burocratização e da negação dos princípios democráticos e socialistas, que ofuscou, mas não apagou a força viva e o legado deixado pelos 7 primeiros anos da Revolução Russa.

O que se convencionou chamar de “socialismo real” (burocrático) influenciou de forma contraditória várias gerações de socialistas em todo o mundo. A boa influência de um funcionamento planejado da economia, que permitira uma vida digna a milhões de cidadãos e cidadãs nos chamados países socialistas reforçava a luta anticapitalista e antimperialista no mundo.

A influência desigual (contraditória) e combinada (onde, ainda com as contradições, prevalecem os fatores mais avançados) do “Socialismo Real” resultou em exemplo positivo para dezenas de movimentos nacionalistas e de independência anticolonial em países do III Mundo. Mas, por outro lado, levou à burocratização dos partidos comunistas e socialistas, cada qual com seu matiz diferenciado de degeneração.

O PT, desde a sua origem, procurou se diferenciar desses partidos, ainda que não tivesse assumido a tarefa de desenhar seu próprio projeto de socialismo, subordinando esse mesmo projeto à experiência concreta da classe trabalhadora: “O socialismo que nós queremos se definirá por todo o povo, como exigência concreta das lutas populares” (Lula, set/81)

Com a crise do leste europeu e a desintegração física da URSS, essa elaboração construída no nascedouro do Partido nos ajudou a manter os pés fincados no objetivo socialista e seguir sem alimentar ilusões com o capitalismo. Todos os documentos aprovados nos Congressos e Encontros Nacionais mostram isso.

Na contramão das formulações partidárias, importantes dirigentes petistas com espaço privilegiado na mídia mostravam-se pouco preocupados em expressar o posicionamento partidário sobre o socialismo, submetendo-se ao efeito avassalador que a crise do “socialismo real” proporcionou para muitos dirigentes de partidos comunistas que, seguindo o exemplo dos setores mais carcomidos da burocracia soviética, “saíram do armário” e assumiram posturas diversas de linha auxiliar do capitalismo mundial.

*Artigo enviado em 27 de março de 2007
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