Maioria absoluta de 1995 a 2005 e maioria relativa desde o PED de 2005, o campo ex-majoritário segue nos devendo uma análise crítica dos problemas políticos e organizativos do Partido.

Lendo a tese “Construindo um novo Brasil”, nos parece que o campo ex-majoritário não conseguiu apresentar, ao Partido, uma autocrítica do passado e uma linha capaz de enfrentar o futuro.

Nos parágrafos da tese dedicados ao tema “hegemonia e democracia”, pode-se ler o seguinte: “a construção de maiorias partidárias, que são muito importantes para o funcionamento das instâncias, não podem se estabelecer em detrimento [da] hegemonia, que pressupõe a conquista de espaços pela força do argumento e da elaboração política”.

Os autores da tese dizem que o “mesmo” processo de “construção da hgemonia” que se dá na sociedade, se dá “em relação ao partido”.

Acontece que a luta por hegemonia na sociedade se trava contra as posições de outras classes sociais e de outros partidos, com projetos algumas vezes antagônicos aos nossos. É exatamente por transpor este raciocínio para o interior do Partido, que alguns grupos adotam métodos inadmissíveis, sob o argumento implícito de que se trata de derrotar/destruir inimigos.

A crise de 2005 está relacionada, por exemplo, com a crença, esposada por integrantes do ex-campo majoritário, de que eles são “o” verdadeiro PT. Motivo pelo qual achavam (e alguns seguem achando) que podiam tomar decisões, que afetavam profundamente todo o Partido, sem ouvir os demais setores.

Talvez por isto, ou talvez por um mero cochilo, a tese “Construindo um novo Brasil” esteja propondo a eleição nominal do Conselho de Ética e do Conselho Fiscal. Na prática, isto significará acabar com a proporcionalidade na composição de dois órgãos fundamentais. Na prática, um grupo que possua 40% do diretório regional teria condições de controlar, através de uma eleição nominal e não proporcional, o conjunto dos órgãos fiscalizadores.

Talvez também por isso a tese não fale nada sobre a data do próximo PED. Nem explique como “aperfeiçoar” o processo de eleições diretas, que como todos sabem é afetado pela desigualdade de recursos financeiros que cada tese/chapa/candidato possui para fazer campanha.

Sobre o tema da organização partidária, a tese “Construindo um novo Brasil” apresenta várias propostas, muitas comuns a outras teses. Mas cala sobre três assuntos fundamentais: não defende um jornal para a militância; não fala nada sobre a dependência das finanças partidárias frente a contribuições empresariais; e defende que “o PT não tem como função organizar os movimentos” sociais.

De nossa parte, estamos convencidos de que o PT pode e deve editar um jornal quinzenal, voltado aos cerca de 80 mil petistas que estão à frente de diretórios partidários. Estamos convencidos, também, que o PT deve superar sua dependência financeira. Dependemos do fundo público e de recursos empresariais, dependência que já está nos levando ao colapso político e financeiro. Se o III Congresso não enfrentar o tema e ficarmos esperando o financiamento público de campanhas, o PT dificilmente sobreviverá íntegro a 2008.

Quanto a afirmação de que o PT não tem com “função organizar os movimentos”, perguntamos: que é nossa “função”, qual é então? Disputar eleições? Governar? Participar do debate ideológico na sociedade? Em nossa opinião, ao PT cabe fazer tudo isto e também ajudar a organizar a sociedade. O que inclui estimular e organizar a participação dos petistas nos movimentos sociais.

*Artigo enviado em 25 de março de 2007
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