Archimedes Silva
O 3º Congresso Nacional PT realiza-se dentro de um contexto internacional diferente dos congressos anteriores, marcados pela derrocada das burocracias no leste europeu e pelo apogeu da onda neoliberal, que proclamou a infalibilidade do mercado, onde bastaria aplicar o receituário do Consenso de Washington para que uma era de progresso estivesse ao alcance de todas as nações.
O quadro internacional hoje é de contra-ofensiva da esquerda, causada, sobretudo, pela tragédia do neoliberalismo e pela fase atual do capitalismo globalizado.
Em vez de desenvolvimento e prosperidade, acentuam-se as desigualdades entre os países pobres e ricos, o capital e as novas tecnologias, frutos da 3ª revolução tecnológica, tornaram-se cada vez mais concentrados nas grandes potências econômicas; o desemprego atingiu proporções inéditas, limpezas étnicas e guerras, tornaram-se lugares comuns num mundo unipolar dominado pela única superpotência existente: os Estados Unidos.
A resistência dos trabalhadores logo surgiu: movimentos antiglobalização, a partir de Seatlle, varreram a América e a Europa, o levante Zapatista em Chiapas e a recente rebelião popular em Oaxaca, ambas no México, desmascarou o Governo neoliberal mexicano, as eleições de governos de esquerda e de centro-esquerda na Espanha, Itália, Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, somadas a resistência de Cuba são demonstrações desta contra-ofensiva das massas populares. Outro exemplo são os softwares livres e ou de código aberto, como o Linux entre outros, que desafiam a supremacia de grandes corporações e ampliam o acesso à tecnologia e a informação.
Por sua vez, o sistema capitalista globalizado volta a apresentar sinais de que não responde aos interesses da humanidade e pode levá-la, inclusive, à sua destruição, através da poluição desenfreada, do seu modo de produção predador, que leva à destruição de ecossistemas e ao aquecimento global.
A construção de uma nova ordem socialista exige que a esquerda aprenda as lições que a experiência histórica reservou e observe as características do capitalismo. Uma destas lições é que, num mundo onde os estados nações tiveram seus poderes reduzidos, os continentes se dividem em grandes blocos, o capital se movimenta livremente, as novas tecnologias de informação, garantem que milhões de pessoas se comuniquem entre si em segundos, a construção do Socialismo só pode se dar em nível internacional.
Um dos pilares do processo de acumulação de forças rumo ao socialismo é a radicalização democrática da sociedade. É necessário aprofundar e ampliar o âmbito do Orçamento Participativo, onde quer que esta experiência de democracia participativa ocorra, é preciso também garantir e consolidar o controle social em todos os conselhos setoriais existentes e devem-se democratizar os conselhos administrativos das empresas estatais e dos demais órgãos públicos, tornando-os abertos à participação da sociedade e dos trabalhadores.
O socialismo no Brasil deve ser encarado pelo PT e pelas demais forças de esquerda como passo importante dentro de uma estratégia internacional de construção da nova ordem. Exemplo desta estratégia é o novo Internacionalismo que surge com feições novas: no lugar de organismos centrais, desenvolve-se a multiplicidade de organizações, em vez de estruturas verticais e hierarquizadas, adota-se a horizontalidade como forma de discussão e redes como método organizativo, em vez de maiorias, busca-se consensos.
*artigo enviado em 6 de março de 2007