Em 2008, em vez de um evento mundial único, vão acontecer vários eventos ao redor do planeta. São as Jornadas de Mobilização, que serão implementadas, parte do processo Fórum Social Mundial. Em entrevista, Cândido Grzybowski, diretor do Ibase e um dos integrantes do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial, fala sobre como serão essas jornadas que estão previstas para acontecer no último fim de semana de janeiro de 2008, entre outros assuntos.

Ibase – Como surgiu a idéia das Jornadas de Mobilização ?

Cândido Grzybowski – Dada a natureza do Fórum baseado na Carta de Princípios e inspirado pelos vários Fóruns que acontecem mundo afora, é fundamental que sejam valorizadas as várias iniciativas que fazem parte desse processo. Foi para articular isso que se pensou um fórum em 2008 que tenha um dia de mobilização comum, no qual cada país vai fazer sua mobilização, cada cidade vai organizar seus eventos. Estamos propondo um evento que mostre que estamos no mundo inteiro com eventos mundiais na Ásia, África, América Latina. Agora, trata-se de dar mais visibilidade a essa onda cidadã que toma conta do mundo.

Ibase – Mas isso não significa que não haverá um Forum Mundial, certo?

Cândido Grzybowski – Continua sendo mundial porque vai acontecer no mundo todo. O Fórum é mundial por acontecer em todo o globo e não porque se centraliza em um evento. E essa é a principal novidade que pode surpreender. Estamos, cada vez mais, construindo outros mundos para além de ir contra alguma coisa. Então, temos um novo formato exatamente para mostrar que somos milhões.

Ibase – Já existem alguns eventos marcados no Brasil?

Cândido Grzybowski – Surgiu a idéia de fazer vários eventos ao mesmo tempo: Fórum Mundial de Educação no Rio, Um Fórum Brasileiro, em Salvador, o Fórum das Águas na Amazonia.. Tudo em janeiro de 2008, acontecendo antes ou depois do dia 27, que é o dia principal de mobilização.

Ibase – Isso mostra que o Fórum não tem medo de se renovar, não é?

Cândido Grzybowski – Desde o início, o Fórum nunca foi igual. É um laboratório de inovações metodológicas. A idéia de uma nova cultura política inclui uma nova metodologia de trabalho. Então, genericamente, é um espaço aberto, mas dentro desse espaço aberto tudo se renova muito. Inclusive, é legítimo que alguns que queiram tomar uma posição política apóiem. Ninguém é desautorizado por isso. Só que não é o Fórum que manda. Então, o Fórum está conseguindo se renovar nesse processo.

Ibase – No final do encontro em Nairóbi, foram agrupadas 350 propostas formuladas por 21 Fóruns de Alternativas, Lutas e Ações. Como essas propostas contribuem para as Jornadas de Mobilização?

Cândido Grzybowski – Os 21 Fóruns, em que todas as pessoas presentes no Fórum em Nairóbi puderam participar já foi uma inovação. Acho que isso veio para ficar, ainda que a metodologia tenha que ser melhorada. Muitas propostas vão ser decisivas nas Jornadas de Mobilização. Como as que estão em torno do movimento feminista, da economia solidária, da água, dos direitos humanos, são mais numerosas e têm mais visibilidade.

Ibase – Qual é o papel do Conselho em relação as propostas?

Cândido Grzybowski – O conselho é um grande espaço de facilitação. Discute a metodologia mais adequada, mas não dá a direção. Acolhemos as propostas e disponibilizamos para que a sociedade possa trabalhar nelas.

Ibase – Os eventos regionais continuam?

Cândido Grzybowski – Sim, Continuam os fóruns regionais. O Fórum das Áméricas vai ser na Guatemala em maio. O dos EUA vai acontecer em junho deste ano, em Atlanta. A escolha é simbólica. O Fórum retoma a inspiração de um localonde já surgiu a resistência dos negros e negras americanas. Vai ter um potencial enorme.

Ibase – É a primeira vez que acontece um Fórum desse tipo no EUA. O que isso pode significar?

Cândido Grzybowski – Ele revela um movimento de contestação interno que nos dá esperança de que essa turbulência fundamentalista e guerreira do Bush pode ser superada. 2008 é ano de eleição nos EUA, então é possível que tenha um impacto sobre isso. O Fórum é uma manifestação em torno da sociedade civil que vai além da estrutura partidária americana. É um Fórum de movimentos e organizações civis que recupera a luta pelos direitos, alimentado pela grande presença de imigrantes. É um movimento de direitos civis e políticos que está em questão de novo. É nos Estados Unidos onde se tem mais condições de presença política da questão da imigração, mais que na Europa. Nesse sentido, acho que o Fórum vai ser um eco dessas demandas por uma sociedade diferente, menos guerreira.

Ibase – Você acha que o Fórum vai descolar de Davos?

Cândido Grzybowski – Para continuar a tarefa de mobilizar o mundo – tarefa na qual ainda há muito o que fazer – temos que descolar de Davos. Não temos mais apenas uma postura de sermos contra, mas uma postura de sermos a favor de uma série de propostas que foram surgindo. Então, a partir daí, Davos já era. Davos é passado. Em Nairóbi criamos um grupo de trabalho para pensar nessa questão, sobre o futuro, sobre Davos, a data. O FSM tem sete anos, o “filho” já vai a escola, já quer autonomia.

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