Vivemos um período de transição na história brasileira, não apenas no terreno da política estrito senso, mas também no terreno mais amplo do desenvolvimento nacional e de suas relações com o mundo.

Compreender isto, estudar os processos político-sociais que estão em curso e elaborar uma política adequada para o período constituem alguns dos grandes desafios do 3º Congresso do PT.

O Brasil precisa iniciar um novo ciclo em sua história, superando as décadas perdidas, o neoliberalismo e o desenvolvimentismo conservador.
A presença da esquerda brasileira no governo federal deve estar a serviço desse objetivo: abrir um novo ciclo histórico, um “desenvolvimentismo democrático-popular”, explicitamente orientado por uma perspectiva socialista.

Noutras palavras, um ciclo que provoque não concentração, mas sim radical distribuição de renda, riqueza e poder.

A abertura deste novo ciclo dependerá da luta entre as diferentes forças políticas e sociais existentes no Brasil, que se expressam, direta ou indiretamente, através de governos, parlamentos, partidos, movimentos sociais, instituições da chamada sociedade civil, da intelectualidade e do voto popular.

É evidente, dentre estas forças, o papel destacado do governo federal. Por isto, a direita quer que Lula faça um segundo mandato convencional. E que fracasse nas tentativas de mudança. Assim, a direita poderia vencer as eleições de 2010, fazendo a política brasileira regressar à “normalidade”.

Já esquerda trabalhar por um segundo mandato diferente do primeiro. Mas para que isso ocorra, é preciso em primeiro lugar mudar a atitude do PT, não apenas frente ao governo, mas frente ao conjunto de temas que estão em jogo nesta quadra de nossa história.

Por isso, trabalhamos para que o 3º Congresso do PT afirme um programa, uma estratégia e um modelo de partido capaz de governar o Brasil e de lutar pelo socialismo.

Isso implicará em reafirmar, antes de mais nada, que o PT expressa os interesses das classes trabalhadoras, em contraposição as forças sociais e políticas que defendem os interesses do capitalismo, do imperialismo, do neoliberalismo, da especulação financeira.

Socialmente minoritárias, o poder daquelas forças deriva do seu controle do Estado, dos meios de comunicação, dos grandes meios de produção, dos apoios internacionais, das alianças que realizam e da hegemonia que possui a visão de mundo das elites.

Entre aquelas forças, destacam-se: os interessados na manutenção dos juros altos, do superávit primário e da escorchante dívida pública; os interessados na transferência de recursos públicos para o setor privado, na prioridade para o mercado externo, no achatamento da remuneração direta e indireta da classe trabalhadora brasileira; os interessados no monopólio da comunicação, da terra urbana e rural.

Aquelas forças são as principais responsáveis pela brutal desigualdade social, as financiadoras dos partidos conservadores, as culpadas por bloquear toda e qualquer reforma estrutural.

O 3º Congresso do PT deve ser capaz de elaborar um programa e uma estratégia capazes de empolgar as forças políticas e sociais interessadas em reformas democrático-populares (agrária e urbana, principalmente), na radical democratização do país e na afirmação da soberania nacional.

Programa que, neste segundo mandato, pode ser resumido numa idéia-força: quebrar a ditadura do capital financeiro sobre a sociedade brasileira.

Secretário de relações internacionais do PT

*Artigo enviado em 8 de fevereiro de 2007
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