Maria Aparecida Carneiro
Existem algumas ações das prefeituras petistas que caracterizam o “modo petista de governar”: o orçamento participativo, a escola e o saber popular, os investimentos nas periferias, os canais de comunicação diretos para o cidadão criados na máquina pública, a valorização da ética pública, a valorização do público sobre o privado e algumas outras. Isto significa que é muito importante a valorização das pessoas que vivem e constroem suas vidas nas comunidades locais simples, carentes da infra-estrutura urbana e vida sócio-político cultural próprias das grandes metrópoles. Mas na prática o Partido dos Trabalhadores não está dando oportunidade às pessoas humildes que têm história de militância dentro do Partido para a assunção de responsabilidades administrativas nos cargos públicos conquistados pelo Partido no interior do Estado, longe das capitais. Não está proporcionando nos seus governos oportunidades para que os militantes governem para que possam aprender a governar. Há uma importação perigosa de quadros de pessoal de outras cidades para governar nas cidades do interior onde o PT ganha eleição. Ou são feitas alianças ao largo da participação da militância petista, e/ou ao largo do programa político-ideológico do Partido visando a contratação ou a colocação de velhos caciques que já têm domínio sobre a máquina administrativa. Pessoas formadas, bem recomendadas chegam para exercer o mando político numa cidade que nem conhecem, tampouco participaram da construção deste poder local. Muitas vezes a Direção estadual do Partido coordena este processo de prover os cargos públicos no interior, onde, segundo a mesma, o PT não apresenta quadros. Em nenhum momento valoriza-se ou pensa-se a comunidade local como capaz de resolver seus próprios problemas, criar suas soluções, soluções estas importantes porque partiram da capacidade daquela comunidade de encontrá-las. Em nenhum momento valoriza-se o cidadão local. Em nenhum momento cogita-se que a percepção da necessidade de soluções para os problemas da comunidade local é que poderá alavancar a participação, a auto-estima do cidadão que então, terá a coragem de dar um passo adiante. É claro que existe a consciência de que o movimento de luta dos trabalhadores deve caminhar para a totalidade, não se pensando em lutas proletárias fragmentadas entre países, estados , entre cidades. Mas há que se considerar também a dimensão da localidade onde nascemos, crescemos, construímos nossas vidas e lutamos pela ampliação da nossa participação. Somado a isto é também difícil compreender que existem muitas pessoas desempregadas no interior, e que ao mesmo tempo chegam pessoas de outras localidades para ocupar espaços de maior mando político; e que estas mesmas pessoas não são sequer filiadas ao PT.O desafio que se nos coloca hoje é encontrar mecanismos democráticos que dêem conta de mais e maior coerência com nossa construção teórica, especificamente com relação a este ponto que acabamos de expor. Afinal, o poder de diferenciação do PT é real ou não? Qual é a força e o conteúdo deste poder? O que se acumulou até o momento em termos de experiência no governo será transformado em que? Para quem? Em que medida o que acontece no interior do Brasil governado pelas prefeituras “petistas” chega à cúpula do PT? Qual é esta distância?
*Maria Aparecida Carneiro – Presidente do PT – Itaúna – MG
*Artigo enviado em 5 de fevereiro de 2007