Rafael Pops
O PT e a Juventude
A maioria dos partidos de esquerda do mundo têm uma grande tradição na organização de juventude, porém esse não foi nosso caminho até agora. Nesses 27 anos de fundação do Partido dos Trabalhadores sempre fomos a maior referência partidária da juventude brasileira. Isso muito mais pelas idéias e programa que o PT sempre defendeu, do que pela sua organização juvenil. Sempre fomos o partido da transformação social, das mudanças estruturais e que não se adaptava a essa sociedade que vivemos.
Apesar desse apoio foram poucos os momentos que nosso partido teve uma intervenção forte na juventude. Podemos dizer que o setor estudantil da década de 80 teve um patamar de organização bom, mas era somente estudantil. Alguns tratavam juventude somente como estudantes e isso fazia que o PT perdesse a chance de avançar em sua organização.
Com o processo de “institucionalização” do PT a situação na juventude ficou mais preocupante. Começamos a ter a visão, cada vez mais forte, da juventude “tarefeira” ou somente como instrumento de mobilização. Ampliando assim a dificuldade de organização desse setor no partido.
Durante a crise de 2005 o setor de nossa base social mais atingido foram os jovens. Em dezembro de 2005 as pesquisas apontavam que os melhores índices de José Serra, então pré-candidato à presidência, eram entre pessoas de 25 a 30 anos e nessa faixa tínhamos os piores índices de Lula. Na faixa de 16 a 24 ainda vencíamos, mas por uma pequena vantagem e era a faixa etária que mais caímos de 2002 a 2005.
Com certeza a campanha eleitoral mudou isso. Conseguimos retomar parte da confiança que os jovens tinham conosco e principalmente iniciar o processo de uma relação melhor entre o PT e os jovens brasileiros. Principalmente no 2º turno reconquistamos essa confiança e o motivo foi a linha adotada pela nossa campanha. Manter essa identidade de esquerda e socialista do PT é fundamental pro trabalho com a juventude.
Nosso partido deve nesse III Congresso dar um passo decisivo para a organização da juventude. Não podemos deixar que somente os jovens façam o debate de juventude, mas todo partido deve assumir essa tarefa pra si. Temos que conseguir dialogar com todas as juventudes. Foram os jovens os mais atingidos pelas mazelas sociais produzidas pelo neoliberalismo e são eles a maioria das favelas e periferias.
Esse debate deve enxergar o jovem como um ator protagonista de nosso partido e das lutas sociais. Abrindo espaços no partido para participação dos jovens em todas as esferas de decisão, ao contrário que muitas direções hoje que descriminam a juventude.
Por isso quando debatemos o PT que queremos neste congresso, teremos de falar de nossa organização de juventude. Não podemos ficar mais nesse patamar que nos encontramos. A juventude tem que ser mais que uma secretaria setorial, deve ser uma organização forte e reconhecida pela direção partidária.
Nesse sentido a juventude do PT vem se organizando e acreditamos que esse congresso deva aprovar uma agenda de todo partido para juventude. O ponto central é o III Congresso do PT aprovar a realização do I Congresso da Juventude do PT e reconhecer o processo de organização de sua juventude. No congresso da juventude poderemos aprofundar um programa pra juventude brasileira e nosso modelo de organização.
Portanto, organizar a juventude do PT deve ser uma tarefa de toda militância que acredita num partido democrático, socialista e de massas e esse congresso tem que mostrar isso.
*Artigo enviado em 15 de janeiro de 2007