Afonso Magalhães
Do nacionalismo Lulista ao socialismo petista
Estamos em uma fase de transição na América Latina. O neoliberalismo foi derrotado, abrindo espaço para forças nacionalistas, impulsionadas pela mobilização popular em busca da recomposição do tecido social e da reconstrução do Estado nacional, na contramão do Consenso de Washington e da ALCA.
Como esse movimento nacionalista é democrático e popular, ganha então contornos revolucionários e anticapitalistas, abrindo terreno para a discussão do Socialismo. Mas o avanço deste processo está longe de ser linear. Ao contrário, é cheio de contradições, pois avança de forma desigual (heterogênea) e combinada (se intercompenetrando, influenciando-se mutuamente).
Daí que é muito bem vinda a recente declaração de Hugo Chávez quanto ao caráter socialista da Revolução Venezuelana, como também o é o crescimento da ALBA (Venezuela, Bolívia e Cuba), com a recente adesão da Nicarágua.
O processo aqui no Brasil ainda não abarcou formalmente essas propostas, mas o seu desenvolvimento vai ao encontro tanto da integração ampliada (representada pela ALBA), como do objetivo socialista.
De fato, o Governo Lula resgatou o sentimento nacional, o orgulho de ser brasileiro, ao suspender o processo de privatização, dispensar as “consultorias” do FMI, liderar a cruzada mundial contra a fome e por fim à subserviência na relação com os EUA. Agora, o III Congresso do Partido, recoloca em discussão o Socialismo Petista, cujo debate se aprofundou no VII Encontro Nacional (1990) e nos I e II congressos (1991 e 1999). Só que, ao longo destes dezessete anos, a correlação de forças política no mundo mudou. Hoje, a luta pelo Socialismo está cada vez mais fortalecida. Ao passo que, no início da década passada, a esquerda enredava-se nos balanços dos setenta anos da União Soviética, diante da desintegração física daquela potência mundial.
Distribuir renda; construir um país justo e solidário; integrar soberanamente a América Latina, com planejamento conjunto para o desenvolvimento sustentável; combinar democracia representativa com democracia direta e participativa, estes são objetivos que cabem plenamente tanto no nacionalismo lulista como no socialismo petista, ou no Socialismo do século XXI (expressão cunhada por Hugo Chavez), ou em tantos outros conceitos de socialismo, com suas formas diferenciadas, mas cujo conteúdo não pode fugir aos princípios que a história da humanidade consagrou:
fim da exploração do homem pelo homem; fim da destruição da natureza; produzir de acordo à capacidade e distribuir de acordo à necessidade; Democracia Plena consolidando o Poder Popular!!
Esses postulados só foram formulados conscientemente nos últimos duzentos anos de idéias e lutas socialistas. Não precisamos, nem temos o direito, de reinventar a roda! Precisamos, sim, ser receptivos às mais elevadas experiências da luta socialista, onde se destaca como ponto culminante os sete primeiros anos da Revolução Russa,
*Artigo enviado em 15 de janeiro de 2007 (Brasília)