Os conservadores e os reacionários, a mídia burguesa e a imprensa dos jornalões, o latifúndio e os coronéis, as privatizações e os leilões, os ACM e os Sarney, todos eles, sofreram uma grande derrota eleitoral e político-ideológica nas eleições 2006. Esta luta – ocorrida no terreno institucional, mas que envolveu outros campos de batalha – é mais uma de muitas que já ocorreram no passado, em variados terrenos. Como não chegamos ao fim da história, outras estão por vir. Elas compõem um grande conflito entre classes e interesses cujos antagonismos não serão resolvidos em acordos ou conciliações.

Diariamente, vivenciamos as conseqüências bárbaras e nada sofisticadas de um sistema cujo próprio metabolismo o torna incapaz de cumprir com sua propaganda profanada aos quatro cantos do mundo: desenvolvimento globalizado, democracia, paz e o fim da fome e da pobreza. Toda ação que caminhe em direção diferente aos catastróficos rumos atuais deve ser considerada e, em muitos casos, apoiada. Mas, acima de tudo, deve ser aprimorada para caminhar em sentido diametralmente oposto ao trágico destino anunciado.

Assim, considera-se a presença dos setores democrático-populares no governo federal não como um fim, mas como um meio. Ora, não poderíamos achar que simplesmente a partir da conquista de um setor do poder de Estado, sobretudo adquirido parcialmente – lembremos que há setores ultra-conservadores no governo –, poderíamos implementar todas as transformações democráticas e populares necessárias sem que a hegemonia burguesa nos demais poderes do Estado e sua participação no governo exercessem influência, disputando seu projeto de sociedade. Na verdade, não se trata somente – apesar de ser imprescindível – da aplicação de políticas públicas que melhorem as condições de vida das classes desvaforecidas, mas principalmente de disputar hegemonia, nos inserir nos movimentos sociais e organizar as classes trabalhadoras para as lutas, que hoje se expressam em quatro terrenos centrais:

Democratização da mídia: legalização e apoio às rádios comunitárias, criação de um canal de TV estatal e combate aos monopólios;

Integração latino-americana: reforço econômico e político ao Mercosul, negação em bloco aos acordos de livre comércio, apoio aos governos progressistas na região e oposição à intervenção política e bélica dos EUA na América Latina e demais continentes;

Mudanças na política econômica: redução dos juros e do superávit primário, combate ao capital financeiro e mais investimentos sociais;

Políticas estruturantes: reforma agrária, urbana e sanitária, valorização da educação pública, aumento real do salário mínimo e geração de empregos.

Somado a isso, diante dos militantes socialistas, sejam partidários e/ou dos movimentos sociais, está o desafio de trabalhar, dentro e fora da institucionalidade, para enterrar a possibilidade do capital se reorganizar e sobrepor este período de crise neoliberal: quesito fundamental para abrir alas ao socialismo.

Os próximos anos serão marcados por intensa disputa pelos rumos do governo. Não podemos titubear, nem esperar por milagres. Nesta queda de braço não há espaço para concessões. Os de lá já querem impor sua agenda. Precisamos fazer valer o programa que vem sendo construído pelos setores democráticos e populares. Não há muros para subir. A nossa derrota é a vitória dos conservadores e reacionários, da mídia burguesa e da imprensa dos jornalões, do latifúndio e dos coronéis, das privatizações e dos leilões, dos ACM e dos Sarney.

*Artigo enviado em 22 de janeiro de 2007

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