Seis notas sobre as eleições
1. O segundo turno está cumprindo um papel muito importante no processo da consolidação democrática do país. A população fará a sua escolha conhecendo dois projetos claramente diferenciados. Será uma escolha feita com a consciência de que as concepções sobre a construção da Nação democrática devem passar por um duro debate eleitoral.
2. Por este motivo, a população tem percebido – com “estranha inteligência” ou “bossalidade”, como dizem algumas vozes da grande mídia – o importante nexo entre as realizações do passado, os compromissos do presente e o que efetivamente cada candidato poderá construir (ou desconstruir) para o futuro do país.
3. O candidato Alckmin, mesmo na condição de opositor, encontra-se na defensiva política e em declínio. Desde o início desse segundo período eleitoral não consegue explicar basicamente estes pontos:
– Como uma organização criminosa sem precedentes na história do país, e sem qualquer paralelo nas demais regiões, prosperou no Estado mais rico da federação durante os 12 anos de Governo tucano?
– Como explicar a omissão completa do governo tucano relativa às máfias dos Sanguessugas e dos Vampiros?
– Como justificar as privatizações selvagens e obscuras, ocorridas tanto em nível nacional como em nível estadual?
– Como defender um projeto que sustenta aumentar investimentos e programas sociais (realizações do Governo Lula), mas que propõe cortes de R$ 60 bilhões num orçamento de R$ 55 bilhões de investimentos (entre União e empresas estatais);
4. O Presidente Lula, ao apresentar as realizações de seu governo e compará-las com as realizações tucanas, partiu para a ofensiva com clara ascensão eleitoral, em razão dos seguintes pontos:
– Barrou as privatizações e não aceita que o Estado seja um condomínio dos interesses do mercado;
– Ao admitir os erros no seu Governo, mostra o seu caráter republicano, comprovado pela sua efetiva atuação contra a corrupção sistêmica (esta, não combatida durante o Governo tucano);
– A opinião pública popular não mais se forma exclusivamente a partir dos conceitos emitidos pelos meios de comunicação tradicionais. A popularização da internet joga, hoje, um papel importante na emissão de opiniões e na troca de informações.
5. Dois temas são apresentados pela grande imprensa como grandes novidades e conseqüências das ações do Governo Lula:
– A divisão do país em classes sociais, que é uma obviedade estrutural da história brasileira, está combinada com uma brutal desigualdade de renda. O projeto político capaz de reduzir essa divisão é aquele que proponha políticas sociais fortes e uma distribuição justa da renda nacional, num ambiente de diálogo democrático; a alegação de que “Lula está dividindo o país” sonega o fato de que esta divisão está aparecendo porque está sendo combatida;
– Os tucanos estão questionando o ambiente de radicalização política, como se não tivessem qualquer responsabilidade por ele, depois de 14 meses de ataques frontais ao PT, como comunidade política, promovendo uma inculpação generalizada.
6. A proposta de um “terceiro turno”, defendido por setores autoritários, é a face exposta de um projeto político que não se sente à vontade com a presença de todos os atores sociais na cena democrática. A sociedade está a lhes dizer que é bom que se acostumem.
*Tarso Genro é ministro das Relações Institucionais