Campanha de vacinação contra a raiva, por Valter Pomar
A pesquisa Datafolha, divulgada no dia 17 de outubro, mostrou Lula com vinte pontos de vantagem sobre Alckmin entre os votos válidos.
Carlos Montenegro, do Ibope, que divulga pesquisa dia 20 de outubro, disse que só um fato “muito espetacular” poderá arrancar a faixa de presidente da República do peito de Lula.
Moral da história: nos próximos dias, a direita vai tentar criar algum “fato” e vai divulgá-lo de maneira “muito espetacular”.
Um bom exemplo do que está sendo armado é descrito num correio eletrônico apócrifo, que vem sendo distribuído pela Internet por apoiadores da candidatura Alckmin.
Este correio eletrônico, intitulado “Vem chumbo grosso na edição 1979”, afirma entre outras coisas o seguinte:
“Após tomarem conhecimento do conteúdo da revista que está em banca, e temendo o conteúdo da edição nº1979, a corja entrou em pânico.
Ocorre que Veja já tem a edição fatal nº 1979, absolutamente pronta, com todo o percurso dos dólares dos Estados Unidos para cá.
Junto com as investigações do dossiê Vendoin, surgiram vários outros documentos a respeito de toda a bandalheira que tomouconta do governo.
É edição para tornar desnecessárias as eleições no segundo turno.”
A frase final é fantástica, pois revela a concepção de democracia que vigora na direita brasileira: “é edição para tornar desnecessárias as eleições no segundo turno”.
Ou seja: tem gente neste país que acha que uma eleição presidencial pode ser decidida pelos donos dos grandes meios de comunicação, mancomunados com políticos de direita e as empresas que financiam suas campanhas.
Frente a estes gabinetes, o voto do povo seria “desnecessário”.
Outro exemplo do que está sendo armado é a declaração dada por Geraldo Alckmin, em atividade promovida pela OAB de Brasília, segundo a qual, se Lula for reeleito, o governo “acaba antes de começar”.
A tradução mais perfeita deste comentário está num texto do direitoso Reinaldo Azevedo, ex-editor da ex-revista tucana Primeira Leitura.
Tal texto, intitulado “As leis ou as urnas?”, afirma o seguinte:
“(…) estou apostando que boa parte do banditismo que diz respeito ao dossiê vem à luz antes do que se imagina.
E, então, é possível que o país eleja um presidente com a cabeça na guilhotina. Até porque, convenha-se, se Lula se reelege com 60% dos votos válidos, vai entender que as urnas estão perdoando o seu governo de todas as lambanças. (…) Não se estará elegendo um presidente, mas uma crise. (…)
Lula nos conduziu a um aparente paradoxo: ou triunfam as urnas ou as leis. E por que ele é apenas aparente? Porque as leis e as urnas só estão em oposição quando há gente disposta a usar as urnas para assaltar as leis.”
Vamos repetir: “ou triunfam as urnas ou as leis”. Portanto, um pedaço da direita já decidiu que, caso perca a eleição, não vai aceitar a legitimidade e a legalidade do resultado.
A armação está clara. Contra ela, recomendamos a vacinação.
Primeiro, nos vacinar contra a euforia das pesquisas. Eleição não se ganha de véspera.
Segundo, contra as mentiras dos meios de comunicação. Vem mentira por aí.
Terceiro, contra a raiva da direita brasileira. No Brasil, a direita que ladra também morde.
É claro que alguns mordem a própria língua. É o caso de FHC, que revelou: “Não sou contra a privatização da Petrobras”. Para depois inventar que faltou uma vírgula na sua frase, que deveria ser assim: “Não, sou contra a privatização da Petrobras”!!!
Outros mordem de verdade. Como se viu no Leblon.
Seja como for, a eleição não está ganha, a direita vai jogar ainda mais pesado nos próximos dias e uma parte dela contesta desde já o resultado das urnas.
Frente a isso, devidamente vacinados, o essencial é a mobilização total, todos os dias e todas as horas, daqui até o fechamento da última urna. E depois, até a apuração. E depois, até a posse. E assim por diante.
Vacinação e mobilização, os males do Brasil derrotarão.
*Valter Pomar é Secretário de Relações Internacionais do PT