Recebemos a notícia da morte de D. Luciano Mendes. Os brasileiros que resistiram ao regime militar, e se identificaram com as lutas dos povos indígenas e dos trabalhadores do campo, com as lutas da gente pobre das periferias da Zona Sul de São Paulo tiveram neste homem um companheiro. Trazia consigo, permanentemente, a coragem da serenidade nos momentos de grande tensão.

Exprimiu com humildade e firmeza os compromissos da Igreja Católica – talvez no momento mais fecundo de suas relações com o povo pobre do Brasil, em quinhentos anos de História – como secretário geral e depois, como presidente da CNBB. Não foi um hierarca que observava à distância os processos conflitivos de uma sociedade em transe, naqueles momentos em que o regime militar já não obtinha legitimidade para exercer a mesma repressão dos anos anteriores, nem o movimento democrático conseguira força suficiente para enfrentá-lo e oferecer uma nova alternativa ao país. Mais do que expectador, foi participante do processo de democratização em todas as suas dimensões políticas, sociais e éticas, enfrentando os riscos de quem desafia adversários ainda poderosos.

A disciplina jesuítica foi posta a serviço, com uma rara sensibilidade aos dramas dos mais fracos, da gente da periferia, das populações indígenas, dos trabalhadores rurais, das crianças sem proteção numa sociedade fraturada e feroz. A sociedade brasileira perde uma referência de vida identificada com a construção dos valores da democracia e da justiça social, amparada numa sólida formação humanista.

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