Ricardo Barros culpa mães que trabalham por obesidade infantil
Após o fiasco da fala de Temer no dia 8 de março sobre as mulheres, naturalizando a limitação da mulher ao âmbito doméstico e afirmando que nossa contribuição à economia se restringia a notar desajustes nos preços do supermercado, o ministro da Saúde não ficou atrás: no dia 16 de março, Ricardo Barros afirmou que a obesidade infantil decorre do fato de que as crianças não têm oportunidade “de aprender a descascar alimentos” com suas mães. Disse, ainda, que hoje “as mães não ficam em casa, e as crianças não têm oportunidade, como tinham antigamente, de acompanhar a mãe nas tarefas diárias de preparação dos alimentos”. Assim como Temer, Barros interpreta que o cuidado com a casa e com os filhos é responsabilidade exclusivamente materna e culpa as mães que ousam trabalhar fora de casa.
Hoje, além de trabalhar fora de casa com o trabalho remunerado, as mulheres realizam o trabalho doméstico (cuidado com a casa, com os filhos ou parentes dependentes), o que se constitui como “dupla jornada”. O tempo gasto com trabalho doméstico é dividido no âmbito familiar com grande peso para o gênero, sendo que as mulheres brasileiras gastam o dobro de horas por semana que os homens com trabalho doméstico.
Mas é desejo das mulheres ter um trabalho remunerado: recente pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que 70% das mulheres no mundo preferem que as mulheres tenham um trabalho remunerado e 66% dos homens no mundo também preferem que as mulheres tenham um trabalho remunerado. O ministro, no entanto, nos culpa por essa preferência.
Ao apontar que a obesidade infantil é culpa das mães que trabalham fora, o ministro não só mostra uma incompreensão sobre o problema, como contribui para pressionar ainda mais as mulheres que se desdobram em dupla jornada e retira a responsabilidade dos homens/pais no cuidado dos filhos e da casa. |