Ano 2 – nº 11 – Janeiro/Fevereiro 2017

Governo Trump e a imigração para os EUA

O novo presidente dos EUA, Donald Trump, ao contrário do que alguns duvidavam, começou a implementar seu programa eleitoral assim que tomou posse por meio de decretos presidenciais, o mais contundente deles no tocante à imigração e refugiados. Esta proposta se desdobraria em duas medidas: a construção de um muro em toda a extensão da fronteira com o México, pois uma parte já existe, e a proibição do ingresso de muçulmanos nos Estados Unidos.

Em relação ao último, emitiu um decreto proibindo o ingresso de nacionais de sete países de maioria muçulmana: Iraque, Síria, Irã, Iêmen, Líbia, Sudão e Somália. Curiosamente, para os países onde existem unidades da cadeia de hotéis de Trump como Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita, que inclusive apoiam grupos armados islâmicos, o decreto não vale.

A Justiça dos EUA barrou liminarmente os efeitos do decreto, e vários grupos civis organizados se mobilizaram contra as medidas, pressionando nos aeroportos. As escolas públicas de Nova Iorque se colocaram à disposição para abrigar refugiados. Mesmo com a continuidade do impasse jurídico, o governo endureceu as regras já existentes para emitir vistos e inquirir os visitantes na chegada aos Estados Unidos, fazendo com que muitos já tenham sido deportados.

Embora haja oposição às medidas de Trump nos EUA, também há muito apoio, a começar pelos que o elegeram. Porém, recente pesquisa realizada em dez países europeus mostrou que, em média, 55% de sua população consideraram corretas as suas medidas contra imigrantes e refugiados. Mais um sinal do crescimento do conservadorismo, individualismo e xenofobia no mundo. Não é de se admirar que a extrema direita esteja saindo do armário também no Brasil, conforme assistimos desde 2013, pelo menos.

A construção do muro ainda não se iniciou, mas Trump insiste que vai construí-lo e mandar a conta para o México. Lamentavelmente, o governo golpista no Brasil não manifestou oposição contundente em relação a isso, confirmando sua política subserviente e entreguista.

Os candidatos a presidente se alinham para a disputa na França

Atualmente, está claro o quadro da disputa das eleições presidenciais francesas que têm seu primeiro turno em 27 de abril e o segundo em 7 de maio. Este, hoje, favorece a direita.

Os candidatos são, pelo centro e direita, Jacques Cheminade (Solidariedade e Progresso), François Filon (LR – Republicanos), Nicolas Dupont-Aignar (Levantar a República), François Bayrou (MoDem – Democratas) e Marine Le Pen (Frente Nacional). Pelas diversas modalidades de esquerda, temos Benoit Hamon (Partido Socialista), Jean-Luc Mélenchon (Partido da Esquerda), Yannick Jadot (Verdes), Nathalie Arthaud (Luta Operária), Philippe Poutou (Novo Partido Anticapitalista) e Emmanuel Macron (Independente).

Previamente à definição das candidaturas, houve uma série de movimentos com disputas em vários partidos, normalmente, por meio de prévia, como a que definiu a candidatura de François Filon, de direita, pelos Republicanos ao derrotar Alain Juppé e Nicolas Sarkozy. Por sua vez, François Bayrou, dos democratas e centro-direita, havia prometido aliar-se aos republicanos se Juppé fosse o candidato, mas como não foi ele o escolhido, também se candidatou.

No campo da esquerda, a situação foi mais complexa. Houve uma tentativa inicial de compor uma “Frente de Esquerda”, na qual os socialistas, na prática, tentaram trazer os apoios dos demais partidos para um candidato deles. Como não deixaram claro quem seria este candidato e que poderia inclusive ser François Hollande, o atual e extremamente impopular presidente, ou o conservador primeiro-ministro, Manuel Valls, outros, como os “verdes” e o “Parti de la Gauche”, este em coalizão com o Partido Comunista Francês (PCF), decidiram lançar seus próprios candidatos, respectivamente, Jadot e Mélenchon.

Posteriormente, Hollande anunciou que não concorreria, o PS realizou sua prévia e a militância resolveu escolher alguém de perfil mais identificado com os ideais do partido do que Valls. O vitorioso foi Benoit Hamon, que tinha sido ministro da educação de Hollande, mas que deixou o governo por discordar de seus rumos conservadores e neoliberais.

Uma das várias pesquisas eleitorais realizadas ao final de janeiro aponta o seguinte quadro entre os candidatos de maior preferência:

– Marine Le Pen com 25%, Filon com 21%, Macron com 20%, Hamon com 13%, Mélenchon com 10% e Bayrou com 5%. Os demais ficaram entre 1% e 2%.

Hoje a soma de todos os candidatos da direita é de 54%, os da esquerda somam 26% e Macron, que é um economista e banqueiro, como candidato independente, obtém 20%. Ele chegou a trabalhar no governo Hollande e, apesar de se declarar liberal na economia, tem posições favoráveis aos imigrantes e refugiados.

Embora faltem dois meses para a eleição, certamente haverá segundo turno. Analisando o quadro hoje, a dúvida é sobre quem o disputará com Marine Le Pen, se Filon ou Macron. Para os socialistas, depois do governo desastroso de Hollande, parece difícil chegar ao segundo turno, e o ambiente político na Europa não tem sido muito favorável a candidaturas mais à esquerda como a de Mélenchon.

No entanto, pode se repetir algo semelhante a 2002, quando o republicano Jacques Chirac disputava a reeleição para presidente e teve como adversários principais Jean Marie Le Pen, pai de Marine Le Pen, pelo Partido Nacional, e Lionel Jospin, pelo Partido Socialista. O segundo turno acabou se realizando entre Le Pen e Chirac e este venceu com larga margem graças ao apoio do centro e de grande parte da esquerda, pois a campanha adquiriu um viés antifascista.

No entanto, embora de direita, Chirac era oriundo do Gaullismo tradicional e nacionalista no tocante às relações externas da França. Filon é conservador e neoliberal e se for ao segundo turno terá muita dificuldade em ampliar sua votação pela esquerda. Enfim, nunca a extrema direita esteve tão próxima de governar a França e, se ocorrer, tendo Trump do outro lado do Oceano Atlântico, o “Brexit” do outro lado do Canal da Mancha e outras eleições como Alemanha e Holanda no próprio continente europeu, isso aponta para profundas transformações na Europa e no mundo.

Temer recebe visita oficial de Macri

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, esteve em visita oficial ao Brasil no dia 7 de fevereiro com direito a pompas e circunstâncias, como passar a tropa em revista e subir a rampa do Palácio do Planalto.

Oficialmente, a agenda era a assinatura de alguns acordos na área comercial e de segurança de fronteiras.

No entanto, os verdadeiros debates, cujas conclusões não são conhecidas, eram por um lado, o interesse de Temer em fortalecer seus contatos internacionais. Macri havia sido um dos primeiros governantes a reconhecê-lo como presidente do Brasil, ainda no momento em que a presidenta Dilma havia tido seu mandato suspenso pelo Senado. E, por outro lado, havia o interesse do mandatário argentino de reduzir o déficit comercial de seu país com o Brasil.

O comércio bilateral entre Brasil e Argentina cresceu de US$ 7 bilhões, aproximadamente, em 2002, até algo em torno de US$ 28 bilhões, em 2013, tendo se reduzido atualmente para cerca de US$ 25 bilhões. O problema argentino é que hoje o país depende do Brasil para 40% de suas exportações e a relação comercial bilateral lhe é deficitária. Como o carro-chefe do comércio bilateral é o setor automotivo, o interesse de Macri é renegociá-lo em termos mais favoráveis. A resposta brasileira é de contrapor com a eliminação de “entraves comerciais”, como a redução do tempo para a emissão de licenças de exportação não-automáticas e eliminação de barreiras fitossanitárias, bem como retomar a discussão sobre o comércio de açúcar que, na formação do Mercosul, por exigência argentina, ficou fora da tarifa externa comum.

Embora nenhum dos dois países tenham condenado enfaticamente a iniciativa de Trump de construir o muro na fronteira com o México, deram acenos que poderiam ampliar as relações comerciais com este país e com a Aliança do Pacífico como um todo.

A situação da Venezuela também esteve na agenda, embora nas declarações oficiais após a reunião apenas constassem as “preocupações” em relação aos acontecimentos no país que os dois, Macri e Temer, conseguiram suspender do Mercosul. Outra discussão foi a segurança nas fronteiras, provavelmente para atender as propostas anti-imigração, uma das políticas atuais de Macri.

Ou seja, pouco se pode esperar de concreto destas discussões, pois há importantes disputas de interesse na área econômica e só o que une Macri e Temer é sua ideologia conservadora e neoliberal.

Serra recebe presidente da Assembleia Nacional da Venezuela

No dia 8 de fevereiro, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Julio Borges, esteve no Brasil e foi recebido pelo chanceler usurpador, José Serra, pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e pelo presidente do Senado, Eunício de Oliveira, como se fosse representante do Estado venezuelano.

A chanceler venezuelana, Delcy Rodriguez, ao comentar esta usurpação de funções do deputado Julio Borges e o equívoco de Serra ao recebê-lo sem que fosse por intermédio dos canais diplomáticos normais, não deixou de lembrar as acusações que pesam sobre ele de envolvimento com propinas de empresas. No caso de Serra, está claro já há algum tempo suas preferências pelos partidos de direita na América Latina e ele é um dos que têm dado muito respaldo à oposição golpista na Venezuela. No ano passado, também expressou sua solidariedade a integrantes da oposição venezuelana ao receber Lilian Tintori, esposa de Leopoldo Lopez, que cumpre pena por atentados e outros crimes, e o deputado da oposição, Luis Florido.

Temer também jogou água neste moinho ao enviar uma carta ao presidente da Assembleia Nacional, comentando que o governo de Nicolás Maduro havia recusado uma doação de remédios oferecida pelo governo brasileiro a título de “ajuda humanitária”.

O deputado Rodrigo Maia, ao receber seu colega, lhe prometeu que organizaria uma reunião parlamentar regional para enfrentar o “autoritarismo” do presidente, Nicolás Maduro.

Está evidente que o governo golpista do Brasil está interferindo diretamente na soberania de um país vizinho ao promover estas visitas e prestigiar desta maneira a oposição venezuelana.

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