Ano 1 – nº 09 – Novembro 2016

Nível de atividade

A recuperação econômica prevista para o terceiro trimestre do ano não se concretizou, segundo dados do Banco Central do Brasil (BCB). O IBC-Br, indicador que serve como uma espécie de prévia do PIB calculado pelo BCB, apresentou retração de 0,78% no acumulado do terceiro trimestre de 2016, apesar de esboçar um leve crescimento de 0,15% em setembro. Esse pequeno crescimento de setembro, no entanto, foi eclipsado pela revisão do dado de agosto, que passou de -0,91% para -1,01%. Com estes resultados, o IBC-Br já acumula queda de 4,83% no ano e 5,23% no acumulado de doze meses, indicando que a recuperação econômica apontada por alguns analistas de mercado ainda está longe de se tornar uma realidade.

Para agravar a situação, os indicadores de confiança da indústria e do comércio passaram a dar sinais de reversão, após meses de descolamento da melhoria das expectativas com uma situação atual dos negócios bastante debilitada. O aumento de incertezas no front externo, com a eleição de Donald Trump, também pode colaborar para a maior lentidão na recuperação dos investimentos, uma vez que a aversão ao risco dos investidores internacionais deve se elevar. Com estas conjunturas interna e externa desfavoráveis, a estabilização do nível de atividade deve ocorrer apenas em 2017, com um nível baixo de emprego e renda, além de grande capacidade ociosa nas empresas produtivas. A contenção dos gastos públicos, através da PEC e outros mecanismos, retira do Estado a capacidade de atuar de maneira anticíclica, deixando o país totalmente dependente das decisões e estratégias de investimento do capital privado internacional, sem condições de elaborar uma estratégia autônoma de desenvolvimento e/ou reversão da crise atual.

Comércio Exterior

Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, outubro registrou um saldo comercial positivo de US$ 2,346 bilhões na balança comercial. Tal valor é resultante de exportações de US$ 13,72 bilhões, menos importações de US$ 11,37 bilhões. Cabe destacar que o saldo comercial de outubro é 17,5% maior que o registrado no mesmo mês de 2015. Em outubro de 2015, o superávit foi de US$ 1,996 bilhão. No acumulado do mês, as exportações somaram US$ 13,721 bilhões e as importações, US$ 11,375 bilhões.

Gráfico 1 – Balança Comercial

Boletim de Análise de Conjuntura 9 - Economia

Fonte: MDIC

É importante qualificar o que está por trás de tal resultado. De janeiro até outubro ocorreu aumento das exportações de produtos semimanufaturados (3,5%), no entanto houve expressiva queda nas vendas externas de produtos básicos (-10%), bem como de produtos manufaturados (-1,6%). Pelo lado das importações, a retração de bens de consumo foi de 23,5%. Quedas significativas se deram também em bens intermediários (18,7%), e de bens de capital (21,9%).

Assim, o que está por trás do saldo positivo na balança comercial é a crise na economia brasileira. A melhora não tem sido advinda de um processo de substituição se importações, tampouco de um dinamismo das exportações. As importações estão se deteriorando como fruto do total colapso da indústria nacional. Além disso, a forte crise, que vem provocando aumento do desemprego e queda na renda das famílias, solapou a demanda por produtos e serviços importados. Assim, a dificuldade de as exportações em ganhar mercados e a queda nas importações foi a maior responsável pelo superávit da balança comercial brasileira.

Política Monetária e Inflação

Segundo o IBGE, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o mês de setembro apresentou uma aceleração de 0,08% para 0,26% em outubro. Tal resultado veio em linha com a expectativa dos economistas e foi a menor taxa para o mês desde 2000, quando apresentou alta de 0,14%. O índice acumula alta de 5,78% no ano, frente a 8,48% no mesmo período de 2015. No acumulado em doze meses, houve desaceleração de 8,48% para 7,87%.

Gráfico 2 – IPCA Mensal (Variação Percentual)

Boletim de Análise de Conjuntura 9 - Economia

Fonte: IBGE

A análise dos dados revela que o grupo que mais puxou a inflação foi o relativo a transportes. Em outubro houve um aumento de 0,75% neste grupo, perante um de 0,10% no mês anterior. Cabe ressaltar que a despeito da redução no valor do combustível autorizado pela Petrobras, esta não foi repassada ao consumidor e na realidade resultou em um aumento na gasolina (de -0,40% para +1,22%) e no etanol (de 0,83% para 6,09%). Ademais, no dia 8/11 a Petrobras anunciou o corte no preço do diesel nas refinarias em 10,4% e o da gasolina em 3,1%. Resta saber se ocorrerá o repasse ao consumidor desta vez. Caso ocorra, deve haver um efeito expressivo na inflação do mês seguinte, com redução de 6,6% no preço do diesel na bomba (-R$ 0,20 por litro) e de 1,3% da gasolina (-R$ 0,05 por litro).

Por último, mas não menos importante, outro fator preponderante no aumento da inflação no grupo de transporte foi o preço das passagens aéreas, que apresentou alta acima de 10%.

O grupo de alimentos e bebidas continua em deflação, mas passou de -0,29% em setembro para -0,05% em outubro. O leite longa vida teve forte influência devido à expressiva queda de preços de 10,68%. Em uma tendência oposta, carnes tiveram um aumento dos preços de 2,64%. Outros grupos também tiveram uma desaceleração da inflação, a saber, os relativos especialmente a despesas pessoais (de 0,10% para 0,01%) e educação (de 0,18% para 0,02%). Em contrapartida, ocorreu aumento dos preços de vestuário (de 0,43% para 0,45%) e saúde e cuidados pessoais (de 0,33% para 0,43%). A alta nos preços administrados passou de 0,37% para 0,54%, o que se explica pelo comportamento dos preços de combustíveis descrito anteriormente. No que se refere aos preços dos livres, este passou de estável para uma alta de 0,17%.

Tabela 1 – Resultados dos grupos de produtos e serviços pesquisados

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Fonte: IBGE

Neste ambiente, dentro de uma diretriz de política monetária extremamente ortodoxa, é esperado que na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de novembro continue muito contencioso quanto à redução dos juros. Até lá, também serão conhecidos o IPCA-15 de novembro (23/11). A redução dos juros tende a ser novamente muito tímida, provavelmente cerca de 0,25%. Com uma economia que se encontra em forte recessão, um maior dinamismo advindo da redução dos juros teria de vir de um corte muito mais expressivo. No curto prazo, apenas isso poderia estimular a retomada da economia, o processo de recuperação da renda e do emprego.

Indústria

Dados divulgados pelo IBGE sobre a produção industrial mostram que a desaceleração econômica ainda é forte no Brasil. Embora tenha ocorrido uma alta de 0,5% da produção industrial, esta é muito tímida frente a uma queda expressiva de 3,5% em agosto. Ademais, a grande maioria dos setores industriais apresentou queda.

Na comparação de setembro do presente ano com o mesmo mês no ano anterior, o total da indústria mostrou queda de 4,8%. Em uma ótica para o acumulado dos nove meses de 2016 a variação foi de -7,8%. Considerando os últimos doze meses o recuo até setembro chega a 8,8%.

Gráfico 3 – Produção Industrial

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Fonte: IBGE

Os dados mostram que a expansão da produção se cristalizou em somente nove dos 28 setores pesquisados pelo IBGE. Destes, destacam-se as indústrias alimentícia (6,4%) e automobilística (4,8%), que compensaram apenas parcialmente a expressiva queda que tiveram no mês anterior. Entre os setores em queda, os desempenhos de maior relevância vieram de: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,2%), produtos de minerais não-metálicos (-5,0%), e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,7%).

Conclusão

A preocupação com a retomada da economia está se tornando latente entre os economistas, que estão revisando as projeções de crescimento para baixo tanto em relação a este ano quanto ao ano que vem. O relatório Focus divulgado pelo Banco Central do Brasil (BCB) coaduna com esta percepção. A dificuldade de recuperação da demanda tem solapado as expectativas de investimento e consequentemente sobrepujado a retomada do emprego e da renda. No cerne da crise se configura a gestão equivocada do BCB sobre o câmbio e os juros. Sem uma taxa de câmbio competitiva e menos volátil, assim como uma taxa de juros condizente com a realidade econômica do país, a volta do crescimento continuará sendo paulatinamente prejudicada.

Neste cenário, a aprovação da PEC 55 apenas agrava as dificuldades de recuperação do crescimento, ao impedir a ampliação do investimento público por um período prolongado. Com câmbio pouco competitivo, juros estratosféricos, Estado contracionista e crise política/institucional, a esperança no crescimento econômico produzido pelo investidor internacional parece uma miragem no deserto, que faz sentido apenas para aqueles que têm enorme fé no livre mercado.