Redes Sociais e eleições municipais
As eleições municipais deste ano foram marcadas por um contexto atípico na política brasileira. Em um momento de extrema instabilidade política, as campanhas iniciaram com a ex-presidenta Dilma Rousseff afastada provisoriamente do cargo e terminaram com o vice-presidente Michel Temer empossado.
O clima de instabilidade também foi observado nas redes sociais online de todo o Brasil. A campanha eleitoral teve início nas redes em meio aos embates acerca do impeachment. No entanto, não é exagero afirmar que o tema da eleição tenha sido “engolido” pelos debates nacionais em um primeiro momento. Para avaliar o impacto que essa instabilidade política teve nas redes sociais online, monitoramos as menções, por amostragem, às candidaturas petistas e às #Eleições2016 em todo o Brasil por meio do Twitter.
Passado o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, é possível observar uma queda na defesa promovida por seus apoiadores nas redes sociais online. Tal queda, no entanto, não foi acompanhada de um aumento da participação deles em pautas municipais. O que se observa, na realidade, é um vácuo entre uma pauta e outra.
O pico de menções às candidaturas petistas nas redes sociais online só foi observado na véspera e no dia do primeiro turno das eleições (1 e 02/10). Assim, é possível afirmar que a militância petista nas redes sociais online se fez presente na reta final e saiu em defesa das candidaturas petistas. Tal movimento, no entanto, arrefeceu após as eleições, como se a comoção entorno das candidaturas petistas desse lugar a uma “ressaca” nas redes sociais online. O volume de menções negativas no período posterior ao primeiro turno foi muito grande, reflexo de notícias que abordaram, entre outros temas, o desempenho das candidaturas petistas e a diminuição do número de prefeituras sob o controle do PT em todo o Brasil.
Eleições municipais na grande imprensa
Editorial da Folha de São Paulo (3/10) cujo título é “Oportunidade perdida” critica um dos principais argumentos da campanha de João Doria Jr. apontado como determinante para sua eleição no primeiro turno. “Nenhuma proposta ou lema do candidato foi tão repetida quanto a que associava sua imagem a um gestor, e não a um político. Embora Doria de fato nunca tenha concorrido a algum posto eletivo, há algo de duplamente enganoso nisso. Em primeiro lugar, nenhum prefeito, governador ou presidente será simplesmente um técnico, um administrador ou um executivo. Por mais desejável que seja o compromisso com a eficiência e a economia de recursos, decisões políticas e orientações ideológicas são inerentes à gestão da coisa pública.” E conclui que “há que se lamentar a não ocorrência do segundo turno — Doria alcançou 53% dos votos válidos. Teria sido possível um debate autenticamente político sobre a cidade, para além dos impulsos do protesto, dos automatismos epidérmicos e dos encantamentos da propaganda.”
Na mesma linha vai o editorial do Valor Econômico publicado no dia 6/10, que menciona a demonstração de força do PSDB no primeiro turno em São Paulo, mas enfatiza que “a eleição de João Doria por um terço do eleitorado total da cidade exigirá mais das virtudes do político que rejeita que do gestor com as quais se vendeu na campanha”.
Já o jornal O Estado de S.Paulo tratou o resultado eleitoral em editorial intitulado “Depois do lulopetismo” (4/10), no qual endossa o argumento de que o resultado eleitoral teria sido um aval para o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. “A devastadora derrota em escala nacional do lulopetismo no pleito municipal constituiu mais um aval político ao impeachment de Dilma Rousseff – se isso ainda era necessário – e joga definitivamente por terra a teoria do “golpe” contra as instituições democráticas.” E cita os efeitos da Operação Lava Jato sobre o resultado: “Repercutiu também no pleito municipal o fato de a Operação Lava Jato estar chegando, depois de dois anos e meio de investigações, aos principais responsáveis pelo maior surto de corrupção no governo de que o país tem notícia. Cenário em que se anuncia o protagonismo de Luiz Inácio Lula da Silva em tenebrosas transações.”
Pré-sal
O Estadão e o Valor Econômico apoiaram em textos editoriais o fim da exclusividade da Petrobras na exploração do pré-sal. O Valor Econômico publicou em 7/10: “A aprovação do projeto de lei 4567, que exime a Petrobras da obrigação de ser a operadora única do pré-sal e de participar com no mínimo 30% dos consórcios vencedores das licitações, retira um peso considerável das costas da estatal, que luta para se livrar da maior dívida do mundo entre as empresas petrolíferas.”
Na mesma perspectiva, o Estadão afirma em seu editorial de 6/10 que “a aprovação da lei pelo Congresso traz racionalidade à atividade petrolífera no País, abre espaço para a indispensável participação do capital privado no setor e, do ponto de vista político, vai reduzir o ônus que a estatolatria dominante na era petista impôs à empresa e lhe custou a perda da eficiência e da capacidade de investir.”
Internacional
A grande imprensa estrangeira parece ter diminuído a atenção sobre a situação política brasileira, como se os jornais tivessem retomado a postura que tinham antes da prisão coercitiva de Lula, limitando-se a reportar os novos passos da Operação Lava Jato, sem realizar análises sobre o sentido das ações. Prova disso é a repercussão da acusação que o Ministério Público Federal apresentou contra o ex-presidente Lula. Nem todos os jornais deram voz à defesa de Lula e, os que o fizeram, não produziram análises aprofundadas sobre a questão. É o caso do alemão Süddeutsche Zeitung, que, em um artigo sobre a aceitação da denúncia pelo Sérgio Moro, apenas cita que as evidências contra Lula são pobres.
Outros jornais chegaram a publicar notícias apresentando trechos do discurso do ex-presidente, quando ele se defendeu das acusações do MPF. Caso do português Diário de Notícias, que destacou a frase “Provem uma corrupção minha que eu irei a pé para ser preso”, e do estadunidense New York Times, que, em um artigo sobre a aceitação da denúncia, afirma que há “um debate nacional sobre o fato de os promotores estarem ultrapassando os limites em seus esforços para apanhar o ex-presidente”. Na França, a repórter do Le Monde afirma em seu texto, “se as suspeitas se aproximam perigosamente da figura mais carismática do PT, as provas continuam a faltar”, e ela também diz que o emprego de palavras acusatórias por parte dos procuradores causou indignação. O jornal Libération diz que o futuro de Lula está nas mãos da justiça e que “os investigadores retomam, agora oficialmente por conta, as acusações da direita que permitiram destituir Dilma”.
Os passos seguintes da Operação Lava Jato – as prisões de Guido Mantega e Antonio Palocci – foram menos noticiadas. Apenas os jornais New York Times e Le Monde deram alguma atenção aos dois casos. O nova-iorquino publicou um texto da agência Reuters que inicia dizendo que “A prisão de Mantega atingiu mais o coração do PT”. Sobre o Palocci, o texto, que também é da agência Reuters, segue a mesma linha. O analista político da empresa de consultoria Hold Legislative Advisors, André Cesar, afirma que “esse é outro prego no caixão do Partido dos Trabalhadores”. Já o francês, só deu atenção à prisão de Guido Mantega e afirma na manchete que a detenção do ex-ministro fragiliza ainda mais a defesa de Dilma e Lula.
O processo sofrido por Lula e os seus desdobramentos provoca muito mais repercussão do que as ações do governo de Michel Temer. Apenas o New York Times publicou algo sobre o discurso de Michel Temer na ONU. A manchete “Novo presidente do Brasil defende o impeachment de Dilma Rousseff” introduz o conteúdo do discurso de Temer. Talvez o que mais chame atenção é a afirmação dele de que o impeachment de Dilma é “um exemplo para todo o mundo”. Esse trecho emblemático seria um recado? Afinal, quem Michel Temer representa? A reportagem ainda afirma que Temer apresenta uma visão diferente da de políticos considerados conservadores, como Donald Trump, para questões internacionais tais como a relação Israel/Palestina e Cuba/EUA. O repórter ouviu Guga Chacra, da Globonews, que é citado como um jornalista proeminente. Chacra diz: “Isso talvez choque parte da esquerda no Brasil, que considera Temer como sendo da extrema direita”. E continua: “Temer foi multicultural e globalista em seu discurso na ONU, como Obama.”
Já o jornal argentino Página 12 publicou um artigo sobre o novo programa assistencial lançado pelo governo Temer, o “Criança Feliz”. Na visão do periódico, Temer tenta usar a primeira-dama e o programa apresentado por ela para tentar melhorar a sua própria imagem.
Enquanto as ações de Michel Temer receberam pouco destaque, o processo das eleições municipais teve uma extensa cobertura dos jornais internacionais. A primeira questão levantada foi a ascensão política de homens ricos, capazes de financiar suas próprias campanhas, e dos movimentos evangélicos, que se mostraram muito eficientes em realizar doações eleitorais organizadas, com os pastores indicando aos fiéis para quem doar. Abordaram o tema, o espanhol El Mundo, o New York Times, o Diário de Notícias de Portugal e o Le Monde. Depois, chamou a atenção da mídia internacional, os assassinatos de candidatos em várias partes do Brasil e a suspeita sobre uma crescente participação do crime organizado na política. O Diário de Notícias publicou: “A candidata que é filha do maior criminoso do Brasil”, referindo-se à filha de Fernandinho Beira-Mar, que foi candidata a vereadora.
Os veículos internacionais publicaram que há um grande descontentamento dos brasileiros com a política. O alto número de votos nulos, brancos e de abstenções e justificativas foi o que baseou essa conclusão. O próprio Michel Temer afirma isso em uma publicação do New York Times. Por outro lado, todos trataram as eleições municipais como uma disputa de forças que vai afetar diretamente o processo eleitoral de 2018. Quase todos citaram o fortalecimento de Alckmin em função da eleição de João Dória. Resultado que foi muito abordado pelos jornais estrangeiros para reportar a grande derrota que o PT sofreu nas urnas. O Le Monde apresentou a seguinte manchete, “O naufrágio do PT nas eleições municipais”. O argentino Página 12 afirmou que Lula reconheceu a derrota do PT dizendo que os resultados são parte da beleza da democracia.
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