Cada brasileiro consome em média cinco litros e meio de agrotóxicos por ano, o que coloca o país na posição de campeão mundial

A sétima sessão do ciclo de debates Uma Agenda Democrática para o Brasil Rural, realizada em 26 de setembro pelas fundações Perseu Abramo (FPA) e Friedrich Ebert (FES), teve como tema Agricultura familiar, agroecologia e alimentação saudável. Participaram como debatedores Denis Monteiro, da Associação Nacional da Água, Rogério Neuwald, da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, e Mariana Garcia, do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).

Durante a sessão, foram mencionados fatores que atrasam a adoção de uma alimentação saudável e sustentável pela grande maioria da população, como o fato de o Brasil ser campeão mundial do uso de agrotóxicos desde 2008, a liberação de sementes transgênicas ocorrida no país e a dificuldade de avançar na reforma agrária. “No Brasil, cada pessoa consome em média cinco litros e meio de agrotóxicos por ano, inclusive catorze tipos já proibidos em vários países do mundo”, afirmou mariana Garcia.

Para Denis Monteiro, há uma consciência crescente em amplos setores da sociedade de que alimentação saudável é sinônimo de agricultura familiar, de produção agroecológica, sem agrotóxicos e transgênicos, e de diversidade. Isso pode ser observado pelo crescimento dos mercados e das feiras onde são vendidos esses produtos.

“No campo das políticas públicas e da agenda do Estado brasileiro, em que pese modelo de produção baseado no agronegócio, uso de agrotóxicos e sementes transgênicas, também assistimos a um conjunto de políticas públicas direcionadas à agricultura familiar e às comunidades tradicionais que garantiram direitos negados historicamente a essas populações. São políticas que garantiram o direito à alimentação saudável e estimularam as famílias a permanecer no meio rural”, afirmou.

Rogério Neuwald citou dados que mostram os avanços da agroecologia no mundo. Segundo ele, devemos enxergar esse modelo como uma tendência mundial crescente e a proteção da biodiversidade como um tema cada vez mais relevante para a sociedade. “Nos Estados Unidos, o mercado de orgânicos movimentou 27 bilhões de dólares em 2013 e passou a movimentar 43 bilhões em 2015. A França lançou em 2013 toda a sua política agrícola baseada na agroecologia e estabeleceu uma meta de reduzir o consumo de agrotóxicos em 25% até 2020 e em 50% até 2025. A Dinamarca pretende dobrar a produção de orgânicos até 2020”, destacou.

Para a representante do Idec, o modelo agroalimentar baseado em concentração fundiária, monocultura em grande escala altamente tecnificada e amplo uso de agrotóxicos é insustentável e repercute na saúde da população, além de causar fortes impactos ambientais. Ela mencionou a pressão das empresas como fator determinante para manutenção do modelo. “Apenas seis empresas controlam 75% das vendas globais de sementes e pesticidas no mundo. Já a indústria de alimentos é controladas por 10 transnacionais”, disse.

Veja a galeria de fotos. O debate foi transmitido ao vivo pela tevêFPA e pode ser assistido na íntegra aqui.